O bronze tem, sim, o seu valor
Análise de Daniel Bortoletto sobre o resultado do Brasil no Campeonato Mundial
O Mundial masculino de vôlei terminou com o Brasil no pódio. Não no lugar mais alto, é verdade. Mas nem por isso a medalha de bronze deve ser vista de forma negativa. Muito pelo contrário.
Sei que muita gente sequer vai chegar ao fim do texto depois de ter lido o título e as primeiras linhas. Para os defensores de que o “segundo colocado é o primeiro dos últimos”, imagine então ser o “segundo dos últimos”? Inadmissível para eles, né! Para mim, o inadmissível é a linha de pensamento de que um bom resultado é somente o de campeão. Será que nada e ninguém prestam sem uma medalha dourada no pescoço?
No vôlei masculino atual, analistas, atletas e ex-atletas, por aqui e em outros países, tem tratado o cenário como o mais parelho das últimas décadas. E realmente existe um equilíbrio de forças não apenas no discurso. Os resultados mostram na prática.
Pouco mais um ano atrás, o pódio olímpico teve França, Rússia e Argentina. No Mundial, as medalhas ficaram com Itália, Polônia e Brasil. Seis seleções diferentes. Se quiser ir além, acrescente a prata dos Estados Unidos na última Liga das Nações. E teremos sete países espalhados pelos pódios em um ano, nas três principais competições do calendário internacional.
Dito isso, o terceiro lugar também não pode servir para transformar o Brasil nas “mil maravilhas”. Na minha lista de favoritos ao pódio, antes do Mundial, eu não havia colocado a Seleção. E falei isso nas lives do Web Vôlei. Ganhar o bronze foi uma surpresa agradável para um time que deixou a desejar na VNL.
Ainda temo pelo processo de renovação a curto prazo. O Brasil, ao fim da disputa pelo bronze com a Eslovênia, tinha em quadra Bruninho (36 anos), Wallace (35), Leal (34), Lucão (36) e Thales (33). Abaixo dos 30, apenas Flávio (29) e Adriano (20), que jogou no lugar de Lucarelli (30), lesionado. Acrescente dois anos a todos eles até a Olimpíada de Paris-2024 e reflita.
Como equilibrar um difícil processo de transição entre as gerações com a manutenção dos bons resultados? Renan Dal Zotto precisa buscar essa resposta. Hoje, o trabalho dele ainda peca neste quesito.
Por Daniel Bortoletto