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Destaques - Superliga - 29 de março de 2021

Michel colhe frutos das batalhas dentro e fora de quadra

Central é um dos destaques do Vôlei Renata na atual temporada


Michel é um lutador. O central do Vôlei Renata foi levado às cordas diversas vezes na vida. Aguentou golpes duros antes mesmo de ter ideia de saber quem era o oponente. Nunca desistiu. Apenas acumulou forças para contra-atacar. Encaixou seguidas combinações para derrubar, um a um, os obstáculos que insistiram em atrapalhar sua batalha durante a vida. Um dos melhores centrais da Superliga masculina 2020/2021, o camisa 3 do Vôlei Renata está pronto para encarar mais um desafio, talvez um dos maiores de sua carreira: a semifinal da principal competição nacional.

Em seu terceiro ano no Vôlei Renata, Michel é o central com mais pontos na competição (242). Ainda se destaca, de acordo com as estatísticas oficiais da competição, como quinto melhor bloqueador, com 48 pontos no fundamento, e como segundo atacante mais eficiente da competição, com 64% de aproveitamento. Uma arma e tanto para os desafios que o time campineiro terá pela frente a partir do próximo dia 7, em Saquarema.

– Todo mundo me vê como uma referência no ataque, só que nem sempre vou ajudar o time nesse fundamento. Nesta temporada, jogando com caras mais experientes, como Vissotto, o Temponi, aprendi que se eu não for bem um dia, não significa que não possa ajudar o time em outros fundamentos durante o jogo. Posso contribuir na garra, na vibração, motivando o pessoal fora das quadras. O que mais admiro nesses atletas é a entrega por inteiro e tento fazer isso: retribuir o que o esporte deu pra mim em todos os anos – comenta o central.

E o esporte deu muito a Michel. O caminho para chegar entre os melhores centrais da Superliga não foi nada fácil. Criado pela avó, Luzia, após perder a mãe assassinada com menos de dois anos, ele fez a primeira tentativa de entrar no meio esportivo no futebol. Ainda jovem passou pelas categorias de base de Botafogo e Madureira, ambos do Rio de Janeiro, antes de crescer, literalmente, e pensar em trocar de esporte.

– Até que levava jeito para o futebol. Era veloz, tinha as pernas compridas, dava uns piques rápidos. Não estava mais afim e fui crescendo. Com 16 anos já tinha 1,96m e as pessoas falavam que eu estava perdendo dinheiro, que deveria ir para o basquete, mas era esquentado demais. No futebol, apanhava e queria bater. Se fosse para o basquete não ia mudar. Resolvi ir para o vôlei que sabia que iria lutar contra meus adversário do outro lado da rede – relembra o central.

No vôlei, começou a atuar no Tijuca Tênis Clube, do Rio de Janeiro, e logo foi convocado para a seleção carioca juvenil. De lá seguiu a vida, atuando em equipes do interior de São Paulo e de Minas Gerais. Carregou postes de rede ladeira acima para poder treinar, dormiu embaixo de arquibancada de ginásio, passou por quadras tão esburacadas quanto perigosas. Almoçou sem saber o que iria jantar

Toda dificuldade fez com que Michel desse um tempo no sonho para mudar de vida. Queria saber de vôlei apenas para diversão.

– O vôlei estava muito difícil. Minha avó ficou doente, precisava ajudar ela e comecei a trabalhar em Maringá, longe do Rio, como vendedor numa loja de calçados, mandava dinheiro todo mês. Coloquei na cabeça que só voltaria a jogar se fosse para jogar uma Superliga. Nunca tinha ido ao Chico Neto (Ginásio de Maringá), mas passava na frente todo dia para ir pro trabalho, alimentava aquele desejo no meu coração, pensava ‘como seria bom atacar uma bola do Ricardinho’. Na época, disputava uma liga amadora, para me divertir, e alguns membros da comissão técnica de Maringá também participavam desse torneio. Depois de uns meses, eles me chamaram para fechar com o time, que estava precisando de um quarto central. Não tive dúvidas, larguei o trabalho no shopping e realizei o sonho.

A escalada de Michel pela Superliga não parou. Depois da primeira oportunidade em Maringá, o central passou, com destaque, por Bento Vôlei e Canoas, e desembarcou em Campinas para a temporada 2018/2019. Nessas três temporadas, ultrapassou a marca de 100 partidas pela equipe e ajudou a equipe a conquistar os títulos da Copa São Paulista de 2019 e do Paulista em 2020.

– Penso que valeu a pena todo meu esforço e acreditar que seria possível, mesmo com as dores, as dificuldades. Cresci na Pavuna, um bairro na zona norte do Rio de Janeiro, não era favela, mas passei por momentos ruins na adolescência depois que meu avô faleceu. Quase passamos fome, minha avó pegava dinheiro emprestado para eu ir treinar, para pegar metrô. Foram muitas dificuldades. Vejo que é uma história de vitória, porque eu poderia ter me corrompido. Hoje sou homem de caráter e consigo influenciar outros meninos de uma forma positiva. Então isso vai além do êxito individual na quadra. Ter tido toda essa trajetória e estar entre os melhores centrais do Brasil, para um cara que a até pouco tempo não tinha expectativa, é muita coisa – completa.

O próximo desafio para Michel será ao lado de seus companheiros a partir do próximo dia 7, quando o Vôlei Renata começa a série semifinal contra EMS/Taubaté/Funvic, em Saquarema.

– Estamos confiantes, nos preparando demais. Sabemos que não somos favoritos, mas sabemos que é possível. Mostramos, durante toda temporada, que podemos encarar qualquer time da Superliga e vamos lutar para que a gente consiga essa vaga. Não será fácil – afirma o central.