Diário de viagem 6: uma indicação errada e acabei na semi do judô
Mais um texto do Daniel Bortoletto sobre curiosidades e bastidores dos Jogos de Paris
Nos Jogos Olímpicos existem diferentes tipos de credenciais de imprensa, cada uma com acesso mais restrito ou liberado. Aquela para os detentores de direito de transmissão, uma geral para cobrir todos os esportes e outra específica, utilizada por veículos segmentados, como o caso do Web Vôlei.
No meu caso, acesso para vôlei e vôlei de praia, exatamente o que eu preciso. Neste domingo (28/7), pela primeira vez, fui conhecer a bela arena montada aos pés da Torre Eiffel. E, no caminho até lá, acabei por engano dentro da arena do judô, vendo a semifinal do brasileiro Willian Lima contra o cazaque Gusman Kyrgyzbayev.
Depois de encarar os trâmites de segurança (abre a mochila, retira laptop e celular e passa pelo RX), me deparei com um espaço nunca antes visitado. Olho as placas, fico com uma dúvida sobre o caminho a seguir e pergunto a um funcionário, parado na entrada de uma grande construção.
– Como faço para chegar ao vôlei de praia?
Ele olha a credencial, passa o scanner do celular dele no QR Code para comprovar a validade e diz:
– Pode entrar por aqui mesmo. Logo à esquerda.
Agradeço, entro e me deparo com diversas estruturas metálicas de escadas. Subo alguns lances e começo ouvir ao longe: “Hajime”. Era o começo das finais do judô neste domingo. Um olhar mais atento e vejo no tatame justamente o brasileiro Willian Lima, na metade da sua semifinal.
Dei aquela congelada. Sei que estar em lugar não permitido pela minha credencial pode dar problema. Olho para o relógio com a contagem regressiva e falta por pouco mais de um minuto e meio para o fim da luta, empatada sem pontuação naquele momento.
Meu anjinho interno sussurra:
“Sai logo e vai procurar o jogo da Duda e da Ana Patrícia”
O diabinho rebate:
“Ficou maluco? Se ele ganhar, vai pra final e conquista a primeira medalha do Brasil em Paris.
Para quem gosta de esporte, o argumento do diabinho era tentador. Fiquei e torci por um wazari ou ippon do Willian naqueles 90s que faltavam. Luta segue sem pontuação e vai pro golden score, a atual prorrogação da modalidade.
“Vai dar BO”, provoca o anjinho.
Sigo no meu cantinho, de pé numa escadaria. O tempo parece uma eternidade, até o brasileiro conseguir a pontuação e vencer a luta. Medalha garantida no judô.
Desço as escadas, passo pelo mesmo funcionário, solto aquele “merci” tradicional, caminho um minutinho e opto por perguntar para um voluntário sobre o caminho. Desta vez ele aponta o correto:
– Olha pra cima e vai se guiando pela Torre Eiffel. É bem tranquilo.
Me senti meio burro, mas um burro com sorte neste domingo.
Por Daniel Bortoletto em Paris