
Análise: Brasil vai da enorme expectativa para a dura realidade
A expectativa pela campanha do Brasil no Campeonato Mundial masculino de vôlei era enorme. O time fez uma boa Liga das Nações (VNL) e tinha escapado das principais potências da modalidade em um caminho convidativo até a disputa por uma medalha nas Filipinas. Talvez por isso a frustração pela eliminação ainda na primeira fase seja tão grande.
Um possível pódio se transformou no pior resultado do país na história da competição. E esse resumo bem simplista é um prato cheio para escolher vilões e tirar conclusões na linha do “nada presta”, “é o fim da modalidade no país”, “os mais velhos devem se aposentar” e “os mais novos não prestam”. Para quem deseja apenas curtidas e cliques, um prato cheio.
Esse roteiro se repete a cada derrota dolorosa das Seleções. Basta trocar os nomes e atualizar as datas. Até por isso usarei esse espaço mais uma vez para tentar estimular uma reflexão tocando em temas dos mais variados setores do ecossistema do vôlei brasileiro. E vou abordar um por dia para tentar não ser raso.
Antes de tudo, é impossível fazer qualquer análise da derrota para a Sérvia sem incluir no contexto a morte da mãe de Bernardinho. Vê-lo publicamente segurar o choro e enxugar as lágrimas, já em quadra, certamente mexeu com o time. Estamos falando de um líder, um exemplo de sucesso, um comandante renomado. E ele estava humanamente fragilizado como qualquer filho que perde a mãe. No caso dele, distante milhares de quilômetros do restante da família no sempre difícil momento da despedida.
Isso registrado, dois dias depois de fazer sua melhor atuação no Mundial diante da República Tcheca, o Brasil teve o seu pior desempenho no ano. Ninguém desaprende a jogar a jogar em 48 horas. Por isso destaco o primeiro ponto para reflexão: o lado mental.
Estamos de acordo que ele foi importante ou até decisivo na derrota para a Sérvia no Mundial masculino pelo evento excepcional acontecido horas antes do jogo, certo? O mesmo foi levantado em recentes partidas importantes da Seleção feminina, com derrotas em finais. E o discurso se repete nos insucessos das categorias de base em Mundiais, amargando longo jejum de títulos. Acham coincidência? Eu não acho.
Por mais que o tema venha ganhando a devida relevância nos últimos anos no mundo esportivo, com atletas admitindo problemas e expondo fragilidades, eu vejo o vôlei tratá-lo ainda de forma secundária ou com menor importância do que deveria.
Um time viaja com a “coach” para uma competição, outro faz o trabalho com um psicólogo na preparação inicial em Saquarema. Individualmente alguns atletas fazem um acompanhamento fora da temporada de seleções. Tudo isso é verdade. Mas não enxergo um trabalho pensado, estruturado e coordenado pela CBV para fazer do “pilar mental” um diferencial no cenário cada vez mais equilibrado e com novos países protagonistas no vôlei.
E esse citado equilíbrio do vôlei atual será o gancho da análise de amanhã. Um enorme tabu dentro do Brasil do “apenas o primeiro lugar serve”.