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Destaques - Entrevista - Superliga - 12 de março de 2021

Guilherme Schmitz: “Agarrei com unhas e dentes”

Técnico do Fluminense faz balaço da oportunidade recebida e projeta futuro do time


Guilherme Schmitz foi um dos responsáveis pela manutenção do Fluminense  na elite do voleibol. Com cinco vitórias nos seis jogos em que ocupou o cargo de técnico, ele comandou a virada que manteve o Tricolor na Superliga para a temporada 2021/20222.

Também treinador das categorias infanto e infantil do Flu e assistente técnico da Seleção Brasileira feminina sub-20, Guilherme, falou ao site do clube, falou sobre a temporada e o futuro do time.

Por que esta temporada foi tão difícil para o Fluminense?

Acredito que esta temporada foi difícil para todos os times. O início da pandemia foi um período de muitas incertezas e tivemos um lockdown que impediu as atletas de treinarem por mais de três meses, o que para o esporte de alto rendimento é preocupante. Além disso, fomos para o mercado tarde devido a algumas incertezas, como nossa própria participação na Superliga. Enfim, tivemos um início tardio e fizemos contratações pontuais que tiveram um período inicial de treinamento muito curto, tanto para o Estadual quanto para a Superliga. Demorou para que o time entrasse em quadra em condições normais de jogo. Ainda aconteceram algumas lesões e alguns casos de covid que nos desfalcaram e impediram uma sequência de treinamento e escalação da equipe para ganhar ritmo de jogo. Hora nenhuma tivemos tempo para montar uma equipe que considerávamos ideal.

Teve um momento ou um fato específico que marcou a melhora de desempenho do time? Alguma coisa que aconteceu e fez o time “virar a chave”?

Teve sim, quando conseguimos sanar os problemas das lesões e tivemos uma sequência de treinos. Os casos de covid também cessaram, então houve uma evolução física do grupo. Isso deu sustentabilidade ao trabalho. Lógico que a mudança de técnico deu uma sacudida em todo mundo, inclusive na comissão técnica, mas o principal foi termos conseguido dar uma sequência aos treinamentos. Também conversei com as atletas e expliquei que elas tinham que acreditar. Provar para nós mesmos que éramos capazes de reverter aquele cenário. Na véspera da viagem para o jogo decisivo contra o São José dos Pinhais, tivemos uma conversa com o presidente do clube, Mario Bittencourt, na Sala de Troféus, e ele contou a história de como surgiu o nome “Time de Guerreiros”. Isso foi muito importante. As atletas viram que, mesmo com 99% de chances de rebaixamento, o time de futebol se manteve na Série A. Elas viram que nós também podíamos conseguir e o projeto ganharia uma nova história. A vitória seria um divisor de águas para o voleibol do Fluminense.

Você comandou o time em seis partidas (duas quando Hylmer Dias cumpria isolamento devido ao coronavírus e quatro quando assumiu a equipe na reta final da fase de classificação) e pontuou em todas elas, com cinco vitórias e uma derrota no tie-break. O que você acredita que fez a diferença nesses jogos?

Treinadores têm pontos de vista diferentes para cada situação. Se você der a mesma equipe para quatro técnicos diferentes, eles podem até ter ideias parecidas, mas terão pontos de vista diferentes. Eu acho que para jogar a Superliga, uma competição duríssima, é primordial jogar com mais velocidade. Essa foi a ideia que tentei implementar. Não fiz nenhuma mágica, nenhuma ação completamente diferente. Criamos objetivos curtos dentro dos treinos e o principal era ter qualidade nesses treinamentos e não quantidade. Estudamos muito os adversários e nosso próprio time. Foi fundamental olharmos para o nosso lado, corrigir os nossos erros e ajustar os mínimos detalhes.

Na reta final, jogadoras experientes tiveram atuações decisivas e atletas jovens também responderam muito bem. O Fluminense deve seguir investindo nessa mistura em seu elenco?

Sem dúvida vamos investir sempre em jovens talentos, essa sempre foi a essência do voleibol do Fluminense, e também vamos atrás das oportunidades no mercado. Temos que manter os pés no chão, saber qual será o orçamento, as definições finais de estratégia e o que vamos projetar a longo prazo. O Fluminense é hoje um dos quatro primeiros clubes em número de atletas servindo às seleções de base e jogadoras formadas no clube já disputam a Superliga há muitos anos. Com certeza, um dos objetivos é inserir essas jovens do clube no time adulto, mas também entendemos que é necessário ter atletas mais experientes para termos esse equilíbrio. Vamos manter essa filosofia porque acredito que dá muito certo. Veja a Rose, Lelê, Julia Moura, Stephany. Meninas que são sucesso na base e, sempre que solicitadas no time adulto, atenderam às expectativas da melhor forma possível.

Você também é técnico das categorias de base do Fluminense e nesta temporada atletas como Mayara, Rose e Lelê tiveram mais espaço no time devido ao alto número de lesões. Atletas reveladas no clube podem ganhar mais oportunidades?

