Atletas de vôlei de praia: “Não somos mercenários”
Comissão de Atletas publicou texto nas redes sociais contestando a CBV
A Comissão de Atletas de Vôlei de Praia publicou, nas redes sociais, uma nova carta aberta endereçada para a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Nela, elas rebatem alguns pontos de uma entrevista de Guilherme Marques e Marcelo Hargreaves para o Globo Esporte.
No texto, eles negam que o boicote de várias duplas na primeira etapa do Circuito Brasileiro de vôlei de praia tenha motivação apenas financeira. Confira a íntegra do comunicado, que foi compartilhado por dezenas de atletas nas redes sociais.
“Não. Não somos mercenários. Não se trata “apenas” da premiação. O motivo da nossa não inscrição na próxima etapa do Circuito Brasileiro, se baseia em 3 pontos principais de insatisfação:
1) A maioria dos atletas gostaria de manter o sistema antigo. Não acreditando que a renovação aconteça mudando o formato de competição:
– A CBV pontuou como uma das justificativas para esta mudança o fato do time que vence o qualifying entrar no torneio principal e jogar o primeiro jogo contra um time melhor ranqueado, com um nível técnico melhor. Para a maioria dos atletas, esse “encontro” de níveis gera motivação. Além de ser um parâmetro, para as duplas que estão crescendo, pois normalmente estes times mais bem ranqueados jogam o Circuito Mundial. Pra completar, quando uma dupla perde o primeiro jogo do torneio, ela não está fora da competição. Ela ainda tem a chance de continuar jogando e evoluindo. Podemos inclusive citar que nas últimas etapas os times que vieram do classificatório fizeram jogos duros com os times melhores ranqueados.
– Na nova proposta não houve um aumento no número de etapas como a CBV colocou. O que houve foi a junção do Circuito Brasileiro Open (10 etapas), com a Copa Regional (Antigo Circuito Brasileiro Challenger, que seria composto por 5 etapas).
– Na nova proposta o torneio classificatório seria disputado em um set único de 25 pontos. Como isso irá colaborar com o desenvolvimento dos atletas? Qual o incentivo pra investir em treinamento e competição, em um contexto como este?
2) Redução do valor da premiação. Aqui englobamos a parte financeira do atleta de uma forma geral:
– Na nova proposta houve um corte de aproximadamente R$ 600.000,00 do valor da premiação, em relação ao valor inicialmente apresentado. Corte este que não foi justificado de forma clara.
– Pequenos detalhes, mas que fazem a diferença para o atleta na competição, como a solicitação que os atletas levassem seu próprio material de fisioterapia, caso precisassem de atendimento no evento.
– O vôlei de praia não recebe há anos um aumento real no valor de premiação. Se formos corrigir o valor da premiação ao longo dos anos, nos quais o Circuito Brasileiro vem sendo realizado, chegaremos a conclusão de que hoje a dupla campeã recebe metade do valor que recebia proporcionalmente.
– Antigamente os atletas ranqueados tinham o benefício da passagem aérea, assim como os atletas do voleibol indoor de hoje possuem. Infelizmente este benefício conquistado não existe mais. Lembrando que os atletas de vôlei de praia não possuem salário fixo. A grande maioria é responsável por pagar todas as despesas referentes aos custos de manutenção de equipe e estrutura de viagens para as competições.
3) Falta de diálogo sobre a implantação do novo sistema:
– Não houve a chance de um debate claro e eficiente para discutirmos sobre a nova proposta. Ela foi apresentada no dia 9/12/2021. 8 dias depois a proposta já estava sendo apresentada num programa de televisão sem o nosso conhecimento.
– Na última temporada as 3 melhores duplas brasileiras de cada naipe, dentro do ranking do Circuito Mundial, recebiam apoio para viajar e competir internacionalmente. A CBV quer mudar este formato e não explicou de forma clara quais os critérios que serão usados. Entendemos que o critério até então utilizado era meritocrático.
Ressaltamos que não somos contra apoiar novos times com chance de ascender no Circuito Mundial.
Pra finalizar gostaríamos de mencionar que o fato de termos atletas “mais velhos” jogando o Circuito Brasileiro não deveria ser visto como um “problema”. O vôlei de praia é um esporte longevo. Tal característica deveria ser vista como um fator a mais que agrega valor na modalidade. Emanuel foi medalhista olímpico aos 39 anos. A CEO da entidade, a Sra. Adriana Behar, conquistou sua última medalha olímpica aos 35 anos. A atual campeã olímpica da modalidade, a americana April Ross, conquistou a medalha de ouro aos 39 anos.
No momento muitos atletas que não se inscreveram estão com receio de retaliação, como perda da Bolsa Atleta, perda de condições de treinamento e viagens, por exemplo. Esperamos que nada disso aconteça, pois nosso objetivo único e exclusivo é o melhor para o esporte que tanto amamos. Que cada vez mais atletas se apaixonem pelo vôlei de praia e consigam ter condições de praticá-lo.
Bom, agora vocês já sabem a grande parte das razões pelas quais optamos por não nos inscrevermos. Não se trata apenas do dinheiro. Estamos falando do vôlei de praia. Estamos falando de vidas. De sonhos. Estamos falando de um país que torce e espera de nós sempre o melhor resultado. Chegou a hora de lutarmos pelo ouro também fora das quadras. Chegou a hora de todos lutarmos. JUNTOS! Estamos abertos ao diálogo com a Confederação neste momento. Assim como estivemos desde o início”.