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Coluna - Destaques - 30 de maio de 2025

No vôlei e na vida, decisões difíceis sempre têm consequências


Três frases. Elas foram ditas recentemente por dois treinadores de seleções tradicionais no vôlei feminino mundial. Leia e tente adivinhar os autores antes de buscar as respostas corretas em um site qualquer:

– Algumas jogadoras não aceitaram o convite, mas devem entender que a seleção nacional não é um lugar onde você entra dependendo do momento. Podemos entender momentos particulares, mas não é como você aparecesse para o ano da Olimpíada e dissesse: “Estou aqui”, pois você encontrará um treinador que dirá: “Não”.

– Seleção não é lugar que você pode estar escolhendo “agora eu vou, agora não vou”. Em Seleção você tem que fechar um ciclo, tem que participar.

– Dependendo da situação, a gente respeita, como já teve situações de jogadoras falarem: “Não estou legal de cabeça, não estou bem, não posso, prefiro ficar fora, estou com problema de família, eu me machuquei”. Você tem que respeitar isso. E a gente tem informações sobre o que acontece na vida delas. Então, tudo é caso a caso. Temos de estudar esses problemas, ver o que que está acontecendo e realmente pesar o que vale”.

A frase 1 foi dita por Julio Velasco, treinador da Itália, atual campeã olímpica e da Liga das Nações (VNL), em um comunicado oficial após fazer a primeira convocação da Azzurra neste ano. Já a número 2 e 3 são do tricampeão olímpico José Roberto Guimarães, em entrevista ao “No Ataque” nesta semana. E qualquer semelhança não é mera coincidência.

No caso italiano, o recado foi dado após Chirichella, Pietrini, Lubian e Bonifacio não aceitarem a primeira convocação do ano. Do lado verde-amarelo, uma resposta após pergunta sobre a ausência da Carol na VNL.

Velasco e Zé Roberto, como líderes de um grupo e com um planejamento feito,  quiseram deixar bem claro qual é a consequência para o ato de não estar disponível para uma convocação na cartilha de cada um deles. E não acho que seja um recado apenas para as atletas citadas acima. Serve para alertar qualquer convocável hoje e sempre.

Os comandantes são profissionais com vários ciclos olímpicos no currículo e já lidaram com outros casos iguais ou bem parecidos. Resolvidos ou não, tratados internamente ou com algum tipo de lavação de roupa suja vazada pela mídia. Concorde ou não com a insatisfação da dupla, torná-la pública não é uma novidade no vôlei.

Mas não dá pra ignorar, porém, o outro lado: atletas cada vez mais sacrificadas por um calendário bem desumano. Quem é da elite, com presença em finais de campeonato, costuma emendar as temporadas de clubes e seleções. Basicamente quem se destaca paga um preço: não conhece férias longas, vê pouco a família e precisa abrir mão da vida pessoal por conta dos compromissos profissionais. E os impactos vão do corpo à mente .

Neste mundo de exposição constante da vida nas redes sociais e com uma quase obrigação de dar opinião sobre tudo, julgamos as decisões dos outros a todo momento. Quem está certo? Quem errou?

Eu respondo: será que nos colocamos no lugar dos envolvidos antes de fazer o julgamento? Nos casos acima do vôlei, pra mim, os dois lados têm suas razões, suas convicções e devem ser respeitados. Como adultos, sabem que as decisões geram consequências. E precisam ser sábios para lidar com elas a partir de agora.