Elas tiveram oportunidade e vão seguir assim se fizerem valer dentro da quadra. Sempre falo que o atleta é o que ele produz. O técnico não vai escalar ninguém por nome, faixa salarial. Isso não existe. Ninguém assina contrato de titularidade. Vemos isso no nosso elenco do futebol, o quanto as revelações de Xerém tem ganhado espaço no time profissional. E essa mistura foi o sucesso do Fluminense essa temporada no futebol. Não tem porque ser diferente, principalmente em um momento que vivemos uma pandemia e todo mundo tem restrições financeiras. O Fluminense sempre produziu muitos talentos em Xerém e Laranjeiras e temos que fazer com que esses talentos tragam alegrias para nós.

Você é jovem e, apesar da experiência como auxiliar técnico, foi a primeira vez que você assumiu o comando do time na Superliga. Como recebeu essa responsabilidade?

Na vida, sempre me preparei para diferentes cenários. Nunca gostei de ser pego de surpresa. Quando surgiu a oportunidade, me sentia preparado para o desafio. Lógico que o momento não foi ideal, não foi da maneira que eu acho que tinha que ser, mas quando apareceu a oportunidade agarrei com unhas e dentes. Entrei em uma ‘bolha’ durante três semanas, onde a gente tinha sete pontos de desvantagem e tínhamos que reverter uma situação complicadíssima. A família comprou a ideia e mergulhei de cabeça nessa imersão dentro da equipe nessa reta final. Foram as três semanas mais intensas da minha carreira, que valeram por muitos anos de trabalho. Uma experiência única e um momento marcante na história do voleibol do Fluminense. Daqui a dez anos vão lembrar quem foi o campeão da Superliga e vão lembrar dessa linda história que o Fluminense construiu nessa reta final e escapou do rebaixamento.

Guilherme Schmitz
Flu durante a Superliga (Mailson Santana/Flu)

Já estão planejando a próxima temporada? O que fazer para o time voltar a se classificar para os playoffs na próxima edição da Superliga?

Já estamos planejando, sim, a próxima temporada, definindo estratégias de crescimento interno e uma visão profissional. Hoje, o esporte de alto rendimento não permite mais uma gestão amadora, tem que ser uma gestão profissional. O que foi feito até aqui foi fantástico, mas é preciso dar um passo à frente, é preciso crescer e enfrentar certas dificuldades com profissionalismo, estratégia e planejamento. Isso é que dá segurança para trabalharmos com tranquilidade. A volta aos playoffs é uma meta, a grandeza do Fluminense não permite que o time brigue na parte debaixo da tabela. Tenho certeza que essa é a visão do clube, a visão do nosso vice-presidente de Esportes Olímpicos, Márcio Trindade, que sempre impulsionou o voleibol do clube. Sempre falo que sonhar pequeno dá o mesmo trabalho que sonhar grande. Temos que sonhar grande, estar de volta nos playoffs, confirmar nosso crescimento, melhorar nossa estrutura, dar condições às atletas crescerem não só dentro da quadra, mas fora da quadra também. Essa é a visão do clube para dar esse salto de qualidade necessário. Nosso presidente tem feito uma gestão fantástica, tentando sanar os problemas e estando próximo não só do futebol como do esporte olímpico. Com essa reestruturação de trabalho vamos brigar na parte de cima da tabela em pouco tempo.

Como você começou no vôlei, quando decidiu ser técnico e o que planeja para o futuro no esporte?

Comecei no vôlei como atleta. Joguei medianamente até o juvenil, no vôlei de praia e na quadra, no time da Hebraica. Como não era um atleta muito alto e nem com tantas habilidades diferenciadas, resolvi estudar. Fiz um ano e meio de engenharia e resolvi trocar para educação física, que era o que eu amava. Meu pai sempre me falou que não importava o que fizesse na vida, eu tinha que ser o melhor e minha mãe ficou um pouco preocupada com a mudança. Em 2003 tive a oportunidade de entrar no Fluminense como estagiário e fui recebido pelo Hylmer (Dias) e pelo Alexandre Dantas, o Alexandrinho. Sempre pensei que seria um preparador físico, que era uma área que gostava muito. Até que um certo dia o Alexandrinho me chamou e falou: ‘A partir do ano que vem você será técnico do pré-mirim’. Disse que não me sentia preparado, mas ele não me deu escolha, falou que se eu não quisesse o cargo, estaria fora. Como queria estar dentro de qualquer jeito, agarrei a oportunidade. Lógico que não fiz um trabalho de excelência em um primeiro momento, mas tomei gosto pela coisa. Depois fui subindo de categoria e, em 2013, fui chamado para ser assistente de uma seleção brasileira e estou lá até hoje, na seleção sub-20. Em 2005, também fui chamado para ser assistente técnico da Shelda e da Adriana Behar. Depois fui assistente da Shelda e da Ana Paula. Então essa transição para técnico aconteceu de forma muito natural. Sonho no futuro ser técnico da seleção adulta e, quem sabe, um dia representar meu país nos Jogos Olímpicos. Esse é o meu sonho e corro atrás dele todos os dias.