Mari Paula
Home Coluna Não julguem Paula e Mari após a primeira impressão
Coluna - Praia - 6 de março de 2020

Não julguem Paula e Mari após a primeira impressão

Texto de Daniel Bortoletto sobre a estreia de Mari e Paula Pequeno no vôlei de praia


Campeãs olímpicas de vôlei em 2008, Paula Pequeno e Mari estrearam, nesta sexta-feira, 6 de março de 2020, no vôlei de praia. Foram duas derrotas na etapa de Aracaju (SE) do Circuito Brasileiro. Uma despedida precoce, mas totalmente compreensível.

“Haters” de plantão, é preciso que entendam algo simples. O vôlei de praia é um esporte completamente diferente do que o vôlei. Dito isso, não cobrem de Paula Pequeno e Mari, protagonistas nos Jogos Olímpicos de Pequim, 12 anos atrás, atuações semelhantes hoje ou amanhã. Por mais que sejam ícones das quadras, com currículos mais do que vencedores, elas ainda estão engatinhando nas areias. E precisarão de tempo até que sejam competitivas na nova modalidade.

Às vezes me espanto em precisar escrever algo assim, mas beira o absurdo o prazer das pessoas em tripudiar, com crueldade, quando um ídolo perde. Nesta sexta, Mari e Paula perderam. Na estreia, contra Rebecca e Ana Patrícia, uma das duplas olímpicas do Brasil para os Jogos de Tóquio e na briga pelo título da temporada do Circuito Brasileiro, o resultado mostrou bem a diferença de nível: 21-10 e 21-11.

É preciso colocar na balança também o peso de uma estreia. Paula, 38 anos, e Mari, 36, sentem aquele frio na barriga dos mortais. E ficou claro no início da primeira partida. Junte a isso não ter mais o piso duro, a ausência do vento e a pouca influência do clima. A bola é outra, as estratégias são completamente diferentes, as exigências físicas mudaram e até o refinamento técnico subiu de patamar. Em raríssimos momentos, por exemplo, as duas precisaram se preocupar com o levantamento no vôlei. Agora, na praia, além de sacadoras, bloqueadoras, atacantes e defensoras, elas também são levantadoras.

Com tudo isso posto em perspectiva, talvez fique mais fácil para o “hater” compreender o tamanho da mudança e assim evitar o comentário pejorativo nas redes sociais.

É lógico que as duas gostariam de ter jogado melhor nesta sexta-feira. Qualquer atleta de alto rendimento, com tantas conquistas na carreira, coloca o próprio sarrafo de cobrança em níveis muitas vezes estratosféricos. E talvez aqui tenhamos um ponto interessante para discussão. Acostumadas a vencer na profissão, Paula e Mari saberão perder, perder e perder? Até quando o revés será compreensível? Respostas muito íntimas e apenas elas saberão o limite.

O fato é que agora Paula Pequeno e Mari são duas aprendizes. E terão de entender como natural uma derrota para as paraenses Vivian e Índia, no segundo jogo da sexta, por mais que o peso dos nomes sugerisse um resultado completamente diferente.

Hoje, aplaudo a coragem das duas no enfrentamento de um novo desafio profissional. Já a crítica será feita no tempo certo e não no tom dos “haters”.

TEXTO DE DANIEL BORTOLETTO, PUBLICADO INICIALMENTE NO LANCE!