Análise: convocação olímpica coerente da Seleção feminina
Daniel Bortoletto faz uma análise da convocação de José Roberto Guimarães
A esperada convocação da Seleção Brasileira feminina para os Jogos Olímpicos demonstra muita coerência de José Roberto Guimarães e sua comissão técnica. As 12 escolhidas para Tóquio são o que de melhor o país tem à disposição neste momento.
A Liga das Nações, em Rimini, foi encarada com dois objetivos principais: tirar as últimas dúvidas para a convocação e dar ritmo para um time titular, algo que o Brasil sofreu para fazer neste ciclo olímpico. E aos poucos esses objetivos foram sendo alcançados na bolha italiana.
Gabi e Fernanda Garay se firmaram nas pontas com Natália em recuperação de cirurgia. Não havia dúvida sobre a titularidade de Macris, Tandara e Camila Brait. Restava o meio de rede. Carol Gattaz afastou qualquer dúvida sobre o peso da idade ou falta de rodagem neste nível internacional pela longa ausência, ficando merecidamente na seleção do campeonato. Já Carol mostrou ser a melhor opção na ausência de Thaísa. Base titular definida, o passo seguinte foi fechar as 12.
Rosamaria foi quem melhor aproveitou a VNL para carimbar o passaporte. Ficou fora dos primeiros jogos por lesão e deu conta do recado quando acionada nas inversões do 5-1. E, apesar de admitir o desconforto de atuar na ponta, treinou na posição e ganhou pontos pela versatilidade na comparação com Sheilla e Lorenne, ainda mais em um elenco com apenas 12 jogadoras.
Por falar em Sheilla, a história da bicampeã olímpica não será manchada pelo corte. Já tem espaço garantido no rol das melhores do esporte no país em todos os tempos. Tentou voltar após a maternidade, mas não atingiu o nível físico necessário para o altíssimo nível. Mas deu sua contribuição, internamente, quando Zé Roberto detectou que faltava “um certo espírito de Seleção” no elenco durante o ciclo, principalmente entre as mais jovens. Já Lorenne teria ido para a Olimpíada caso ela tivesse acontecido em 2020, com mérito, pelo que mostrou na Copa do Mundo. Tem um caminho aberto para Paris-2004.
No meio de rede, Bia foi a escolhida. Não vive o melhor momento da carreira, isso é um fato. Mas ainda tem a confiança da comissão técnica, por ter feito todo o ciclo olímpico e como titular em grande parte dele.
No levantamento, admito que tinha dificuldade para “interpretar” o que mais pesaria na escolha para Tóquio: ter uma atleta muito experiente no banco de reservas ou levar duas estreantes. Será que isso pesaria a favor de Dani Lins, em detrimento ao melhor momento de Roberta? Não pesou. Hoje Roberta está jogando mais, entrou melhor nas inversões e fica com a vaga com mérito.
Por fim, a presença de Ana Cristina é também uma aposta para o futuro. Com apenas 17 anos, foi convocada pela primeira vez para a Seleção adulta na VNL. É verdade que jogou pouco. Na única oportunidade como titular, sentiu. Era até esperado. Mostra que ainda tem muito a evoluir, tanto na parte técnica quanto na emocional. E isso faz parte na lapidação de uma joia rara como essa. Ela é diferenciada. Na última terça-feira, quando participei da gravação do podcast do Nalbert, ao lado da Fofão, disse que a pouca utilização de Ana Cristina também poderia ser encarada como uma forma de “esconder o jogo”. Uma estratégia para não dar tanto material de estudo para os adversários olímpicos. Quem não quer ter um fator-surpresa à disposição?
Em resumo, é o melhor Brasil que Zé tem à disposição no momento.
Por Daniel Bortoletto