Coluna: Arbitragem precisa ser discutida no Brasil
Análise de Daniel Bortoletto sobre as recentes contestações sobre a arbitragem
Rodada após rodada, o Brasil vê o crescimento da insatisfação de atletas e treinadores com a arbitragem. São incontáveis os questionamentos, passando por aspectos técnicos do vôlei, critérios diferentes para análise de lances parecidos e o tratamento dado a partir de contestações sobre marcações polêmicas.
A partir disso, alguns pontos precisam ficar claros para facilitar a interpretação de quem se arriscar ler até o fim:
– Não existe erro zero na arbitragem. Assim como não existe erro zero para o levantador, para o ponteiro, para o central…
– A ausência da tecnologia em grande parte dos jogos da Superliga aumenta a quantidade dos erros “corrigíveis” dos árbitros
– Existem falhas aceitáveis, por conta da velocidade de um lance, e outras não, principalmente quando a arbitragem vira protagonista de jogos
Isso posto, vale citar aqui alguns exemplos recentes de jogos polêmicos com a arbitragem no foco central: Dentil/Praia Clube x São Paulo/Barueri, pela Copa Brasil, Sesi Bauru x Sesc e Sesc x Osasco Audax pela Superliga feminina, Vôlei Renata x Sada Cruzeiro, pela masculina. Peguei quatro exemplos recentes, nítidos na minha memória, mas poderia ter escolhido outros tantos.
Existe algo em comum entre eles? Sim: o uso exagerado de cartões para tentar controlar o jogo. E aqui vem, inicialmente, uma opinião pessoal. Para mim, esse fenômeno recente tem chamado a atenção no Brasil. E tem estragado várias partidas. Em busca de manter a autoridade, diante de tantas contestações de técnicos e atletas, a arbitragem usa e abusa dos cartões. E, com os vermelhos, o custo aumenta, com pontos dados para o adversário. E eles têm decidido jogos. Não existe treinamento mental capaz de manter uma equipe “zen” diante de tal cenário.
Sinceramente, absolvo árbitros pela marcação de uma bola dentro ou fora por centímetros, ainda mais sem ajuda do vídeo-check. Mas acho um exagero sair distribuindo cartões. Às vezes vejo a situação como falta de critério. Alguns podem exagerar e não são punidos. Outros rapidamente são advertidos. Não pode existir essa diferença de tratamento.
Não sou a favor de caças às bruxas. Mas defendo a transparência. A Cobrav, a comissão nacional de arbitragem, poderia deixar claro quando considerou uma atuação ruim e quais medidas tomou para melhorar. Exemplos: afastamento de xx rodadas para reciclagem, admissão do erro e um treinamento constante para deixar os critérios mais parecidos. Outros esportes já fazem isso.
Vou repetir aqui a expressão que ouvi de um ex-árbitro sobre uma boa atuação: “quando ele passa despercebido no jogo, a arbitragem foi ótima”. Hoje isso não tem sido a regra no vôlei.
Por Daniel Bortoletto