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Coluna - 20 de setembro de 2020

O “Fora, Bolsonaro!” virou mais um incêndio

Bastidores do vôlei ferveram neste domingo


O “Fora, Bolsonaro!” de Carol Solberg, ao fim da disputa da medalha de bronze do Circuito Brasileiro de vôlei de praia, em entrevista ao vivo para o SporTV2, neste domingo, teve o impacto de um incêndio de grandes proporções nos bastidores da modalidade.

O Banco do Brasil, principal patrocinador da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) desde 1991, ficou muito incomodado com o posicionamento político da atleta. Até ida de Carol ao pódio gerou “ruídos”. E a pressão fez com que a entidade enviasse uma nota de repúdio sobre o acontecido, no início da noite. Ela permite a interpretação de uma punição para Carol: “A CBV gostaria de destacar que tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como esses, que denigrem a imagem do esporte, não voltem mais a ser praticados”.

A instituição financeira é muito alinhada ao governo de Jair Bolsonaro. No ano passado, ela tirou uma campanha do ar, dias após a publicação, depois de uma reclamação do presidente. A peça publicitária incentivava jovens a abrirem contas, com termos descolados, e mostrava entre os personagens uma jovem negra careca, homens de cabelo rosa e no salão de beleza. O diretor de marketing do banco perdeu o emprego e o Banco do Brasil alegou que “faltavam outros perfis na campanha”.

Nos bastidores do vôlei, o temor é um endurecimento do BB na renovação do contrato com a CBV. O atual terminaria neste segundo semestre, após os Jogos Olímpicos. Com o adiamento da competição no Japão para 2021 por conta da pandemia, o vínculo foi estendido. Nesta noite, até Carlos Bolsonaro, filho do presidente, usou as redes sociais para comentar o caso.

Terminam aqui as informações. Começam agora as opiniões.

É clara a diferença de tom da nota da CBV hoje em comparação com outra manifestação política acontecida em 2018. Na ocasião, durante o Campeonato Mundial masculino de vôlei, na Polônia, Wallace e Maurício Souza fizeram com as mãos o número 17, do então candidato Bolsonaro, durante as fotos de comemoração após as vitórias sobre Egito e França. À época, as postagens foram apagadas das redes sociais da Confederação, mas as imagens feitas pela Federação Internacional seguiram disponíveis no site. Os atletas não foram punidos.

Compare as duas notas e tire a sua própria conclusão:

2020

“A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), vem, através desta, expressar de forma veemente o seu repúdio sobre a utilização dos eventos organizados pela entidade para realização de quaisquer manifestações de cunho político. O ato praticado neste domingo (20.09) pela atleta Carol Solberg durante a entrevista ocorrida ao fim da disputa de 3º e 4º lugar da primeira etapa do Circuito Brasileiro Open de Vôlei de Praia – Temporada 2020/2021, em nada condiz com a atitude ética que os atletas devem sempre zelar. Aproveitamos ainda para demonstrar toda nossa tristeza e insatisfação, tendo em vista que essa primeira etapa do CBVP OPEN 2020/2021, considerada um marco no retorno das competições dos esportes olímpicos, por tamanha importância, não poderia ser manchada por um ato totalmente impensado praticado pela referida atleta. Por fim, a CBV gostaria de destacar que tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como esses, que denigrem a imagem do esporte, não voltem mais a ser praticados”.

2018

“A CBV repudia qualquer tipo de manifestação discriminatória, seja em qualquer esfera, e também não compactua com manifestação política. Porém, a entidade acredita na liberdade de expressão e, por isso, não se permite controlar as redes sociais pessoais dos atletas, componentes das comissões técnicas e funcionários da casa. Neste momento, a gestão da seleção irá tomar providências para não permitir que aconteçam manifestações coletivas”.

Além disso, a CBV escorregou ao usar o termo “denigrem” em sua nota neste domingo. O verbo denegrir, que tem como um dos significados “tornar negro”, é tido como racista.

Nas redes sociais, Carol Solberg se transformou em um dos assuntos mais comentados do Twitter. Dentro da bolha de cada um, você encontrará mais mensagens de apoio ou mais postagens com reclamação/xingamentos  para a atleta, para a CBV e para o Banco. Algo que já faz parte de um “novo normal” em um país dividido e polarizado em diversos temas.

Agora, cogitar punir a atleta por conta de uma entrevista é um tremendo exagero. Até o Comitê Olímpico Internacional (COI), rígido com manifestações políticas, permite em seu regulamento a “expressão de opinião” em coletivas, entrevistas e zonas mistas. Uma punição, caso realmente ocorra, terá significado de censura.

E, por fim, repetindo uma frase de um texto antigo, esporte e política se misturam sim. Aceitem!

Por Daniel Bortoletto