Ngapeth: “Bernardinho foi a melhor coisa que poderia acontecer”
Earvin Ngapeth é, há algum tempo, o principal nome do vôlei francês. Após a medalha de ouro dos Bleus nos Jogos Olímpicos de Tóquio, o status do ponteiro aumentou. Assim como a responsabilidade. No Campeonato Europeu, a primeira competição após o enorme feito obtido no Japão, Ngapeth divide os holofotes com o técnico Bernardinho.
O brasileiro, substituto de Laurent Tillie, será o comandante da França até os Jogos de Paris-2024. E, segundo o próprio Ngapeth, a escolha de Bernardinho foi a “melhor coisa que poderia ter acontecido” com a seleção masculina francesa para o próximo ciclo olímpico.
Nesta entrevista à Federação da França, Ngapeth fala da relação com o treinador, do início do time no Europeu, cinco vitórias em cinco jogos (veja estatísticas), dos planos para o futuro e até sobre um provável confronto com a Polônia, nas semifinais da competição.
Veja a íntegra abaixo:
Os resultados da primeira fase do Europeu foram o que você esperava?
Depois dos Jogos Olímpicos, dissemos a nós mesmos que ia ser difícil arrancar de novo. Em Belfort (cidade onde o time treinou e fez amistosos com a Ucrânia), voltamos aos poucos e houve a mudança de staff que deu um novo fôlego. Acho que jogamos muito bem nessa primeira rodada, estávamos muito à vontade, sem pressão, estamos pegando um pouco a onda dos Jogos, estamos nos divertindo. Eu não diria que estou surpreso, mas um mês depois dos Jogos, não foi fácil entrar em um torneio assim, então estou muito feliz. Essa primeira fase nos permitiu pegar o ritmo da competição, o que é bom.
Le Goff disse esta semana que o fato de vocês estarem juntos, enquanto em outras seleções cada um foi para o seu canto depois dos Jogos, os ajudou a começar de novo para este Europeu. Você concorda?
Sim, isso é claro, embora não tenhamos nos afastado muito, porque todos nós ficamos muito conectados com nosso grupo no What´s App. Mas é verdade que ficamos felizes por nos encontrarmos novamente e, acima de tudo, mal podíamos esperar para ver como seria com a nova equipe e com o Bernardinho. Em Belfort não tocamos muito na bola, fizemos principalmente um trabalho físico para voltar à quadra e poder aguentar essa longa competição, e está indo muito bem.
Como você se relacionava com o Bernardinho antes dele assumir a seleção da França?
Sou muito próximo do Bruno, então quando ele ia vê-lo em Modena, o que acontecia com frequência, tivemos tempo para para nos conhecermos e conversamos muito. Depois, como treinador, eu não o conhecia, mas sabia que ele era um ícone no mundo do vôlei, ele realmente é a melhor pessoa que você poderia ter depois desses dez anos com o Laurent. Para começar de imediato, você precisava de um nome, alguém carismático, que vencesse. O objetivo é se preparar para os Jogos de Paris. Ele já venceu, sabe o que é ter uma Olimpíada no país dele, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido com a gente. Mesmo não tendo descansado muito depois dos Jogos, todos nós mal podíamos esperar para começar com ele. É algo enorme para os franceses ter um treinador assim.
O que você descobriu sobre ele desde que começou a se preparar para este Euro no dia 23 de agosto em Belfort?
Ainda não tivemos muito tempo para nos conhecermos melhor, mas você vê no banco – e já víamos quando éramos adversários – que é alguém que vive as emoções 100%. Ele vive muito os jogos e os treinos, o fato de colocar muito ritmo no treino, muito dinamismo, também nos ajudou a voltar a andar.
Você também é muito intenso em quadra, Ngapeth.
Sim, vamos ter que nos acalmar! Você viu quando teve o pequeno erro de arbitragem (contra a Alemanha), ele ficou louco com o árbitro, eu também. Ele me acalmou, depois foi a minha vez de acalmá-lo (risos). Mas, francamente, é uma coisa boa para a equipe.
