Luizomar sobre a Olimpíada com o Quênia: “Aprendi muito”
Técnico escreveu sobre a experiência olímpica em Tóquio com o time africano
O sorriso contagiante das jogadoras da seleção feminina do Quênia será uma das marcas do torneio olímpico de vôlei em Tóquio. As cinco derrotas na primeira fase não fizeram, em nenhum momento, o astral do time africano ser diferente. No banco de reservas, Luizomar de Moura e a comissão técnica brasileira aprenderam lições para o restante da carreira. Mais do que isso: para a vida toda.
O treinador escreveu um texto sobre o trabalho de quase três meses com a seleção queniana e a experiência de participar de uma Olimpíada pela primeira vez. Luizomar teve ao seu lado cinco membros da sua equipe no Osasco/São Cristóvão Saúde: o assistente técnico Jefferson Arosti, o preparador físico Marcelo Vitorino de Souza, o fisioterapeuta Thiago Menezes Lessa Moreira, o estatístico Leonard Lopes Barbosa e o gerente de marketing Beto Opice.
Confira o texto de Luizomar de Moura na íntegra:
“Toda semente tem seu tempo para germinar, crescer e dar frutos. Para que a natureza complete esse ciclo, é preciso arar o solo. Um trabalho árduo, de paciência e lutas constantes. Ao final da safra, a colheita farta faz saber que cada gota de suor valeu a pena.
Plantamos uma semente no voleibol do Quênia. Trabalhamos para que a participação na Olimpíada de Tóquio marque o raiar de um novo dia para a modalidade no país. E nada mais emblemático que isso ocorra na terra do sol nascente.
O desafio de comandar um grupo inexperiente no esporte internacional exigiu uma mudança de percepção, um novo olhar. Após décadas de trabalho e triunfos tanto nas categorias de base da Seleção Brasileira como à frente do time de Osasco, deveria ser difícil entrar no vestiário após ver a minha equipe ser superada em quadra na maior competição esportiva do planeta.
Não foi.
E não foi justamente porque estamos na fase da semeadura. Quando é preciso mergulhar fundo na terra e saber esperar o momento de romper as barreiras do solo até começar a crescer. Por isso, o meu sentimento, da comissão técnica que me acompanha nessa missão, e das atletas, é de missão cumprida nesse início de jornada.
É de alegria pela vitória do aprendizado.
Ao longo desses incríveis dois meses de trabalho à frente do voleibol queniano, me encantei com a alegria das atletas e sua disposição. Até mostrei um pouco disso nas redes sociais. A partir de agora, meu desejo é que elas continuem sendo conhecidas por esse sentimento contagiante, mas também reconhecidas por uma evolução dentro de quadra.
E tenho certeza de que a experiência em praticar o vôlei em meio ao alto padrão internacional, convivendo nesse ambiente e com grandes atletas, confirmará tudo o que trabalhei para ensinar às jogadoras quenianas durante a fase de preparação.
Esse será o primeiro passo na jornada rumo a excelência no esporte. Como todo plantio, a colheita leva tempo. Com a continuidade da nossa proposta de trabalho, o dia de exibir todo o potencial físico, técnico e tático das quenianas chegará.
A experiência de realizar o sonho olímpico traz aprendizado não só para elas. Também aprendi muito. E em diversos sentidos. Principalmente sobre a coragem de encarar um grande desafio simplesmente pela importância de um propósito maior. É como entrar em uma guerra sabendo não ter armamento suficiente e nunca fugir da luta porque se acredita na causa. Foi isso que eu, a comissão técnica e as atletas sentimos e fizemos.
Lutamos o bom combate. E o resultado do bom combate é sempre positivo. Esse tipo de ideal e atitude forjam os heróis olímpicos. E todo o time queniano tem sido heroico nessa jornada. Quero expressar meu orgulho e gratidão a todos os envolvidos nesse projeto Quênia. O destino levou esse filho do Brasil ao seio da mãe África para ajudar a escrever um novo capítulo da história do voleibol queniano do outro lado do mundo.
E esse é apenas o primeiro capítulo
Luizomar de Moura”.