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Colunista convidado - Destaques - 26 de março de 2021

Artigo do André Heller: Esporte e empreendedorismo


Existe relação entre o esporte e o empreendedorismo?

A resposta é absolutamente sim! E, ao considerarmos os aspectos fundamentais que compõem cada uma das áreas, perceberemos que são, na verdade, análogas. No Brasil, no que diz respeito à condição do esporte como área profissional, a Constituição Federal de 1988 destaca que o esporte de rendimento é uma das três formas de manifestação do desporto no país, e a Lei nº 9.615/98 (conhecida como Lei Pelé), de 1998, em seu art. 3º, destaca que o desporto de rendimento profissional caracteriza-se “pela remuneração pactuada em contrato formal de trabalho entre atleta e a entidade de prática desportiva”.

Entretanto, consideraremos aqui o rendimento esportivo dos atletas como objeto de discussão principal, pois é no desempenho, sobretudo nos resultados provenientes do desempenho, que habitam os fatores que determinam o sucesso desses profissionais peculiares.

Para Tubino (1987), o esporte de rendimento (performance) “traz consigo a procura de constantes êxitos esportivos como: vitórias sobre adversários, ultrapassagem das próprias marcas e obtenção de recordes”. E é justamente quando pensamos em performance, vitórias e superação de resultados que começamos a conectar o esporte ao empreendedorismo. Todo atleta que pretende conquistar objetivos e resultados, independentemente do nível da sua prática, precisa perceber sua trajetória e carreira como o seu principal empreendimento.

Na dinâmica do atual mercado profissional, a mentalidade empreendedora não é só privilégio das grandes organizações e empresas. Qualquer profissional que queira investir no seu próprio negócio, mesmo que o seu principal produto seja fruto do seu desempenho esportivo, deve apropriar-se e empoderar-se dos atributos provenientes do mind set empreendedor. Empreendedorismo, segundo o Sebrae, “é a capacidade que uma pessoa [ou organização] tem de identificar desafios e oportunidades, desenvolver soluções e investir recursos na criação de algo positivo”, seja para a sociedade, seja para benefício próprio.

Sendo assim, atletas de alta performance, mesmo dispondo do suporte de equipes multidisciplinares, como treinadores, fisioterapeutas, médicos, nutricionistas e psicólogos, devem gerir as suas carreiras e performances com protagonismo, responsabilidade, desenvolvendo o melhor de si através de um processo de capacitação continuada. Esse processo envolve riscos inerentes, pois o ambiente esportivo é um cenário de incertezas e alta competição, em que a busca por eficiência, eficácia e constância é exaustiva e custosa.

O pensamento empreendedor, segundo Longenecker e Shoen (1975, p. 27), valoriza o profissional que assume o papel de protagonista do seu empreendimento, decidindo sobre objetivos e metas, como e onde usar recursos, buscando inovar e criar continuamente. O empreendedor identifica oportunidades e assume riscos em cenários de incerteza. Dessa forma, responsabilidade, autonomia, inovação e riscos são componentes que fazem parte também da carreira de qualquer atleta de alto desempenho, do mesmo modo que constituem a essência do empreendedorismo.

No início da história do esporte, a sociedade percebia os atletas e a prática esportiva como amadora. Todavia, com a evolução do ambiente esportivo nas últimas décadas, os atletas transformaram-se em profissionais com características bem definidas, visto que o mercado esportivo adquiriu propriedades de outros ambientes mercadológicos.

Em um mundo altamente volátil, complexo, incerto e de transformações contínuas, é indispensável que o atleta de alta performance seja um empreendedor que compreenda a sua própria carreira como uma plataforma de negócios. É imprescindível identificar oportunidades, investir recursos, buscar capacitação continuada e assumir riscos, pretendendo, assim, o desenvolvimento, a longevidade e resultados cada vez melhores para o seu “empreendimento”.

Check list de um atleta & empreendedor de sucesso

Assume responsabilidades e riscos
Tem autonomia
Sonha racionalmente
Possui capacidade de realização
Busca resultados de longo prazo
Planeja
É inovador
Tem flexibilidade e capacidade de adaptação
Investe em capacitação continuada
Possui capacidade de aprender e desaprender
Transforma pensamentos em ações
Tem pragmatismo e discernimento
Sabe construir uma rede de apoio
Cultiva a inteligência emocional

Referências:
LEI nº 9.615, de 24 de março de 1998 (Lei Geral do Desporto ou Lei Pelé).
TUBINO,M.J. Teoria geral do esporte. São Paulo: Ibrasa, 1987.
MAS AFINAL, O QUE É EMPREENDEDORISMO? Sebrae, 2019. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae. Acessado em: 22 março 2021.
Longenecker J. e Schoen, J. (1975). The essence of entrepreneurship. Journal of Small Business Management, 13(3),26-32.