Pessoalmente, você tem se sentido muito bem física e mentalmente desde o início deste Europeu. Concorda?
Sim, estou bem comigo mesmo, está indo muito bem com a nova equipe e acho que essa é a mentalidade de todos, estamos nos divertindo muito. Sabemos que é importante ter um bom resultado neste Euro, mas já tivemos sucesso neste verão, por isso tudo o que fazemos aqui é apenas um bónus. Se conseguirmos uma medalha será ainda melhor.
Essa mentalidade é realmente a chave para você?
Sim, principalmente hoje, porque mentalmente está difícil, chegamos no final de um verão que foi muito longo, fizemos três bolhas de saúde. Aí faltam quatro jogos, devemos nos aproximar, com vontade de se divertir, de curtir. Ontem à noite estávamos assim: “O fim do verão está se aproximando, não vamos nos ver por seis meses, precisamos aproveitar esses últimos momentos juntos”.
Para você, depois das emoções do título olímpico, ficou imediatamente óbvio disputar Paris-2024?
Sim, eu sabia disso antes. Falei com Bernardinho por telefone depois que sua nomeação foi anunciada e disse a ele que seguiria depois Tóquio de qualquer jeito. E esse desejo aumentou dez vezes depois dos Jogos. No início, pensamos que seria difícil fazer de novo, porque ainda são muitos sacrifícios com nossas famílias, mas nos divertimos tanto nos Jogos que queremos revivê-los.
Você enfrentará a República Tcheca na segunda-feira, na casa do rival (Ostrava), com torcida. Espera reviver jogos com um pouco mais de pressão e ambiente?
Sim, todos ficamos felizes por jogar contra a República Tcheca na casa deles, porque sabemos que o ginásio vai ficar cheio. Depois de quase duas temporadas com portões fechados, jogar na frente de um público, mesmo que ele seja contra você, faz você se sentir bem.
A República Tcheca necessariamente lembra a eliminação da França nas quartas de final do Europeu de 2017, não muito longe daqui, em Katowice. Quais lembranças você guarda daquela partida?
Foi um Europeu muito complicado, um dos raros momentos ruins que tivemos nos últimos anos, o verão foi longo, com uma Liga Mundial muito longa (que a França havia vencido no Brasil), tivemos lesões. Mas isso é passado. Há um novo grupo, um novo staff, uma nova competição, não vamos pensar muito nisso e vamos entrar nesta partida com uma faca entre os dentes.
Você planeja o restante da competição, Ngapeth? Em caso de vitória, um possível encontro com a Eslovênia. Então, se tudo correr bem, um possível reencontro com a Polônia em frente à sua torcida?
Olhamos para a tabela é claro, mas sabemos que devemos vencer os tchecos, então certamente a Eslovênia, se não der um passo em falso (diante da Croácia), serão dois grandes jogos antes de pensarmos em uma possível semifinal contra a Polônia. Mas, com certeza, se chegarmos lá, será uma grande coisa jogar uma semifinal contra eles na frente de sua torcida, em Katowice.
E depois do Europeu? Terá um descanso ou já estará de volta ao clube?
Modena está à minha espera cinco dias após o fim do Europeu! Isso significa quase sem férias. Depois, vamos retomar aos poucos, conversamos sobre isso em Tallinn com o treinador, Andrea Giani, que também treina a Alemanha, mas terei que ir rapidamente para Modena. Mas estou feliz de voltar (depois de três anos em Kazan), de ver todo mundo de novo, meu irmão (Swan Ngapeth) está lá, meus filhos chegaram ontem com minha esposa, esse retorno me deixa muito animado. Será emocionante rever os torcedores. Modena é a grande família!
O que você vai guardar das três temporadas em Kazan?
É importante em uma carreira poder dizer que você vestiu aquela camisa, para marcar o currículo. Kazan é um clube de alto nível que fez coisas incríveis. Mesmo que não tenha havido todos os títulos que eu gostaria de ter, ainda será uma ótima experiência.