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Entrevista - 8 de maio de 2020

Estudar, jogar e ajudar os pais em casa: a rotina de Maique na quarentena


Nova rotina de treinos, muitos desafios superados e foco total no futuro e em novas conquistas. Esses são alguns dos pontos destacados pelo jovem líbero Maique, do Fiat/Minas, na Entrevista da Semana divulgada nesta sexta-feira pela assessoria de imprensa do clube.

O jogador minastenista, que é campeão da Copa do Mundo 2019, campeão do Sul-americano 2019 e vice-campeão do Mundial 2018, todos pela seleção brasileira, relembrou o início da carreira, quando teve que superar adversidades e preconceitos; contou como tem sido os treinos durante a quarentena, devido à pandemia de covid-19; e comentou o que espera para o futuro na sua carreira e a busca pelo sonho de ser um jogador olímpico. O jogador também responderá outras perguntas em uma live no instagram @mtcvolei, nesta sexta-feira (8/5), a partir das 20h.

MINAS – Como tem sido os treinos e atividades em casa? Tem cuidado da alimentação? O que é possível fazer para estar próximo de um dia a dia de treino normal?

MAIQUE – A rotina de treinos em casa tem mudado bastante. Não se compara à rotina que a gente tinha treinando todos os dias e jogando, mas eu tento me aproximar disso o máximo possível. Procuro fazer primeiro um trabalho de ‘cardio’, pulando corda, e depois começo a fazer a ficha que o Davidson (preparador físico do Minas) passou, trabalhando com o peso corporal. Também tento sempre manter contato com a bola. Eu tenho uma em casa e fico brincando na parede, para tentar não ficar esse tempo todo sem fazer minhas atividades. Em relação à alimentação, é meu foco estar sempre me alimentando bem, em casa estou consumindo mais frutas, que não era um hábito que eu tinha tanto. Minha alimentação está bem regular, que é o que mais preocupa nessa época, porque não treinamos na mesma intensidade de antes.

MINAS – Como tem sido os seus dias de quarentena? Está com a família? Tem feito outras atividades?

MAIQUE – Tinha dois ou três anos que eu não conseguia vir para casa e ficar mais de um mês com a minha família, poder aproveitar minha família e a minha casa, porque a rotina de clube e seleção é bem intensa. Então, ficar em casa tem sido gostoso. A minha rotina está sendo estudar inglês, jogar jogos no computador, estar com meus familiares e ajudar o meu pai, porque estamos reformando a casa. Ele é pedreiro, eu sempre ajudei, e agora estou dando mais esse suporte para ficar tudo do jeito que eles querem.

MINAS – Com o encerramento da Superliga, a temporada 2019/20 acabou. Qual o momento mais marcante da temporada para você? O que destaca como mais positivo no time Fiat/Minas?

MAIQUE – O momento mais marcante para mim na temporada foi a reta final da Superliga, antes do encerramento. Nosso time vinha em uma crescente, trabalhando muito, até mesmo para buscarmos o melhor de cada um nos playoffs. Foi um momento de muita superação, perdemos alguns jogos no meio do turno de bobeira, e superamos. O ponto positivo da nossa equipe era a garra e a determinação, a gente sempre trabalhou muito para correr atrás dos nossos objetivos, que era cada um estar no seu melhor na reta final, estávamos conseguindo buscar isso e, infelizmente, a Superliga foi encerrada. Dou parabéns para toda nossa equipe, tanto atletas quanto a comissão técnica. A competição encerrou de uma forma que não queríamos, mas todos estão de parabéns pelo empenho.

MINAS – O Nery é um técnico que gosta de trabalhar bem os fundamentos com os jogadores. Como o trabalho desenvolvido no Minas auxilia no seu desenvolvimento técnico?

MAIQUE – Sempre foi uma honra e um prazer trabalhar com o Nery. Desde muito novo, na base, ele tem agregado muito. Não só na parte técnica, mas no lado pessoal, como ser humano e atleta. Todo o trabalho desenvolvido na base do Minas me fez chegar onde cheguei hoje. Graças a ele, de enxergar potencial em mim desde muito novo e acreditar nesse potencial, e eu também ter acreditado no trabalho dele e de todos da comissão. Está sendo um trabalho magnífico, sou completamente grato por estar no clube certo, com as pessoas certas e no momento certo. Acho que foi de grande importância para mim e espero construir e trabalhar mais ao lado dessas pessoas.

