O sinal de alerta está ligado. E não é de hoje!
Uma reflexão de Daniel Bortoletto sobre os resultados das Seleções de base
Estados Unidos, Itália, Turquia, Japão, Irã, Bulgária, Argentina, França, Coreia do Sul, Sérvia, Rússia, Polônia e Holanda. Todos esses 13 países estiveram em pelo menos uma semifinal de Campeonato Mundial nas categorias de base em 2021 e 2023. Está sentindo falta de alguém?
O Brasil não esteve na disputa por medalhas nas quatro competições realizadas em 2021 e nas três em andamento ou já encerradas neste ano. A última chance de encerrar esse incômodo jejum em 2023 acontecerá no México, a partir da próxima semana, com o Mundial sub-21 feminino.
As últimas medalhas conquistadas pelo país em Mundiais de base foram o bronze em 2019 no sub-19 feminino e no sub-21 masculino. Pouco, muito pouco, para quem sempre bateu no peito para exaltar a quantidade de conquistas dos jovens e das jovens em outras épocas.
Tal cenário faz o sinal de alerta, já ligado há algum tempo, soar mais alto no vôlei brasileiro. Quais motivos fizeram o Brasil ficar para trás? Infelizmente são vários e com vários elos da cadeia envolvidos, com perguntas que precisam de respostas.
– A CBV diminuiu o intercâmbio internacional nos últimos anos. Por mais que tenha voltado a investir mais em 2023, a entidade vê o resultado do “congelamento” recente impactar no amadurecimento e desenvolvimento de gerações. O atraso para desenvolver o sub-17 cria um efeito cascata no sub-19 e no sub-21. E até as Seleções adultas já sofrem no processo de renovação.
– O mundo está de olho em bons exemplos para replicar. O Brasil já foi copiado no passado por vários rivais. Mas hoje não deveríamos vestir as “sandálias da humildade”, admitir o sucesso alheio e assim adaptar para a nossa realidade cases como o do Club Itália?
– As federações estaduais também têm culpa no cartório. Muitos estados não possuem campeonatos de base. Mas não deixam de receber verba da CBV. Não está na hora de exigir uma contrapartida pelo dinheiro recebido?
– No topo de pirâmide, alguns vitoriosos e bem-sucedidos times adultos não possuem categorias de base. Para mim, algo inadmissível. Um trabalho com jovens faria o projeto “economizar” na montagem do elenco profissional nos anos subsequentes.
– Não dá pra tirar da conta a questão geracional. Converse com técnicos e entenda como está bem mais difícil convencer jovens sobre o “preço” do sucesso.
– Estamos capacitando técnicos e técnicas para acompanhar tais mudanças dos jovens de hoje? Estamos dando a real importância para o trabalho das questões emocionais desde a formação?
Em resumo: a resolução do problema não é simples. Envolve muita gente. Exige tempo, dinheiro e vontade. Será que todos os elos da corrente estão dispostos a colaborar, admitir erros, fazer concessões e trabalhar em conjunto em prol de um objetivo único?
Por Daniel Bortoletto