Fernanda Venturini
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Entrevista - 21 de abril de 2020

Venturini comenta sobre Sokolova e Tandara e diz que apoiaria Bernardinho na Seleção

Fernanda Venturini participou de duas lives nas redes sociais na segunda-feira


A ex-levantadora Fernanda Venturini, 49 anos, 12 vezes campeã brasileira, medalha de bronze na Olimpíada de Atlanta-1996 e reconhecidamente uma das melhores do mundo na posição, participou, na última segunda-feira, de duas lives: uma promovida pelo site Saque Viagem, no YouTube, com a participação do ex-jogador, ex-técnico e comentarista Cacá Bizzocchi, e outra com a ex-central e amiga, Tatiana Rodrigues, no Instagram.

Com a sinceridade de sempre, Fernanda discorreu sobre vários assuntos, relembrou passagens importantes da geração que alavancou o vôlei nacional nas décadas de 80 e 90 e arrancou boas risadas dos participantes com histórias do passado.

Ela falou sobre os jogos históricos contra as cubanas nos anos de 1990 – e também das brigas que escreveram capítulos acalorados entre as duas seleções -, contou casos de bastidores da carreira, se disse preocupada com o futuro das categorias de base do Brasil, relembrou o fatídico 24 a 19 (semifinal da Olimpíada de Atenas-2004, contra a Rússia), comparou gerações, escalou parte da seleção que ela levaria para Tóquio-2021 e falou sobre Sokolova e Tandara. Disse que a russa – com quem jogou na Espanha, no Múrcia, na temporada 2006/2007 – era “morcega” e não gostava de treinar, e acha que Tandara deveria perder uns quilinhos.

– A Tandara precisa emagrecer um pouquinho. Se emagrecer um pouquinho, vai voar. Tem de segurar um pouco a boca.

Venturini disse ainda que apoiaria o marido Bernardinho caso ele fosse convidado pela CBV a assumir novamente a Seleção Feminina após a saída de José Roberto Guimarães do cargo – o que deve acontecer depois a Olimpíada de Tóquio-2021. O Web Vôlei separou os principais trechos das duas lives e publicou na matéria abaixo.

Alguma levantadora foi tão boa quanto você?

A Fofão. Pena que eu e a Fofão pegamos a mesma geração. Somos da mesma idade, acho. Ela fez 50 e eu vou fazer 50 (em 24 de outubro). Não vejo outra não…

Bernardo na beira da quadra

Me irritava com o Bernardo berrando na beira da quadra (risos). Naquela época ele berrava, que Deus me livre (risos). Hoje ele está mais calmo. Vinte anos, sei lá quantos anos, de masculino deram uma acalmada nele. Mas, tinha horas que me subia o sangue… Ele ficava gritando com uma menina e aí a menina ficava arrasada, mas depois eu aprendi a lidar.

Melhores levantadoras do Brasil hoje

O que eu tenho acompanhado, mais aqui o Sesc, vejo final, semifinal… Vejo a Macris como a mais talentosa no sentido de se impor, de comandar. Eu gosto dela. Era arrisca, ela é arisca. Ela está um pouquinho acima das outras. Gosto da Fabíola, que já esteve nesta seleção, pediu para ir embora, tem uma história que eu não sei direito, mas acho que a duas… A Dani acho que deu uma caída esse ano, o Bauru não jogou bem. E a Roberta também. Mas acho que essas duas ainda estão à frente da Dani e da Roberta.

Fernanda Venturini
Campeãs do Grand Prix de 1994, em Shangai (Reprodução/Instagram)

Vôlei raiz

Eu gosto ainda do vôlei raiz, que não tinha câmera te filmando, não tinha técnico falando o que fazer, você tinha de pensar, de tirar da sua cabeça, você tinha de estudar. Hoje em dia é tudo bitolado. Você tinha de fazer esforço, inventar jogada. O técnico ajudava, mas a jogadora tinha de se superar. Hoje em dia tudo é muito fácil, muito mastigado para todo mundo.

