Al Hachdadi polemiza ao detonar passagem pela Polônia
O marroquino, ex-Taubaté, criticou a forma como foi tratado na Plusliga
Na última semana, o oposto Mohamed Al Hachdadi concedeu entrevista à BO Sport e falou sobre a sua carreira. O veterano de 30 anos já atuou por inúmeras ligas ao redor do mundo, como Qatar, Finlândia, Coreia do Sul, Turquia, França, Itália, Brasil, Polônia e atualmente defende o Belogorie Belgorod da Rússia. A passagem pelo vôlei brasileiro na temporada 2019/2020 foi pelo Funvic/Taubaté, agora em Natal. Na época comandado por Renan Dal Zotto, Mohamed elogiou a liga brasileira e disse que foi a melhor liga em que já jogou:
– Não estou falando sobre o nível do jogo, mas sobre o todo. Clima maravilhoso […] você podia ir ao treino de bermuda e chinelo, nem precisava de camiseta. Tudo era excelente. Até o mundo descobrir o coronavírus. O covid destruiu tudo.
Era desejo da comissão técnica que ele permanecesse no Taubaté, mas por questões financeiras o clube não estava em condições de fechar contratos de alto valor. Então, acabou recebendo uma proposta para jogar na Polônia, no Jastrzebski Wegiel. Mas lá a experiência não foi das melhores: “o pior ano de minha carreira pelo que aconteceu dentro da equipe”, descreveu o oposto da seleção do Marrocos.
– Fui nomeado MVP num primeiro jogo, no segundo novamente, no terceiro também e foi assim por cinco partidas seguidas. E eu senti que a equipe reagiu a isso com inveja: “Um cara do Marrocos chegou agora e está ganhando toda a atenção. Somos poloneses, como ele pode ser melhor?”. Eles não gostaram de mim. Havia dois estrangeiros novos no time, eu e o francês Louati… Meio que ficamos longe do resto do time […] Não éramos convidados para jantares, nem para tomar café. Era como se não existíssemos para o resto – disse.
O marroquino ainda explicou outra situação que o deixou bastante decepcionado com o clube polonês:
– Na semifinal contra o Varsóvia marquei 25 pontos, vencemos no tie-break, só que depois do jogo, Lucas Kampa (levantador do time) veio até mim e disse: “Você ouviu as últimas? Disseram que estavam satisfeitos comigo, que iriam prorrogar meu o contrato, mas às escondidas, já contrataram Toniutti para a próxima temporada […] e tem mais… o contrato de Toniutti diz que Boyer deve acompanhá-lo”. Me senti apunhalado pelas costas, então disse a mim mesmo: “Já que a equipe não se preocupa com você, pense em você mesmo. Decidi me concentrar no Ramadã.
A entrevista de Mohamed repercutiu imediatamente, principalmente na Polônia, o que levou ao central Yuri Gladyr se pronunciar. O ucraniano era o capitão do time na oportunidade e negou qualquer tipo de atrito. Ele ainda disse que a equipe o recebeu muito bem Al Hachdadi e que eles eram amigos. Em sua opinião, o oposto pode ter ficado com ressentimentos contra seus colegas sobre o ocorrido no final da temporada.
Este ano, o Ramadã, o mês de jejum muçulmano, foi de 12 de abril a 12 de maio, coincidindo com as finais da PlusLiga quando Jastrzebski Wegiel encarou o Zaksa Kedzierzyn-Kozle, nos dias 14 e 18 de abril. O que fez com que o oposto não estivesse em plena forma e assim sem repetir as melhores performances. Al Hachdadi marcou quatro pontos nas duas partidas finais contra o Zaksa. Apenas 17% dos ataques foram bem-sucedidas, uma média bem abaixo do que ele tinha apresentado ao longo da temporada.
– Quando descobrimos antes das partidas finais que o cara não comia nem bebia direito há vários dias, foi um banho gelado. Na verdade, tínhamos perdido um jogador importante. Nos treinamentos ficava claro que ele não estava no seu melhor. Se não fosse por seu substituto, Bucki, provavelmente não teríamos vencido o campeonato polonês. Eu entenderia se Mohammed entrasse no vestiário e tivesse nos comunicado sobre sua decisão, acho que qualquer um de nós entenderia – comentou Gladyr, enfatizando que respeita a religiosidade de seu ex-colega e a decisão de colocar sua fé acima do trabalho.
Mohamed Al Hachdadi ressaltou que está feliz e motivado pelo desafio constante que é jogar na Rússia, atualmente o Belgorod ocupa apenas a oitava posição da Superliga, porém o oposto é o grande destaque do time, somando 203 pontos em nove partidas.
Por Robson Leal, em colaboração ao Web Vôlei