Mais uma aula do professor Zé Roberto
Daniel Bortoletto escreve sobre mais uma lição dada por José Roberto Guimarães
O dia 11 de outubro de 2022 terá para sempre um lugar especial na memória do vôleifã brasileiro. Data da classificação para a semifinal do Campeonato Mundial feminino com uma espécie de aula prática. O título poderia ser: “A importância do elenco nas grandes conquistas”. Palestrante: José Roberto Guimarães.
O treinador calou a boca de muita gente ao apostar no banco de reservas e sair de um buraco muito profundo nas quartas de final. Não é de hoje que algumas das protagonistas da virada sobre o Japão sofrem com piadas de mau gosto e falta de respeito, o kit completo do kit de veneno dos haters, essa nova e abominável profissão criada pelas redes sociais.
Começo pela oposta Lorenne. Titular no início da Liga das Nações, ela perdeu espaço com atuações ruins, é verdade, e virou terceira opção na posição. Um prato cheio para os haters. Mas nunca deixou de ter a confiança de Zé Roberto. Eu me muito bem lembro das palavras do companheiro Bruno Souza, ao acompanhar os treinamentos da Seleção em Rio Maior, Portugal. Ele ouviu do treinador um relato de confiança em Lorenne, alguém em quem ele acreditava em momentos de pressão. Quer melhor exemplo do que o de terça-feira para provar a tese do tricampeão olímpico?
Incluo nessa lista também Rosamaria. Ela foi trabalhada pela comissão técnica para ser titular na ponta ao lado de Gabi. Fez toda a preparação na Alemanha fora de sua zona de conforto, a saída de rede. Mas voltou a ter um problema de lesão no pé antes da estreia. Tudo que os haters precisavam para questionar a presença dela no elenco. Viu Pri Daroit assumir a titularidade e fazer um grande Mundial. Mas aí veio o problema muscular de Pri na reta final da segunda fase. E Rosa entrou numa baita encruzilhada, tendo de mostrar segurança no passe. E o fez. No ataque, errou no início, mas foi segura da metade da partida em diante.
O que dizer então de Roberta? Me arrisco a escrever que é a atleta que todo treinador quer ter no elenco. Uma jogadora pronta para entrar em qualquer momento, ciente de sua importância no elenco. Para a posição, outra qualidade única: parece ter gelo correndo nas veias. Foi essencial ontem e será essencial neste ciclo olímpico, fazendo com Macris uma dobradinha invejável de levantadoras.
Por fim, Nyeme. Pouco aproveitada no Mundial até as quartas de final. Aniversariante da terça-feira. E provou, em quadra, ser a jogadora de personalidade que muito se ouve nos bastidores. Algumas vezes peca pelo excesso, mas não se esconde nunca. Que baita presente de 24 anos!
Sempre fui reticente sobre a tese de um time ter 12, 14 titulares. Algumas vezes me parece um discurso exagerado. Ontem, o Brasil, de Zé Roberto, deu uma prova que não se faz um time vencedor com apenas sete titulares. É preciso mesmo ter 11, 12, 13…
Por Daniel Bortoletto