EUA: David Smith, deficiente auditivo, dá lição de vida em Paris
Medalhista de bronze na Rio 2016, central é um dos líderes da seleção americana e inspira torcedores
O experiente David Smith, da seleção masculina dos Estados Unidos, chega à sua quarta Olimpíada, em Paris, como exemplo de representatividade. O jogador nasceu com quase 90% de perda auditiva. Ele usa aparelhos desde os três anos e faz leitura labial para se comunicar com os companheiros de quadra dos EUA.
Além de representar uma imensa comunidade, o jogador é um dos líderes do elenco americano na França. Medalhista de bronze na Rio 2016, Smith, de 39 anos, atua há oito na Liga da Polônia, uma das principais do mundo, defendendo o Zaksa Kedzierzyn-Kozle.
– É um trabalho duro, às vezes frustrante, mas percebi que se eu me importo com algo, há uma maneira de chegar lá, há uma maneira de administrar, de descobrir. É o único mundo que conheço, mas estou fazendo o melhor que posso para tirar o melhor proveito dele – disse Smith.
Sua maneira favorita de “tirar o melhor proveito” era por meio do esporte. Smith começou a jogar vôlei quando tinha 14 anos. Seu irmão jogava vôlei, então foi assim que conheceu e experimentou o esporte. Logo ficou claro que tinha um grande futuro.
– Meus pais me permitiram me expressar e tentar descobrir minhas próprias limitações sem tentar que elas ou qualquer outra pessoa as colocassem em mim – disse ele.
John Speraw, atual técnico dos EUA, recrutou Smith para a Universidade da Califórnia, Irvine – onde ele era o técnico principal na época – logo após o jogador se formar no ensino médio, em 2003. Smith pretendia estudar engenharia em outra universidade e, com sorte, entrar para o time masculino de vôlei, mas Speraw tinha outros planos para o talentoso astro.
– Descobrimos alguém que ninguém tinha visto ainda e tivemos muita sorte de poder trazê-lo para o nosso projeto. Foi como encontrar um diamante bruto – disse o treinador.
Na época, Smith foi recrutado inteiramente pelo jogador e pessoa que era – sua deficiência não impactou a decisão de Speraw em nada.
– Uma coisa que sabíamos era que o vôlei é um esporte em que a comunicação é uma das coisas mais importantes. Percebemos que precisaria haver algumas adaptações de como o time jogava com David na quadra. Você constrói essa confiança com o tempo, trabalhando junto, fazendo isso constantemente ao longo de um período de anos e executando muito, muito bem. É consistência e é essa integridade que ele tem – completou Speraw.
Quando foi para Irvine, Speraw e Smith visitaram uma escola para crianças surdas. Ele mostrou a esses alunos que, mesmo com uma deficiência, tudo se resume a paixão e resiliência. Smith é um exemplo disso.
– Ver isso em primeira mão foi incrível. Ele mostra às pessoas em todo o mundo que os sonhos podem ser possíveis. Eu vi isso quando ele estava na faculdade e agora, 16 anos depois, nas Olimpíadas de Paris – afirmou o treinador.
Na primeira partida dos EUA nas Olimpíadas de Paris de 2024, uma vitória de 3 a 0 sobre a Argentina, Smith viu fãs surdos na multidão.
– Eles estavam animados por ter um deles na quadra, alguém para representar quem eles são e suas lutas e seus sucessos também – disse.
À medida que continua a influenciar pessoas em todo o mundo, Smith mostra felicidade por ter sua história compartilhada e por inspirar outras pessoas.
– Todo mundo é atingido por paixões diferentes, mas se é algo que está em seu coração, eu realmente acredito que você pode alcançar. Você terá que fazer adaptações, vai dar muito trabalho, mas eu acredito que, além do sucesso que você tem, apenas o que isso faz pela sua alma já é muito gratificante – concluiu.
O próximo compromisso do time dos EUA em Paris será nesta sexta-feira (2/8), às 16h (de Brasília), contra o Japão, pelo Grupo C.