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Destaques - Entrevista - 3 de julho de 2020

Mari e Fabi relembram 2008: “Fofão e Walewska eram respeitadas”

"Fofão e Walewska não carregavam bolas. Só as suas mochilas", conta Fabi


Em live com a líbero Fabi na quinta-feira à noite, a ponteira Mari relembrou sua trajetória na Seleção Brasileira, desde a chegada, em 2003, com 19 anos, a titularidade precoce no ano seguinte, a atuação incrível com os 37 pontos na semifinal contra a Rússia nos Jogos de Atenas, em 2004, e a redenção com a conquista do inédito ouro olímpico, quatro anos depois, em Pequim-2008.

– Quando acabou o jogo (a derrota para a Rússia, de virada, na semifinal de Atenas), lembro que o meu maior desespero era achar de que nunca mais estaria novamente numa final olímpica, aquele era um dream team né… pensei, depois vai vir todo mundo novinho e não vamos vir como favoritas. E o universo nos presenteou com outra chance. Imagina, eu tinha 19, tinha acabado de fazer 20 anos. era o choro de que achava de que nunca mais chegaria a uma final olímpica de novo – contou Mari, hoje com 36 anos, e tentando carreira no vôlei de praia ao lado de Paula Pequeno.

O Web Vôlei separou alguns dos momentos da live. Confira abaixo:

INÍCIO NO VÔLEI

MARI – Comecei a jogar vôlei meio que por obrigação. Eu gostava de jogar handebol, futebol, natação, pingue pongue, basquete… eu não gostava de vôlei, mas eu estava crescendo muito mais do normal para a minha idade e sofria bullying na escola. Eu andava meio curvadinha na escola e minha mãe me obrigou a entrar no vôlei. Falou que se eu não jogasse vôlei não ia poder jogar o resto, futsal, handebol… aí fui jogar vôlei. Como era a mais alta, comecei a me destacar. Mas, demorou para eu tomar gosto

VERSATILIDADE DESDE NOVA

MARI – No começo, lá na base, eu era central. Fazia de tudo, passava, atacava no meio, aprendi a bater china, a atacar na saída, na ponta, bola rápida, bola alta… o que não é muito comum hoje em dia. Isso acabou favorecendo a minha carreira. Eu acabei sendo o coringa dos time, e na seleção também. Pedia para fazer algo diferente, eu fazia. Sempre adorei.

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INÍCIO DA CARREIRA

MARI – Cheguei na base de Osasco em maio de 2000, com 16 anos. Em 2003 joguei o Paulista, aproveitando que as titulares estavam na Seleção e fui um dos destaques. Joguei no lugar da Bia, que era a titular da Seleção. A Bia voava. Queria ser igual a ela. Uma das opostas que não era alta, mas que colocava a bola no chão… Antes dela tinha a Leila…

PRIMEIRA CONVOCAÇÃO PARA A SELEÇÃO EM 2003

MARI – Foi tão rápido, não deu nem tempo de pensar. Eu via as meninas jogando só pela TV. Jogava contra, mas nunca tinha jogado junto. Nunca imaginava nem ser convocada, muito menos ser titular. Era uma das poucas que não tinha nada a perder. Eu falei: vou encarar. Quando o Zé começou a montar o time comigo de titular lembro que muta muita gente começou a questionar: “Essa menina é muito nova, ela não vai dar contar”…. e aquilo me incentivava muito… tudo bem, sou nova, mas sou grande, estou me destacando, estou treinando, estou fazendo a minha parte. Tive a oportunidade de chegar num time em que confiavam em mim, a Fernanda confiava em mim, o Zé Roberto confiava em mim. Tanto que no Grand Prix que a gente jogou antes da Olimpíada, por um ponto eu não fui a maior pontuadora. Foi tudo muito rápido. Foi mais rápido do que eu imaginei naquela época.

FABI – MARI, VOCÊ SE DEU CONTA, DEPOIS DA DERROTA PARA A RÚSSIA, DA SUA PONTUAÇÃO, DE QUE VOCÊ TINHA MARCADO 37 PONTOS NUMA SEMIFINAL OLÍMPICA?

MARI – Não. Eu não sabia da pontuação. Eu estava muito focada no jogo. Eu lembro que o Zé Roberto bateu muito em duas teclas: ele falou: “Mari, você não venha atacar pra dentro”. A Gamova estava parada na minha frente, aquela mulher de 2,04m de altura. Ele falou: “Você não vem pra dentro, vem pro corredor dela o jogo inteiro”. E eu fiquei pensando: uma jogadora um pouquinho esperta, a hora que eu der duas, três no corredor… mas não, eles tinham uma estratégia real. O Karpol e tal, que era deixar o meu corredor. Mas, pra dentro, que era a minha melhor bola, na ocasião, eu não podia virar. Eu ataquei duas no corredor e a terceira eu fui pra dentro e tomei no pé, falei nossa, ferrou, me pegaram. Então, lembro de duas coisas: que eu tinha de ir no corredor e que o Zé falou que eu iria receber muitas bolas nesse jogo que eu iria assumir o jogo, que iria receber muita bola.Quando eu errei três bolas no quarto set na ponta, eu lembro que uma tocou no bloco e aí fui reclamar e tomei cartão e foi mais um ponto… aí lembro que comecei a ficar angustiada. Quando acabou, fiquei muito chateada porque naquela bola fui com tanto amor e carinho, porque fui para derrubar e… ela saiu por muito pouco.

CHORO NO FINAL

MARI – Quando acabou, o meu choro foi de desespero de estar com o jogo na mão para fechar e estar na final. E lembro que o meu maior desespero foi de achar de que nunca mais estaria novamente numa final olímpica, aquele era um dream team né… pensei, depois vai vir todo mundo novinho e não vamos vir como favoritas. E o universo nos presenteou com outra chance. Imagina, eu tinha 19, tinha acabado de fazer 20 anos. era o choro de que achava de que nunca mais chegaria a uma final olímpica de novo. Foi difícil dormir, engolir. Mas ficou. A levantadora vai dar a bola decisiva para quem ela confia.

LESÃO

MARI – Eu joguei aquela olimpíada de 2004 com o ombro machucado, tendo de tomar três anti-inflamatórios por dia. Em 2005, eu não conseguia prender o cabelo sozinha. Na hora de assinar o contrato eu tive de segurar o braço para pegar na caneta e assinar. Foi quando o Benê falou, não, assim não dá, você vai operar.

HIERARQUIA

FABI – Em Pequim, Fofão e Walewska eram os nossos pilares. Existia uma certa hierarquia. As mais novinhas carregam mais bola, as mais velhas carregam menos. A gente fez um pacto de que a gente não deixava a Fofão e a Walewska carregarem nada, só a mochila delas (risos). A gente tinha um respeito enorme. A gente pensava, graças a Deus que temos a Fofão aqui, vamos dar valor para essa mulher (risos)… Fofão voltou para a Seleção em 2006. Precisávamos dela.