Transição atacante-levantadora

Eu sempre tive a visão para jogar. Eu saí de Ribeirão Preto (nas categorias de base) como atacante e virei levantadora. Voltei do Mundial do Peru (1989) já levantando, o Inaldo (Inaldo Manta, ex-treinador do Brasil) me colocou levantando na Sadia, pegando um timaço logo de cara. Eu gosto de comandar. Foi uma época gotosa. Em 1987, no Mundial, eu ainda jogava como atacante, a Simone Storm era a levantadora. Mas já em 1989, no Peru, já fui como levantadora. Quando eu cheguei na Sadia já estava no processo de mudar para levantadora.

Fernanda Venturini
Geração de Seul-1988 (Reprodução/Instagram)

Melhores times da carreira

Passei por dois timaços. Sadia e Leites Nestlé. Mas acho que o da Sadia teve um algo a mais. O time jogava como música. Foram três anos maravilhosos. Foram os melhores times que eu já joguei.

Mais jogadas

Hoje não se faz mais jogada, não se faz mais Between, Desmico pra trás, eu gostava muito de fazer. Hoje o jogo fica mais fechado. Não sei dizer se as jogadoras são mais altas e ajudam mais… Mas acho que poderia existir, daria pra fazer. Tem jogadoras que são mais rápidas. Mas com a Fu era demais (Márcia Fu). Aquela dupla era imperdível, era sensacional jogar com a Márcia Fu. Eu inventava moda e ela topava, ela gostava dessa coisa de fazer alguma coisa diferente. Eu adorava jogar com ela.

Estrangeiras

Eu joguei em Múrcia com a Sokolova. Craque, mas morcega, não gostava de treinar (risos). Aí na final a polonesa Glinka, na final do Espanhol, a outra (Sokolova) queria bola e eu não dava, era Glinka, Glinka, Glinka a Glinka rodando e dava uma ou outra para a Sokolova, porque, poxa, a mulher era morcega, não queria nada com nada. E ela p. comigo porque…. Ela era craque, mas não queria nada (risos). Das que eu joguei, a Tara (Cross Battle, norte-americana) e a Cecília (a peruana Cecília Tait) foram o luxo do vôlei naquela época. A canhota da Cecília era sensacional.

24/19 (na semifinal da Olimpíada de Atenas-2004 para a Rússia)

Eu lembro que a gente perdeu aquele set e ainda teve mais um… Eu já cheguei a rever o jogo, mas não me lembro se poderia ter feito algo diferente. É uma bola que faltou. A menina (Mari) bate 50 bolas, acerta 49 e erra uma… Não era para ser. Eu lido muito bem com isso. Um jogo a mais que eu perdi. Quantos eu perdi, quantos eu ganhei. As opções que eu fiz não foram boas, enfim, não era para ser.

Fernanda Venturini
(Instagram/Reprodução)

Alguma jogadora que nunca jogou, mas gostaria de ter jogado

Não joguei com a Carol Gattaz. É uma jogadora que joga com velocidade e eu gosto de jogar com velocidade. Sheilla, Mari e Thaisa eu joguei. Das que estão aqui, só a Carol Gattaz mesmo.

Melhor técnico do mundo

Bernardo, sem dúvida nenhuma.

Amizades no vôlei

Márcia Fu, Helena, Ida, Ana Lúcia, pessoal da primeira geração. Da última não tem nenhuma amizade séria. As antigas ficaram.

Levantadora que você se inspirava

Gostava da russa, a Kirilova (Irina Kirilova). No comecinho a gente jogava contra ela, achava ela o máximo. Gostava muito também do Maurício (Lima, bicampeão olímpico).

Volta às quadras em 2011

Minha filha (Vitória) nasceu em 2009, aí voltar foi triste. Eu estava com os joelhos todos quebrados. Hoje, graças à modulação que eu faço, a alimentação, que eu mudei, eu recuperei tudo. Mas naquela época eu não podia treinar, era difícil. Eu gostava de treinar e não podia treinar.

