
De convidada à titular absoluta do Brasil: Marcelle conta trajetória meteórica à “mãe” Fabi
Marcelle foi a grata surpresa da Seleção Brasileira Feminina de Vôlei nesta temporada
Uma trajetória meteórica e inspiradora. Assim pode ser resumida a história da líbero Marcelle, 23 anos. Ela começou a chamada eu caminho na Seleção Brasileira Feminina de Vôlei em maio deste ano, como convidada na lista de José Roberto Guimarães – as duas convocadas eram Kika e Laís -, e terminou a temporada como titular absoluta da amarelinha com duas medalhas no peito, os bronzes na VNL, em julho, na Polônia, e do Mundial, no último domingo (7/9), em Bangkok, na Tailândia, com atuações que fizeram a diferença.
No meio de tudo isso, ainda houve drama. Ela sofreu com uma lesão nas duas primeiras semanas da VNL, não viajou com o time para a etapa da Turquia mas, diante das atuações oscilantes de Laís na Liga das Nações, José Roberto deu chance à Marcelle na etapa de Chiba, no Japão, e ela não saiu mais do time.
Marcelle Arruda “Alvim”
O sucesso rápido, as atuações decisivas com a camisa do Brasil, o encaixe perfeito com as novas companheiras, os elogios unânimes vindos de atletas, comissão técnica, especialistas e torcida e o fato de ter ficado no top 2 da estatística de recepção top 6 na de defesa do Mundial Feminino de Vôlei 2025, fizeram Marcelle Arruda ganhar um novo sobrenome: Marcelle “Alvim”, uma alusão à líbero bicampeã olímpica Fabi Alvim (Pequim-2008 e Londres-2012) que, hoje comentarista do Sportv, rasgou elogios à pupila, com propriedade.
– Nessa posição, é o que muitas pessoas adorariam: ser comparada a Fabi, uma estrela. Acho que nem mereço, tenho muito a trabalhar. Se, na primeira temporada, já estou sendo comparada a Fabi, não tenho nem palavras – disse Marcelle, antes da gravação do programa “Hello LA”, do Sportv, como registrado na matéria do GE.
Há um ano, ela só entrava para sacar no Sesc RJ Flamengo
Criada na comunidade da Formiga, na Tijuca, Marcelle praticou capoeira e futebol antes fincar o pé no vôlei. Revelada pelo Tijuca Tênis Clube e originalmente ponteira nas categorias de base, ficou claro para Marcelle que, com 1,64m de altura, ficaria difícil jogar na posição depois que se profissionalizasse. Atuar como líbero acabou sendo, por conta disso, uma transição tranquila e natural, o que aconteceu durante uma convocação para a Seleção Carioca.
No Sesc RJ Flamengo, onde chegou em 2019, Marcelle não era líbero. Laís era e é até hoje a dona da posição. Mas, vinda do banco, sempre entrava para sacar e cobria bem o fundo de quadra. Era uma arma de Bernardinho na Superliga.
No Fluminense, atuações que chamaram a atenção na Superliga
No ano passado, trocou o rubro-negro pelo Fluminense, ganhou a posição de titular da Lelê, fez uma ótima Superliga e se credenciou a aparecer na lista de José Roberto, mas apenas como convidada. Isso, porque as duas líberos que ficaram com o bronze nos Jogos de Paris ano passado e que, teoricamente, seriam as primeiras opções do treinador este ano, ficaram de fora: Nyeme foi mãe poucos meses antes da VNL e ainda estava de resguardo, e Natinha pediu dispensa alegando motivos pessoais.
Na prática, então, Marcelle era a quinta líbero. E terminou a temporada com honras e promessas de que chegou na Seleção Brasileira de Vôlei para ficar.
– Estou muito feliz com tudo o que vivemos lá. Foi incrível receber carinho de toda a torcida. Fica o orgulho de tudo o que conquistamos, minha primeira na seleção depois da VNL – disse Marcelle.
Dona Lucélia: “Perdi minha filha para a Fabi”
A mãe, Lucélia, brinca que perdeu a filha para a bicampeã olímpica Fabi, e se enche de orgulho ao falar da nova líbero da Seleção:
– Perdi a minha filha para a Fabi – brincou – Mas isso é muito bom, ser comparada a Fabi, um ídolo de todas as meninas do vôlei. Foi muito gratificante, tudo que ela viveu, o crescimento dela. Passa um filme na cabeça, lembrar tudo aquilo desde o começo. A gente sabe que Deus tem muito mais para ela – completou dona Lucélia.
Fabi elogia pupila, mas adverte: “sem pressão”
Fabi comentou o sucesso da pupila, mas demonstrou preocupação em não deixar as comparações se tornarem motivo de pressão em cima da jovem jogadora:
– Muitas vezes, a gente precisa ter certo cuidado quando a gente projeta, cria expectativa em cima de uma jogadora. Só que, quando você olha, como foi, mais ou menos 12 jogos até o Mundial, fica difícil sustentar o discurso. Como você não se empolga?. É muito difícil que uma jogadora entre numa competição das mais importantes para a seleção brasileira e se sinta tão à vontade. Não lembro uma trajetória tão meteórica quando a gente observou com a Marcelle nos últimos dias – disse Fabi.
Sobre a torcida ter atribuído o sobrenome “Alvim” à Marcelle, Fabi se diverte:
– São muito criativos. É divertido, tem a coisa do carinho, mas eu não queria trazer nenhum peso para a Marcelle. Mas eu poderia ser a mãe dela pela idade, sou um ano mais velha que a mãe dela. É tudo na linha da diversão, do sorriso. Ela é Marcelle Arruda e, não, Alvim. Ela vem de uma comunidade, muitas vezes teve que se reinventar. Há pouco mais de um ano, entrava para sacar no Sesc Flamengo. Foi corajosa, tendo algumas mudanças. Vejo uma disputa, daqui para a frente, com a Nyeme. A gente passa a ter uma disputa que só engrandece a posição de líbero. Sempre tivemos histórico de grandes líberos e disputas. Estar na seleção é uma conquista muito grande, dá muita maturidade também – completou a bicampeã olímpica.