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Especiais - 9 de novembro de 2019

Análise: Mais do que um título para o São Paulo/Barueri


O título inédito do São Paulo/Barueri no Campeonato Paulista feminino, conquistado na noite de sexta-feira, no Ginásio José Liberatti, em Osasco, premiou uma aposta ousada do técnico José Roberto Guimarães no São Paulo/Barueri.

Após a última Superliga, o tricampeão olímpico viu a Hinode, patrocinador master, reduzir drasticamente o investimento. Jogadoras renomadas deixaram o time e a continuidade do projeto chegou a ser questionada. Sem conseguir buscar no mercado novos apoiadores para manter o orçamento, a saída foi apostar em jovens. Algumas das categorias do próprio Barueri, o grande xodó de Zé Roberto, e outras jovens pinçadas a dedo no mercado, sabendo ser impossível brigar por “nomes” de Seleção.

Ter sobrevivido em um cenário adverso chegou a ser comemorado por pessoas do projeto. Então festejar, meses depois, o título estadual deve estar fazendo muita gente se beliscar para ter certeza de que é verdade.

Com a jogadora mais velha tendo 26 anos, Barueri possui uma média de idade no elenco de 21. Várias campeãs paulistas adultas ainda jogam competições das categorias de base. Algumas são titulares efetivas pela primeira vez na carreira neste nível. E jogaram a segunda semifinal, em Bauru, e grande parte das duas decisões como gente grande.

Admito ter ficado muito impressionado com o volume de jogo da equipe. O que defende a líbero Nyeme é uma grandiosidade. Ela é a peça principal de uma engrenagem defensiva capaz de irritar qualquer adversário. Coloca para cima ataques e largadas, fazendo parecer fácil as ações. Quem tiver a oportunidade de ver o replay do jogo nos canais SporTV, repare nos elogios feitos por Fabi, a maior de todos os tempos na posição no feminino. Melhor do que qualquer coisa extra que eu escreva aqui.

Comemoração das campeãs (Rubens Chiri/Divulgação)

E o que dizer de Maira, tão criticada por muitos de nós recentemente? Ganhou uma confiança absurda e se transformou num dos pilares do time até no setor ofensivo, uma característica nova no estilo de jogo. Tainara, quase uma desconhecida do grande público até ser convocada por Zé Roberto para a Liga das Nações, tem uma carreira enorme pela frente. Zé sabe, faz questão de acompanhá-la de perto faz tempo, conversando com familiares e buscando ajudar a nortear todos os passos. Ela ainda precisa ser lapidada, mas já demonstra enorme potencial. Kisy, ainda mais jovem, é outra pedra bruta. Uma oposto canhota e alta. Isso valerá ouro daqui alguns anos. É preciso ainda citar a importância de Juma, a “vovó” do elenco aos 26 anos, e a confirmação de Mayany, o principal reforço de Barueri após despontar muito bem no Itambé/Minas na temporada passada.

E Lorenne merece parágrafos apenas dela. Tímida, de poucas palavras e vinda de temporadas apagadas, a oposto parecia relegada ao status de eterna coadjuvante. Chegava a ser surpreendente até vê-la em lista de convocações para a Seleção, seis meses atrás. E veja como é o destino. Tandara se lesiona. Bruna Honório passa por cirurgia no coração. Rosamaria pede dispensa. Sheilla nos próximos passos após a volta da aposentadoria de quatro anos. E se aproxima assim a chance de Lorenne. Começou a VNL como reserva de Paula Borgo. Acabou indo para a fase final, na China, após Tandara ser cortada. Foi bem e seguiu no grupo. No Sul-Americano, foi eleita a MVP. E quando foi acionada no Pré-Olímpico correspondeu.

Lorenne
Lorenne festeja (Rubens Chiri/Divulgação)

Desde então, as piadinhas pejorativas e ofensivas em redes sociais se transformaram em comparações com grande craques da atualidade, como Egonu e Ting Zhu: “Egorenne”, Ting Renne” e outras tantas variações. Assumiu o protagonismo na equipe de Barueri e desequilibrou no Paulista. Hoje, eu diria, que está mais perto de carimbar com muita justiça o passaporte para a Olimpíada de Tóquio, algo inimaginável até o primeiro semestre.

Por fim, Zé Roberto parecia mais leve nas últimas partidas que vi pela TV, um semblante bem diferente do mostrado nas temporadas recentes na Seleção. Sabe da importância de lapidar essa safra para deixar um legado promissor para quem for substituí-lo na equipe verde-amarela após Tóquio. Dono de três medalhas olímpicas, ele talvez esteja iniciando com o atual São Paulo/Barueri o mais importante trabalho de clubes da carreira para ajudar na manutenção do Brasil entre os tops do planeta em 2024, 2028…

Por Daniel Bortoletto