Melhor vitória e pior derrota

O 24 a 19, lógico, foi uma derrota dolorida; tem a derrota para Cuba no jogo da briga lá (semifinal da Olimpíada de Atlanta-1996) foi dolorida, porque a gente tinha se preparado quatro anos para jogar aquele jogo. A gente estava esperando jogar com elas a final. Mas elas perderam para a Rússia antes e o encontro acabou acontecendo na semifinal. Por tudo o que envolvia, foi a derrota mais sentida. Mas todas as derrotas serviram para ensinar.

Faltou força nas centrais brasileiras na semifinal de 1996? As centrais cubanas eram muito superiores?

Se tivesse uma Thaisa lá comigo juro que seria bem mais fácil (risos)

Brasil de 1996 (bronze em Atlanta) x Brasil de 2008 (ouro em Pequim)? Quem ganharia

A gente ganharia (risos). O time de 1996 era mais jogueiro, acho.

Fernanda Venturini
Nos tempos da Sadia (Instagram/Reprodução)

A melhor jogadora de todos os tempos

Mireya. Fez história. Era lindo ver ela jogar. Era habilidosa, ver ela saltando e atacando… vai ser difícil ver outra Mireya daqui pra frente.

Ranking

Sou contra o fim do ranking. O vôlei é gostoso quando tem disputa, isso que é esporte, um dia você ganha, você perde. Com o fim do ranking, quem tiver dinheiro… Se bem que acho que a pandemia vai falir os clubes, o vôlei, o mundo, na verdade. Agora, se chegar um magnata russo e patrocinar um time no Brasil, vai ganhar tudo. Que graça tem? Bom é quando está dividido A pandemia vai fazer cair muito o nível de grana dos empresários.

Maurício
Era craque demais. Mas também era morcego (risos). Não gostava de treinar.

Redes Sociais

Os maus educados mandam coisas e eu vou lá e bloqueio a pessoa. A pessoa entra no seu Instagram e vai te criticar. Vai estar comigo quem gosta de mim. Vou ajudar as pessoas, hoje o que eu faço de saúde para mim eu sinto que posso ajudar as pessoas. Maus educados, fora. Tenho uns 200 bloqueados. Questão de política… cada um tem o seu, posso gostar do vizinho da esquina, cada um tem o seu. Aguentar um cara me criticando, deixando passar e não fazendo nada, imagina… Esse vírus veio para isso, para todo mundo tratar bem o outro, para ajudar o outro.

Vida pós-voleibol

Eu li o livro “A vida sem medicamentos, protocolo Botelho”, do autor Marco Botelho. Li em final de abri do ano passado e desde então eu fiz quatro cursos. O último, sobre câncer. O que é o câncer? A inflamação da célula. O que inflama a célula: carboidrato e doce. Então é simples, não é complicado. Desde então, estou fazendo vários outros cursos sobre isso. Eu testo em mim, para saber se é bom. Isso ajuda gente com demência, com alzheimar, com problema da tireoide, de peso… qualquer doença. Só a morte que não resolve. Nossa alimentação mudou, não comemos mais doce, nem carboidrato, só mesmo um chocolatinho amargo, muito raramente. Quero ajudar as pessoas a largarem os remédios. É o que eu faço hoje e estou muito feliz. Quando temos 20 anos os hormônios estão em alta. Se a gente repor esses hormônios e se alimenta bem, tirando carboidrato e doce, muda tudo. Memória. Eu era zero de memória, tudo melhora, porque eu desinflamei o meu corpo. Você para de inflamar o seu corpo, que é o que vem da indústria, processado. Desde então estou seguindo esses médicos novos que falam de saúde, o Bernardo também entrou nessa, porque a gente sente. Falei, gente, testa, é creminho só de passar. E, desde então, é outra vida. Acordo com vontade de correr uma maratona. Tudo está melhorando. Malho forte e não sinto dor. Hoje eu faço os esportes que eu faço feliz da vida. Graças a Deus eu conheci o Marco Botelho.

