Adriana Samuel: “Atleta tem dificuldade em enxergar que a carreira vai acabar”
Medalha de prata nos Jogos de Atlanta-1996 e bronze em Sydney-2000, no vôlei de praia, Adriana Samuel hoje se destaca desenvolvendo ações que vão do social à captação de patrocínio e gerenciamento da carreira e imagem de grandes atletas.
Ela é fundadora e coordenadora do Núcleo de Vôlei Adriana Samuel em Deodoro, no Rio de Janeiro, que além das aulas de vôlei na areia do piscinão, organiza passeios, visitas a exposições e eventos esportivos. Alunos da rede pública de ensino são convidados a participar das atividades gratuitamente, duas vezes por semana. Esse mesmo projeto acontece também no Horto Botânico (Niterói). Adriana é coordenadora também do Projeto Sem Barreira, que oferece aulas gratuitas de iniciação esportiva nas três modalidades – judô, atletismo e vôlei – para 150 crianças e jovens.
Além dos projetos, a medalhista olímpica faz gestão de carreira de atletas como o canoísta Isaquias Queiroz; a nadadora Ana Marcela Cunha; dos quais é empresária.
Para os atletas de vôlei Emanuel/Ricardo; Adriana Behar/Shelda, trabalhou na gestão de vários patrocínios em suas carreiras. Foi gestora do Time Embratel ao longo de dois ciclos Olímpicos – Londres 2012 e Rio 2016. Atualmente é gestora do projeto Time Petrobras, que prepara para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2021.
Em entrevista ao Web Vôlei, Adriana Samuel sobre a função de empreendedora social, que exerce há 16 anos e como administra o pós-carreira dos atletas.
WEB VÔLEI – Muitos atletas têm dificuldades no pós-carreira: falta de orientação, pouco acesso ao estudo, dificuldade de recolocação. Como foi a sua transição das quadras para o pós-carreira?
ADRIANA SAMUEL – Na verdade, foi das areias. Depois das quadras, joguei por 12 anos na praia. Dei muita sorte na minha transição, pois nem tive tempo para pensar no que fazer. Foi algo natural. Um mês depois de eu parar, recebi um convite das minhas “antigas” adversárias, Adriana Behar e Shelda, para ser manager delas, com a função de prospectar patrocínios para a dupla.
O vôlei de praia foi um grande laboratório, pois na estrutura da praia o atleta administra a própria carreira. O atleta tem que correr atrás do seu próprio patrocínio, contratar seu treinador e toda equipe multidisciplinar. Isso foi a minha escola. Ali eu vi a minha veia empreendedora e comercial. Algo que sempre tive comigo.
Durante esse meu período na areia, sempre fiz essa parte de captação e gestão de parceiros, o que era algo que eu amava fazer. Esse era o meu descanso. Então, a minha transição, de certa forma, foi muito tranquila.
Logo depois da Adriana e Shelda, vieram os trabalhos com a dupla Emanuel e Ricardo, Tande e Giovane, dentre outros. E em paralelo, comecei a desenhar o meu projeto social, que se tornou realidade em 2004.
A maior dificuldade foi adequar a rotina e dinâmica de vida. Nós, atletas, vivemos numa “bolha”, onde é tudo muito no automático: treino, academia, viagem e competições. Eu era tão focada naquilo, que para mim o pior foi diminuir meu ritmo e sair dessa dinâmica do dia a dia. Sofri um pouco para me adaptar à uma rotina mais “normal”.
WEB VÔLEI – Quais dicas você pode dar para quem está na ativa, mas já perto do momento de parar de jogar?
ADRIANA SAMUEL – Todo atleta tem muita dificuldade de enxergar que a carreira vai acabar. Quando você está no auge da carreira esportiva é muito difícil perceber que, um dia, tudo vai chegar ao fim. E digo isso por mim também. A dica que eu daria é para que o atleta não espere a carreira acabar para começar a pensar no que ele vai fazer. É MUITO IMPORTANTE que comece a se planejar essa transição ainda na ativa. Se a ideia é seguir no esporte, por exemplo, recomendo que visite equipes/projetos sociais, para assim ir adquirindo conhecimento sob uma outra ótica. Teste vocacional e cursos de idioma também podem ajudar bastante no pós-carreira.
WEB VÔLEI – De onde veio a sua inspiração para criar e coordenar projetos sociais com viés esportivo? Quantas pessoas já foram atendidas pelos seus projetos desde a criação?
ADRIANA SAMUEL – Minha inspiração veio do sentimento de gratidão por tudo que o esporte me deu e por entender seu poder transformador e inclusivo. Se o esporte transformou tanto a minha vida e do meu irmão (Tande), que viemos de uma família classe média, imagina o impacto que pode causar na vida das pessoas de classe sociais menos favorecidas. O esporte ajudou na minha formação como pessoa e a consolidar os valores que recebi dos meus pais, como perseverança, disciplina, respeito e humildade. Aprendi a ganhar, perder, reagir, lidar melhor com a pressão e a ter capacidade de adaptação. Tudo isso carrego comigo pra vida. E é isso que quero passar adiante. Sobre o número de crianças atendidas: até agora, cerca de 3 mil já passaram pelo projeto.
WEB VÔLEI – Como tem conseguido driblar as limitações impostas pela pandemia para mantê-los?
ADRIANA SAMUEL – É uma situação dificílima para todo mundo e para os alunos dos projetos não poderia ser diferente. A gente percebe que, tanto os alunos quanto os familiares não veem a hora de as atividades presenciais voltarem. Mas, os projetos não pararam totalmente. Conseguimos mostrar, com aulas e ações online, que o afastamento é apenas físico, que estamos juntos nesse momento. Fizemos várias ações virtuais com os alunos, como o campeonato de robôs com tampinhas recicláveis, por exemplo, ações em comemoração ao Dia das Mães e Dia dos Pais. Os alunos comemoraram o dia do Folclore também. Enfim, estamos usando a criatividade para driblar as limitações impostas pela pandemia.
WEB VÔLEI – Como você vê o cenário do esporte brasileiro neste ciclo olímpico?
ADRIANA SAMUEL – O mundo inteiro está passando por uma situação extremamente desafiadora e, para os alunos dos projetos não poderia ser diferente. A gente percebe que tanto os alunos, quanto os familiares, não veem a hora das atividades presenciais voltarem. Mas os projetos não pararam. Conseguimos mostrar, com aulas e ações online, que o afastamento é apenas físico, mas que estamos juntos nesse momento. Fizemos várias ações virtuais com os alunos, como campeonato de robôs com tampinhas recicláveis, comemoração do dia das mães, dia dos pais e o dia do Folclore. Estamos usando a criatividade para driblar as limitações impostas pela pandemia. E ansiosos para a retomada de nossos encontros!
WEB VÔLEI – Qual análise faz do atual momento do vôlei de praia brasileiro?
ADRIANA SAMUEL – O vôlei de praia brasileiro tem muita tradição. Nos jogos Olímpicos Rio 2016, fomos prata no feminino e ouro no masculino. O vôlei de praia mundial evoluiu muito e atualmente vemos um grande equilíbrio técnico. Não há mais o domínio de um único país. Mas, o Brasil tem atletas muito fortes e talentosos, além de excelentes treinadores e profissionais capacitados. Vejo o Brasil chegando muito forte nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021.