MINAS – Como foi o início da sua carreira? E quando aconteceu a troca de posição de ponteiro para líbero?

MAIQUE – O início da minha carreira foi muito difícil, por vim do interior e ser de família simples, passei diversas dificuldades, passei fome, e sofri com preconceito, como racismo e homofobia. Mas isso foi me fortalecendo, me fez crescer como ser humano e atleta. Isso me marcou muito, até porque sempre fui muito determinado em buscar o que eu queria, independentemente do que acontecesse na minha vida. Se as pessoas queriam me menosprezar, eu usava isso como força. A minha transição de posição aconteceu quando o Sérgio Veloso, que era meu técnico na seleção mineira Infanto-juvenil, optou em me levar de líbero. Eu era ponteiro, mas isso me deu um ‘start’, eu queria me ver jogando na posição de líbero e aqui estou. Amo o que eu faço. Não foi tão difícil, ate porque hoje eu só não salto, mas faço o fundo de quadra e a parte técnica de recepção. Acho que foi de grande importância o Sergio ter me dado esse toque, porque hoje estou aqui graças a esse toque do passado.

MINAS – Como foi para você integrar a seleção brasileira principal tão novo?

MAIQUE – Foi um sonho que eu não imaginava que iria acontecer tão rápido, com 21 anos. Era algo que eu pensava que poderia ser com 24/25 anos. Mas acho que foi por merecimento e graças ao meu trabalho, por ter me entregado e ser determinado desde muito novo. Eu sempre quis alcançar esse patamar e quero ir mais longe, buscar uma vaga em uma seleção olímpica, um ouro olímpico. Acho que para mim, integrar a seleção principal hoje é um dos meus maiores sonhos e conquistas. Só tenho a agradecer a todos que fizeram parte dessa trajetória, que contribuíram um pouquinho para que eu chegasse até aqui.

Maique
Maique segue treinando em casa na quarentena (Divulgação)

MINAS – Você fez parte das últimas conquistas da seleção brasileira. Como se planeja para conquistar mais espaço e estar nas próximas convocações?

MAIQUE – O planejamento é sempre não se acomodar. Não vou me confortar com o que já conquistei hoje, sempre quero mais, busco mais e sei que posso mais. É seguir trabalhando, com foco total, para buscar cada vez mais espaço no mercado brasileiro e internacional e também na seleção. O sonho de todo atleta é ser um jogador olímpico, ser campeão olímpico e estou buscando por isso. Que a próxima temporada seja abençoada e de muito trabalho, porque assim tudo vai dar certo.

MINAS – Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram adiados. Com isso, todos os atletas terão um ano a mais para se preparar e tentar uma vaga na seleção. Como você vê esse tempo a mais?

MAIQUE – Com o adiamento, tenho mais um ano de preparação. Esse tempo a mais é um tempo muito precioso, ainda mais para nós que somos novos e poderíamos estar fora de uma convocação por causa da idade ou falta de experiência. Isso não só para mim, mas para vários atletas. Acho que um ano e uma temporada a mais de trabalho vai ser muito importante para estar um passo à frente, sempre buscando por esse objetivo. Vai ser um tempo muito precioso e de muita dedicação.

MINAS – Quais são os seus planos e sonhos pessoais? O que tem vontade de fazer e/ou conquistar?

MAIQUE – Meus planos e sonhos é ser campeão olímpico e, quem sabe, ser o melhor do mundo. Ser multicampeão, fazer história na minha posição, assim como o Serginho fez, deixar um pouco do meu legado. Mostrar para as pessoas que todos nós temos direito de sonhar e buscar por aquilo que a gente almeja, basta ser persistente e correr atrás dos objetivos. Outro sonho é poder proporcionar mais coisas para a minha família, que é a minha base de tudo, poder dar um pouco mais de conforto para eles.

MINAS – Você era muito novo quando veio para o Minas. Quais conselhos daria, hoje, para aquele Maique jovem e que estava chegando em um grande clube, mudando para uma cidade grande e deixando a família?

MAIQUE – O conselho que eu daria para mim mesmo quando cheguei é ser persistente, e isso é uma coisa que sempre fui. Estar uma cidade grande, longe da família e jogar em um clube novo tem muitos de desafios e turbulências. Acho que temos que ter sempre perseverança, persistência e muita dedicação. Abraçar a oportunidade que vier, mesmo nas dificuldades. Aprender com os erros e com a vida.