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Coluna - Superliga - 4 de novembro de 2022

“Desafio para todos” não será para todos

Opinião de Daniel Bortoletto sobre mais um impasse no vôlei brasileiro


As redes sociais dos vôleifãs foram tomadas pela frase “Desafio para todos CBV” nestes últimos dias. Engajamento de quem, assim como este que vos escreve, não consegue mais ver o vôlei profissional sem a ajuda da tecnologia para auxiliar a tomada de decisão da arbitragem. Não é mais uma questão de gosto pessoal, mas sim uma necessidade, transformando erros, muitas vezes imperceptíveis para alguns pares de olhos humanos, em acertos corrigidos pelas máquinas.

Infelizmente não será na temporada 2022/2023 que a Superliga no Brasil verá a tecnologia utilizada por todos os participantes em todos os jogos. Como vocês já perceberam nas primeiras rodadas, as partidas acontecem sem o auxílio do olhar eletrônico. E dá-lhe reclamações por um ponto cá, outro lá,  validados pela falta da correção da tecnologia. E eles vão prosseguir durante toda a fase de classificação.

No fim da tarde desta sexta-feira (4/11), a CBV divulgou uma nota oficial sobre a situação (leia abaixo na íntegra). E garante a tecnologia apenas nos playoffs. Uma pena mais uma vez!

Nos últimos anos, alguns jogos de clubes no Brasil tiveram o desafio por conta de um movimento particular do Sada Cruzeiro. O clube adquiriu o equipamento e repassou posteriormente a operação para a Federação Mineira. E assim era possível ver a Superliga com a devida modernidade. Na temporada passada, a CBV comprou mais dois equipamentos. Para esta edição da Superliga, a entidade nacional comprou mais seis. E ainda assim o processo não avança. Faltam entendimento sobre as responsabilidades, dinheiro para a operação e compartilhamento de conhecimento para operar a tecnologia. E até coragem para assumir a “guarda” dos equipamentos.

A CBV, como “dona” da Superliga, quis terceirizar custos com os clubes. Muitos não aceitaram e o processo travou. Veio então a sugestão de usar a última classificação da Superliga definir quem poderia ter o desafio em seus jogos. Gerou a mesma sensação de injustiça já discutida anos atrás, quando apenas alguns times mineiros tinham o auxílio em suas partidas. E nesta queda de braço, ano após ano, todo o ecossistema do vôlei brasileiro perde. E assim o “desafio para todos” é realmente um grande desafio para todos na modalidade se entenderem ao redor de uma mesa em prol de um vôlei melhor e mais moderno.

Veja a nota oficial da Confederação Brasileira:

“A CBV não mede esforços para que a Superliga, mais importante competição do vôlei nacional, seja um produto cada vez mais moderno e atraente para fãs, jogadores e clubes. Na temporada 2020/2021, a CBV iniciou o uso do sistema de Desafio, para auxiliar os árbitros em lances difíceis e duvidosos, proporcionando condições técnicas ainda melhores para a competição. Na temporada 2021/2022, a CBV garantiu a utilização do sistema nos jogos da fase final da Copa do Brasil e nos playoffs da Superliga 1XBet. Para a temporada 2022/2023, a CBV adquiriu mais seis sistemas de Desafio – até 2021/2022 eram dois. Os equipamentos já foram utilizados nas finais da Supercopa.

A CBV adquiriu os novos sistemas por meio da Lei Nacional de Incentivo ao Esporte, e foi responsável por taxas e encargos de importação obrigatórios, licença do software, complementação com itens não inclusos no projeto e treinamento de operadores. Finalizada essa etapa, propôs aos clubes que disputam a Superliga um plano de compartilhamento dos sistemas por regiões (sedes próximas). Seriam levados em consideração critérios como número de jogos de cada sede com transmissão pela TV, proximidade e capacidade de armazenamento. Alguns clubes alegaram não ter interesse no uso do equipamento por razões que incluíram ausência de orçamento para sua operação, insegurança para garantir a guarda dos equipamentos e a necessidade de locação de veículos especiais para transporte e de operação fora do horário comercial. Cabe lembrar que em outras Ligas Nacionais, como a Italiana, o regulamento prevê que cada clube deve possuir o próprio sistema de desafio e operá-lo em todos os seus jogos como mandante.

Em nova proposta, a CBV sugeriu distribuir os equipamentos pelo critério técnico de ranking, levando em conta a colocação das equipes na última temporada. Neste caso, os clubes que recebessem os equipamentos seriam responsáveis por decidir e informar em quantos e quais jogos da fase classificatória eles seriam utilizados. A CBV ainda aguarda a resposta dos clubes sobre essa nova proposta.

O sistema de Desafio será utilizado em todas as partidas dos playoffs das Superligas masculina e feminina.
Todas as decisões sobre o uso dos equipamentos foram amplamente discutidas com os clubes, de forma transparente e contínua. Todos os dados foram apresentados, inclusive o custo de aquisição dos equipamentos e a divisão de deveres de todas as partes. Os clubes são responsáveis pela operação do equipamento durante as partidas (incluindo seus custos) e pela capacitação e treinamento de novos operadores. Cabe à CBV os custos de compra dos equipamentos, das licenças de operação e da logística de envio, além do pagamento dos oficiais de arbitragem. A CBV continua acreditando que o trabalho conjunto, sempre baseado na confiança, na transparência e no respeito, é fator fundamental para o crescimento do vôlei nacional”.

Por Daniel Bortoletto