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Destaques - Seleção Brasileira - 12 de maio de 2020

O bi olímpico do Brasil, oito anos depois

Confira o texto de Daniel Bortoletto sobre a conquista em Londres-2012


Parecia improvável antes de a Olimpíada começar. Parecia impossível depois de a Olimpíada ter começado. Depois do primeiro set da final, então…

Contra a realidade e os prognósticos, a Seleção Brasileira feminina de vôlei conquistou, neste sábado, o bicampeonato olímpico, com o 3 a 1, de virada, sobre os Estados Unidos.

Arrisco a dizer que foi o título relevante mais difícil que um esporte coletivo do país já obteve. Os fatos falam por si.

– Uma saída turbulenta do Brasil após os cortes de Mari e Fabíola.

– Uma chegada a Londres repleta de incógnitas. Quem será a levantadora titular? Natália está recuperada? O abalo pós-corte vai influenciar o desempenho do time?

Algumas respostas foram dadas na primeira fase. O time titular tinha Fernandinha, Sheilla, Paula Pequeno, Jaqueline, Fabiana, Thaisa e Fabi. E ele não engrenou. A vitória por 3 a 2 sobre a Turquia na estreia assustou. E não apenas os torcedores. A derrota para os Estados Unidos, por 3 a 1, pode até ser considerada normal. E aí veio um 3 a 0 para a Coreia. Surpresa geral. O time estava preso, errando em demasia, individual e coletivamente. Ali já não se pensava em sair em primeiro do grupo e cruzar com um rival mais fácil. Era brigar pela classificação.

A primeira decisão foi contra a China. Dani Lins, que esteve próximo do corte antes dos Jogos, passou a ser titular no levantamento. Fernanda Garay assumiu o lugar de Paula. A vitória por 3 a 2, com o time perdendo várias chances de faturar em quatro sets, foi pouco comemorada. A situação na última rodada era delicada. O Brasil não dependia das próprias forças para avançar em QUARTO lugar.

China e Coreia fizeram um jogo de compadres, ou melhor, comadres. Um 3 a 2 que garantiu os dois rivais asiáticos nas quartas. No jogo seguinte, os Estados Unidos, já garantidos em primeiro lugar, poderiam eliminar o Brasil. Bastava que perdessem para a Turquia. Poupar atletas? Eliminar as atuais campeãs? Não. O time americano jogou com força máxima e eliminou a equipe de Marco Aurélio Motta. Uma honestidade que merece aplausos. O Brasil entrou em quadra contra a Sérvia precisando vencer para avançar. E fez isso, sem sustos. Para quem podia ter jogado já eliminado, um alívio e tanto.

Nas quartas, duelo com a Rússia. Rival que já havia frustrado essa Seleção duas vezes no Mundial. No jogo mais espetacular que vi, o Brasil superou seis match points e passou para a semi. Neste momento, Sheilla havia recuperado o jogo que encantou o mundo anos atrás, Dani Lins demonstrava muito equilíbrio na distribuição de jogo, as centrais Fabiana e Thaisa ressurgiram, Jaque, Garay e Fabi deram volume de jogo no passe e na defesa. E o time embalou até o título. Um roteiro digno de filme de Hollywood.

Voltando à final, o que foi o primeiro set? Parecia o Brasil do início da Olimpíada. Preso, sem confiança no ataque, errando demais. E o time teve cabeça no lugar para cumprir a estratégia traçada para neutralizar a força americana no ataque.

Saque na líbero Davis. Pode parecer maluquice optar pela jogadora especialista em passe e defesa. Mas foi isso que os estudos da comissão técnica mostravam. E o saque passou a fazer estragos, não com aces, força, mas com inteligência no alvo. Assim, tirou a bola da mão de Berg, minando as jogadas rápidas pelo meio e obrigando Hooker a ser a única opção. Até ela, que voou na Olimpíada, passou a tomar bloqueios.

E o time cresceu como um todo. Jaqueline fez sua melhor partida no ataque que já vi. Um aproveitamento de 63%. 18 pontos marcados no total e a jogadora de segurança de Dani Lins. E ela também foi bem no passe e na defesa. Jogou demais.

Fabiana merece elogios. Até porque fez os sete pontos do time no bloqueio na final. Alguns em momentos importantes. E o restante do time cresceu junto, passou a errar menos, enquanto as americanas não conseguiam sair da encruzilhada que Zé Roberto as colocou.

Título da superação por tudo que escrevi acima. Título que eterniza uma geração. Título que faz de José Roberto Guimarães um tricampeão olímpico. Para poucos.

Por Daniel Bortoletto, publicado no LANCE! em 11 de agosto de 2012