Maria Elisa desabafa: “Somos punidas por engravidar”
Maria Elisa Antonelli criticou o fato de as atletas que engravidam perderem pontos no ranking
A atleta do vôlei de praia Maria Elisa Antonelli, 37 anos, usou as redes sociais, nesta quinta-feira, para expor sua insatisfação ao fato de ter perdido 25% da sua pontuação no ranking por ter ficado sem jogar durante tempo da sua gestação e o primeiro ano do bebê. Maria Elisa disputou os Jogos de Londres-2012 ao lado de Talita (foram eliminadas nas oitavas de final) e conquistou o Circuito Mundial de 2014 ao lado de Juliana. Leia, abaixo, na íntegra, o texto da jogadora:
“Atleta pós gravidez
Escrevo este depoimento, não para me beneficiar de nada, mas para desabafar e quem sabe poder um dia mudar um regulamento que para mim não faz sentido algum. Que para as próximas que decidirem ter filhos, não sejam punidas como eu, Talita, Renata, Naiana, Carol Solberg, Maria Clara, Elize Maia, Fernanda Berti, Kerry Walsh, Laura Ludwig, Rebecca, Liliane Bacherizo e várias outras que decidiram engravidar.
Quando decidi ser mãe eu sabia que não seria nada fácil meu retorno, assim como não foi de nenhuma que decidiu voltar a jogar. Você ganha bastante peso, perde força, seu centro de gravidade muda, passa 9 meses muitas vezes com dores lombares, volta aos treinos com estas dores, fica mais suscetível a lesões por causa dos hormônios, você acorda várias vezes a noite, carrega o bebê, agacha e levanta várias vezes ao dia, tem dificuldade de conseguir parceira (não foi o meu caso), perde patrocinadores, perde ritmo de jogo, joga contra todos os times que estão no seu melhor e o regulamento depois de tudo isso te pune com 25 % dos seus pontos retirados, tanto no Circuito Brasileiro quanto no Circuito Mundial.
Qual a justificativa para esta retirada de pontos ? Porque decidimos ser mães ? O que há de errado nisso ?
Você faz excelentes resultados ao longo da sua vida, passa 15 anos entre as melhores do mundo, engravida entre as 10 primeiras atletas rankeadas do mundo e um regulamento pode te inibir a querer desenvolver o papel mais lindo e poderoso que existe, que é gerar uma vida. E pode inibir sim, porque nem todas as jogadoras tem uma sobra financeira para ficar parada 1 ano e meio, voltar e investir tudo de novo. A longevidade do meu esporte faz com que muitas de nós joguemos até mais de 40 anos e todos sabem que engravidar depois dos 35 aumentam os riscos na gravidez. Depois dos 40 então mais ainda.
Ser da aeronáutica foi primordial pro meu retorno. Sem este programa de atleta de alto rendimento seria impossível pagar o minha equipe. Ser mulher mãe não deveria ter dificuldades a mais do que já tem. Os homens podem ser pais na hora que eles quiserem, fisicamente não são prejudicados. Não diretamente.
Mas não vim aqui ficar fazendo comparações, até pq tem uma outra questão com os homens que viram pais. Porque não congelar também os pontos deles por uns meses para que eles possam desenvolver melhor o papel deles junto a suas companheiras, caso eles queiram e precisem ?
Eu não sei quanto aos outros esportes, mas precisamos tentar mudar esta realidade no vôlei de praia para ontem. A Atleta americana Allyson Felix foi muito feliz em expor a falta de visão e sensibilidade que um patrocinador teve com sua decisão de ser mãe. Isso aconteceu comigo também quando um patrocinador me mandou mensagem no dia seguinte com o encerramento do contrato. Mas, depoimentos como o dela reforçam que não podemos não expor esta situação que em pleno 2.021 infelizmente ainda existem.
Que a CBV, a FIVB, os patrocinadores e todas instituições que cuidam de todos os esportes enxerguem o outro lado da história. Porque tem que ser mais difícil do que já é ?
Gerar uma vida foi a melhor coisa que fiz na vida e voltar a jogar também. Me sinto mais realizada e mais forte como mulher. Sonho em levar meu filho para um pódio e incentiva-lo a ser um atleta também ( se ele quiser ), porque não conheço nada mais transformador do que o esporte”, escreveu a jogadora.