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Coluna - Destaques - 10 de fevereiro de 2019

Coluna: Sonhos interrompidos

O incêndio no Ninho do Urubu e a perda de dez sonhadores


Filho, o que você vai ser quando crescer?

– Jogador do futebol.

No Brasil, a resposta é quase óbvia para um pai ao questionar o filho, na infância, sobre sonhos para o futuro. É cultural, faz parte da rotina de centenas de milhares de pessoas nos quatro cantos do país do futebol. Eles ganham bolas e uniformes do clube do coração desde os primeiros aniversários. Qualquer campinho esburacado ou rua sem movimentação de carros vira um Maracanã para eles. Dois chinelos se transformam em trave. E a cada gol uma comemoração espelhada nos craques vistos pela TV.

Eu já ouvi essa resposta algumas vezes, com dois garotos de 12 e 10 anos em casa. Eles praticam o esporte como lazer desde pequenos, conheceram amigos nas peladas de fim de semana, treinam futsal ao término das aulas na escolas, acompanham futebol pela televisão, sabem nomes do zagueiro de Leicester, do lateral do Ceará, não esquecem a data da primeira vez da ida a um estádio…

– Hoje eu fiz um gol no treino – disse um deles na quinta.

– Estou bravo. Meu time perdeu quatro jogos – completou o outro.

Muito do tempo livre deles até aqui gira em torno da modalidade. Até por isso, na ingenuidade das crianças, o sonho de ser jogador de futebol no futuro é possível, sim.

Sonho que milhares de garotos Brasil afora estão muito mais perto da concretização. Já foram aprovados em peneiras, treinam em grandes clubes, possuem títulos nas categorias de base, já são empresariados, convivem no mesmo espaço de craques renomados do profissional. Mas infelizmente para dez deles, nesta sexta-feira, os sonhos foram interrompidos de forma trágica, no Ninho do Urubu.

Jorge, Vitor, Christian, Pablo, Bernardo, Arthur, Athila, Gedson, Rykelmo e Samuel. Todos eles com desejos parecidos com os de Thiago e Luca, meus filhos, para o futuro.

Como profissional do esporte desde 1999, questiono se houve falhas do Flamengo, falta de fiscalização do poder público, descaso de quem deveria cuidar daqueles jovens como filhos. Como pai, os meus mais sinceros votos de solidariedade neste momento para os familiares dos dez anjos que se foram.

Capa da edição do LANCE! deste sábado (Reprodução)

COLUNA DE DANIEL BORTOLETTO PUBLICADA ORIGINALMENTE NO LANCE!, NESTE DOMINGO, 10 DE FEVEREIRO