Fernanda Venturini
(Reprodução/Instagram)

Jogar contra o Bernardo na semifinal Vasco x Rexona, em 2001

Foi difícil. Porque a gente tinha acabado de se casar em 1999, morava em Curitiba (o projeto do Rexona era em Curitiba) e aí eu viro em 2000 e falo para ele: “amor, vou morar no Rio de Janeiro” (risos). Ele queria me matar. E aí ainda depois fui jogar a semifinal contra ele… não foi nada amigável.

Recebeu os atrasados do Vasco?

Depois de 10 anos, recebi metade. Ainda falta uma parte. Com a nova diretoria e já estava se acertando. Mas aí veio o coronavírus e vai ficar mais pra frente.

Times de camisa no vôlei

Se os clubes se profissionalizarem, são bem-vindos no vôlei. Mas não naquela bagunça que era antes. Agora o Flamengo montou um projeto legal. Vamos ver.

Base abandonada

O trabalho da base não está sendo bem feito. Para essa olimpíada a gente ainda vai ter um time bom. Posso estar errada, mas na próxima olimpíada, daqui a oito anos… Se não cuidar da base, daqui a pouco a gente vai pagar a conta.

Jogadoras trans

Acho que daqui a pouco vai ter de ter uma lei sobre isso. Bernardo me mostrou uma matéria sobre uma corredora trans dos Estados Unidos falando que já sabe que vai ser medalha de prata, porque a mulher tal, que era homem, vai ganhar. A força física é diferente… Não vou entrar no caso da Tifanny, porque não a conheço. A força física, não tem jeito, vai ser maior. Por mais que você tome hormônio para tirar, a parte física já está pronta, definida. Mas é muito polêmico. Hoje já estamos ajustados à Tifanny, mas daqui a pouco vai ter de ter uma liga de trans, do jeito que a coisa está evoluindo. Não sou contra. Mas acho que tem de se fazer o melhor para todo mundo.

Fernanda Venturini
Com a camisa do Leites Nestlé, que defendem entre 1994 e 1997 (Reprodução/Instagram)

Revelações da temporada

Acho que a Lorenne cresceu muito. Me assustou a forma como ela evoluiu em pouco tempo. As novinhas tem de ir para times menores e jogar. Não adianta ser reserva num time grande e não jogar. Muitas pensam, ah, preciso jogar em Osasco, ficar no bem-bom… Mas não vão entrar nunca nunca! De que adianta? Elas têm de jogar. Mas as jogadoras de Barueri neste ano foram muito bem.

Bernardinho na Seleção Feminina

Ele ama isso, esse vôlei (risos). Se tiver vontade de voltar, que ele volte. Foram muitos anos, meu Deus do céu. Tanto o Zé quanto o Bernardo fizeram muito bem para a seleção. Ele é muito bom. É um pecado ele não estar. Para ensinar e comandar, não tem igual. Todo mundo deveria passar uma temporada sendo treinado por ele para ver como cresce. Se acontecer e ele aceitar, vou apoiar.

Quem levaria para Tóquio?

Natália e Gabi, Tandara na saída, Lorenne, Sheilla… esse time tinha de ter umas 15 (risos), Garay…. A quarta ponteira vai ser difícil. Na saída deve ser Sheilla e Tandara. Sheilla não sei, depende desse ano. Lorenne está correndo por fora. Drussyla é uma forte concorrente para quarta ponteira. Essa Superliga vai ser forte. Rosamaria fez uma boa temporada na Itália….  Tem um ano para Tóquio… Vai ser uma Superliga boa. Todo mundo tem de treinar bem e jogar bem. A Fabizona falou que quer engravidar…

Tandara

A Tandara precisa emagrecer um pouquinho. Se emagrecer um pouquinho, vai voar. Tem de segurar um pouco a boca.

Centrais

Se tivesse de escolher hoje a seleção, escalaria Thaisa e Carol Gattaz. Estão jogando muito.

Roberta

Jogou muito tempo comigo… Precisa de mais comando, acho ela muito low.

Biografia

Ainda não tenho vontade de escrever não. Agora com essas lives a gente fala tudo, não precisa mais escrever nada (risos).