Michel: a história de um vencedor no vôlei e na vida
Meio de rede é um dos destaques do Farma Conde/São José na temporada 22/23
A história de vida do central Michel, do Farma Conde/São José, é repleta de superação. Desde o assassinato de sua mãe, quando tinha apenas um ano e sete meses, ao início tardio no vôlei, aos 16 anos, ao retorno por acaso à carreira quando era vendedor em uma loja de tênis, em Maringá, e os problemas na temporada passada, quando jogava na França. E é com toda essa força e fé que o jogador carioca de 29 anos e 1,99m entrará em quadra para as semifinais da Superliga masculina de vôlei 22/23 contra o Sada Cruzeiro. Segundo maior bloqueador da competição, com 65 acertos, e sendo o terceiro melhor atacante da equipe, atrás de Douglas Souza e Sánchez, com 236 pontos, Michel revelou o plano traçado com o técnico Carlos Schwanke.
– Demorei a começar no vôlei e hoje me sinto mais maduro para aprender, para executar. Quando eu voltei ao Brasil, no ano passado, depois de jogar na França, o Schwanke me fez uma proposta: você quer terminar a Superliga como melhor atacante, como todo mundo já te conhece, ou como melhor bloqueador? Essa Superliga de fato foi desafiadora porque tracei um plano com o Schwanke e consegui alcançar o objetivo que é terminar entre os três primeiros bloqueadores da temporada. Estou em segundo e, para mim, isso é motivo de grande orgulho porque talvez eu seja o central mais baixo da competição – disse Michel.
A primeira partida das semifinais entre Farma Conde e Sada Cruzeiro acontecerá na próxima quarta-feira, dia 19, em Contagem (MG). No dia 22, será disputado o segundo jogo, em São José dos Campos (SP). O terceiro confronto, se necessário, será no dia 24, mais uma vez na casa do adversário.
– Não existe time imbatível. Em jogos grandes como esse a gente precisa se impor. O Cruzeiro tem algumas armas, mas sei que a gente tem um time intimidador, com um grande poder de ataque, de bloqueio e de saque. O Cruzeiro tem uma história, mas a gente, em tão pouco tempo, já chegou na final da Copa Brasil. Perdemos uma peça importante (Robert Taht, ponteiro), e entrou o Canuto, que vem suprindo muito bem. Agora a gente tem tudo para surpreender também – afirmou Michel.
Experiência na França
Se, por um lado, a primeira experiência internacional do central, no Nantes, da França, não foi boa, serviu também para ver que voltar para o Brasil seria a decisão mais correta.
– Minha experiência foi bem difícil. Quase entrei em depressão. Meu grande presente foi que a minha esposa Ana Paula ficou grávida lá, e meu filho Miguel nasceu lá. O levantador da nossa equipe estava em final de carreira, com muitas dificuldades físicas. Fui com muito prestígio no ataque e havia, naturalmente, uma cobrança. Ainda assim terminei como quinto melhor atacante e sexto melhor bloqueador do Campeonato Francês. Para a atual temporada, eu já havia acertado com outra equipe francesa, Toulouse, mas tive uma visão à noite, na qual, eu estava na igreja e disse para dois amigos: fechei com São José dos Campos. Quatro dias depois a proposta acabou chegando. Fiquei muito feliz e esperançoso de trabalhar com o Schwanke, que é o treinador de bloqueio da Seleção Brasileira. Sabia que era a oportunidade de mostrar meu voleibol para ele bem de perto. Acho que deu supercerto – afirmou Michel.
Início no futebol e futsal
Criado pelos avós maternos, Luzia e Antônio, com muita luta na Zona Norte do Rio, Michel se dividiu entre o futsal no clube Pavunense e o futebol na escolinha do Botafogo dos sete aos 14 anos. Era zagueiro. Como cresceu muito, interrompeu a prática esportiva por dois anos. Mas, aos 16, incentivado por um amigo do time de basquete, bateu na porta do Tijuca Tênis Clube, onde começou a jogar vôlei.
– Não tinha muitas perspectivas naquela época, mas dentro de mim, sempre tive a certeza de que seria alguém diferente, que tinha nascido para vencer. Deus tem traçado a minha trajetória com muito esforço, mas tenho me dedicado bastante para chegar no meu objetivo de ser o melhor que eu puder ser e me tornar ser. Apesar de ter começado no vôlei com 16 anos, a coordenação do futebol me trouxe um tempo de bola que talvez eu não tivesse em outro esporte.
Vendedor de loja
Em 2014, Michel estava jogando seu primeiro campeonato adulto, da primeira divisão, em São José do Rio Preto (SP), quando o patrocinador do time quebrou e o time foi obrigado a se desfazer. Foi então que um amigo chamou alguns dos jogadores para Maringá (PR), onde teriam mais oportunidades. Logo no primeiro dia que chegou à cidade paranaense, Michel foi para o shopping procurar emprego. Fez uma entrevista em uma loja de tênis e passou.
– Comecei a trabalhar como vendedor. Dois meses depois virei trainee e, em três meses, me tornei gerente. Paralelamente passei a jogar uma liga amadora, na qual, também jogavam duas pessoas da comissão técnica do time de Maringá. Me fizeram uma proposta. Faltava a última peça da equipe para fechar o elenco, que era a de central. O salário era a metade do que eu ganhava na loja. Mas, sempre que eu passava pelo ginásio Chico Neto, pensava: eu só queria atacar uma bola do Ricardinho, saber como é. No final das contas, pude atacar uma temporada inteira com o Ricardo, que era craque demais – relembrou Michel.
Seleção Brasileira
Vestir a camisa da seleção de seu país é o sonho de todo atleta e não seria diferente com Michel.
– Acredito que tenha um lugar separado na Seleção Brasileira. Nessa temporada tive algumas visões com a bandeira do Brasil, com o Schwanke me dizendo que meu nome estava na lista dos convocados. Acredito fortemente que a minha vinda para São José não foi por acaso. A Seleção Brasileira vai acontecer em breve. Tenho essa certeza no meu coração e vou continuar trabalhando muito forte para que isso aconteça. É um sonho muito real, mas eu tenho muita fé nisso – completou.