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Colunista convidado - Paris-2024 - 23 de agosto de 2024

Uma Quarta-Feira de Cinzas em pleno mês de agosto

Luiz Fernando Coelho, especialista em marketing, escreve sobre Paris e futuro do esporte


Eu e muitos outros que ficamos acordados por 10 a 15 madrugadas seguidas, dormindo nos intervalos, assistindo e torcendo desesperadamente por nossos atletas em Paris, nos sentimos como numa Quarta-Feira de Cinzas quando a chama olímpica se apagou. E, em minha opinião, desta feita, com requintes de crueldade. Digo isso como um elogio. Claro!

Como tudo nesses Jogos de Paris, a simplicidade deu o toque final no momento de extinguir a chama. Um atleta representando cada continente, o nadador francês Léon Marchand, que foi uma das sensações francesas, e o Presidente do COI, Thomas Bach, ao redor da chama, trazida em uma lamparina, sopraram ao mesmo tempo, e ela se apagou.

Simples, lindo e muito tocante. Fez o coração dos admiradores ficarem apertadinhos, pois agora, somente em 2028. Tal formato só fez aumentar o sabor de despedida de uma Olimpíada tão rica em conceitos e diferenciais, e que ainda deixou uma redução considerável nos custos de sua produção. Outra marca importante foi a quantidade de medalhas que os africanos levaram para seu continente: 39 no total.

Muito bem. Agora é esperar por LA 2028. Pois é, esperar, este é o verbo que torna nossa tarefa olímpica tão complexa, aqui em nosso Brasil, pois encerrados os Jogos voltamos a uma realidade dura e desafiadora. Mais do que nunca, precisamos trocar o verbo da primeira conjugação para um da terceira: construir.

Patrocinadores encerram suas atividades, pois não veem retorno. Salvo uns poucos mais convictos. Imprensa volta suas baterias para a paixão nacional, e o esporte olímpico fica pelo caminho. E olha que está difícil ver o futebol masculino jogar. Dirigentes vão cuidar de suas ambições políticas e reeleições, onde der. Atletas, bem aí temos um sistema de castas bastante claro, onde existem aqueles que ganham muito, e de todos os lados, e aqueles que não tem acesso a apoio significativo.

Eu fico me perguntando quantas medalhas e troféus os brasileiros que chegaram até o décimo lugar tiveram que vencer para poder estar nos Jogos de Paris, e entre os melhores do mundo, nos 3 anos que antecederam? Quantas horas de trabalho? E o que faltou?

A sensação é que sempre falta um pequenino pedaço para que possamos atingir uma posição melhor no quadro de medalhas. Mas não quero aqui me juntar as carpideiras que reclamam esta falta de alguma coisa. Quero sim fazer coro com todos os stakeholders desta indústria, para que assumam um pouco mais o seu papel. Não adianta dar voz aos nossos atletas faltando 10 dias para as competições.

Fica completamente sem sentido quando se adquirem direitos de patrocínio e não se envolvem com o esporte ou com o evento em si, sem qualquer citação. Isso não é apoio, é somente compra de um pacote de mídia. Vimos medalhistas improváveis estarem no pódio, representando o Brasil. Ouvimos desabafos comemorando ou não os resultados, mas todos dentro de um foco no resultado muito grande. E mais, finalmente, entrevistas com depoimentos que não
doíam em nossos ouvidos, por simplesmente repetirem a reza que todos repetem. Em especial, me impressionou muito as falas das atletas do futebol, Gabi Portilho, Angelina e Luana, muito sensatas, cheias de emoção e usando nosso velho e difícil português como não costumamos ver em atletas deste esporte.

Chegou a hora de celebrar os nossos possíveis representantes em LA 2028. Assumir os papeis que cabem a todos os envolvidos, com o objetivo de subir no quadro de medalhas, talvez, mas principalmente olhando na direção de que, em um país como o nosso, o esporte pode representar um papel fundamental no desenvolvimento de uma família, transformar vidas, trazendo ainda mais horas coladas nas telas para assistir às competições. Não adianta a CazéTV ser a sensação, se a partir do próximo mês, o que vai de esportes é o futebol somente. Não funciona os patrocinadores do Time Brasil pularem fora e só voltarem em março de 2028. Independente de qualquer coisa, o COB, as Confederações e Federações esportivas, atletas, projetos de lei de incentivo necessitam que seus aportes sejam pelo menos mantidos. E também é necessário que estes patrocinadores tragam para dentro de seus projetos um pouco da visão profissional e corporativa, e que as instituições esportivas levem para dentro das empresas os valores que o esporte dissemina no dia a dia de sua construção. Talvez este seja o tal modelo ganha ganha tão difícil de se construir. Saudações Olímpicas!

Por Luiz Fernando Coelho