Ana Paula e Venturini fazem live animada e contam “escapada” da concentração
Em live no início da semana, no Instagram, a ex-levantadora da Seleção Brasileira Fernanda Venturini e a ex-central Ana Paula tiveram uma conversa de muitas gargalhadas e histórias de bastidores sobre a geração que impulsionou o voleibol feminino no Brasil.
As duas conquistaram a medalha de bronze em Atlanta-1996, com a geração de Ana Moser, Márcia Fu, Ana Flávia, Ida, Hilma, Fofão, Virna, Ida, entre outros destaques da época. Jogaram juntas na temporada 1991/1992, no L´áqua di Fiori/Minas, e depois no Leites Nestlé. Ana Paula já tinha participado dos Jogos de 1992, em Barcelona – o Brasil ficou em quarto lugar – e disputou ainda duas olimpíadas na praia: Atenas-2004, ao lado de Sandra Pires, e Pequim-2008, com Larissa.
Companheiras de quarto na Seleção, Fernanda e Ana Paula relembraram momentos marcantes da carreira, as famosas brigas com as cubanas como um dia “escaparam” da concentração para ir a uma balada em São Paulo.
– Lembra que saíamos escondidas da concentração? perguntou Fernanda.
– Posso contar agora já que você está casada com o treinador – brincou Ana Paula, referindo-se ao técnico Bernardinho, marido de Venturini. No entanto, no episódio da “escapada” eles ainda não namoravam.
– Fomos companheiras de quarto durante muitos anos. E aí a gente estava na concentração em Barueri no centro do Zé Roberto e o Bernardo deu folga. E eu e a Fê falamos: “Vamos para São Paulo, para a balada”. Todo mundo foi para as suas cidades, era um fim de semana prolongado, e o Bernardo foi para o Rio, Tabach, Zé Inácio também foram e ficamos só nós na concentração. Lembro que a gente estava machucada, não tínhamos treinado. Antes da reunião para dar a folga, o Bernardo falou para ninguém deixar de malhar e para as machucadas evitarem sair, ficarem mais quietas. Todo mundo foi embora e eu e a Fernanda nos arrumamos, ficamos lindas e saímos para a balada. Quando a gente estava saindo, quem estava chegando de volta, porque tinha esquecido alguma coisa? O Bernardo (gargalhadas). E aí ele olha, ele fica sem reação. Olhou a gente de cima em baixo. E s Fernanda fala na maior naturalidade: “Quer sair com a gente?” Ele ficou desconcertado… naquele jeitão dele falou: “Não, vai lá, vai lá” (risos).
A live não teve perguntas de fãs. Os comentários foram desativados. Elas relembraram os jogos memoráveis contra a geração cubana, tricampeã olímpica (1992, 1996 e 2000).
– Fisicamente era difícil ganhar das cubanas porque elas eram muito fortes, saltavam muito, e psicologicamente também era difícil. Acho que podemos fazer uma distinção das jogadoras que jogavam melhor sem a provocação e as que melhoravam com a provocação, como a Fu. Ás vezes a Fu tava ali e o jogo não desenvolvia e a gente falava “Fu, estão rindo da nossa cara” (risos)… e aí ela entrava totalmente no jogo – contou Ana Paula.
– O legal é que tínhamos três grupos na Seleção, mas quando entrávamos na quadra, era matar ou morrer. A gente era muito unida – continuou a ex-central, que há 10 anos mora nos Estados Unidos.
Arquiteta de interiores formada pela UCLA (Universidade da Califórnia), estudante de Ciências Políticas na mesma universidade e colunista de política para publicações no Brasil, ela está casada e vive na Califórnia. Este ano, o filho Gabriel, de 19 anos, fruto do seu casamento com o ex-jogador e treinador Marcos Miranda – na última temporada ele foi assistente de Giovane no Sesc RJ – foi aceito para o curso de Economia de uma das mais conceituadas universidades dos EUA, Stanford.
Durante a live, Fernanda perguntou para Ana Paula como foi a experiência dela na praia. Em 1999, a ex-meio-de-rede começou a treinar nas areias, primeiramente com Leila, ex-companheira de Seleção nas quadras.
– Foi bom… Acho que a Leila não conseguiu absorver o conceito todo da praia. A parte técnica na quadra nesse ponto faz diferente. Na nossa época não tinha líbero. O meio que tinha de passar. Eu, Ana Flávia e Ida passávamos muito bem. A gente comandava o fundo. Ser uma passadora na quadra me ajudou muito na transição da praia. Se você não estiver bem (no passe), eles vão te mirar. Acho que a Leila veio com esse déficit da quadra. Ela não era passadora Ela ficava escondida pra atacar do fundo. Então, ela sofreu muito bem porque não passava bem, ou a levantada não chegava tão bem… Mas dentro disso, acho que ela foi até muito longe. Quando ela viu quando o jogo não era só ataque – relembrou.
– Gostei da época da quadra, foi uma época maravilhosa, muito especial. Tenho lembranças maravilhosas. Nossa medalha olímpica é na quadra. Mas eu também fui feliz na praia, tenho dois títulos mundiais na praia, a vida é mais flexível, você pode levar sua família…
Ana Paula contou que tem assistido aos jogos da sua época que estão passando na TV, durante a quarentena.
– Com essa pandemia e a falta de eventos ao vivo, estão passando os clássicos na TV e na semana passada passou Brasil x EUA em Pequim (Semifinal masculina), teve outra semana EUA x Brasil em Barcelona, a semifinal…. Eu confesso que não sei se é nostalgia, mas eu gosto mais, tecnicamente, plasticamente, gosto mais do atleta da nossa época. Acho que os atletas eram mais completos. Hoje você vê meninas muito altas, mas não sabem passar, não sabem levantar… Se eu fosse a técnica e a levantadora defendesse, quem tinha de defender era o meio, jamais a líbero.
Fernanda também falou sobre a falta de renovação no vôlei feminino:
– Não tem mais renovação. A gente vai sofrer daqui a uns anos. Hoje não tem jogo de base, não tem campeonato, não tem copa de nada, a gente vai sofrer daqui a umas duas olimpíadas, depois de Paris, com a renovação (Los Angeles 2028). A gente não investe mais na base – disse a ex-levantadora, que foi 12 vezes campeã brasileira na sua carreira (1989, 1990, 1991 com a Sadia; 1994, 1995 e 1996 com o Leites Nestlé e 1997, 1998, 2000, 2003, 2004 e 2006 com o Rexona).
Ana Paula relembrou também sua última olimpíada, em Pequim, nas areias, com Larissa, que fazia dupla com Juliana, mas a parceria se machucou e as duas formaram dupla na China, em 2008, terminando na quinta colocação.
– Larissa não é fácil não (risos). A gente não se bicava muito, mas era aquela coisa silenciosa, não gosta de mim, tudo bem, cada uma segue a sua vida. E quando eu cheguei em Pequim, eu falei, cara, e agora? E isso foi bacana. E logo no primeiro dia a gente deu um longo abraço que não precisou de palavra nenhuma, colocamos a bandeira acima de qualquer coisa. No quarto, a gente conversava muito. E, no final, ela me escreveu uma carta maravilhosa que eu guardo com carinho. Era a primeira olimpíada dela e ela estava muito nervosa. Eu também estava nervosa, mas era a minha quarta olimpíada. Acabamos nos tornando amigas… Foi uma grata surpresa pra mim…