Opinião: As duas formas de ver o novo Sesi
Opinião de Daniel Bortoletto sobre as mudanças no projeto
A segunda-feira do vôlei nacional foi marcada pela confirmação do novo status do projeto do Sesi. Sai o time que brigava pelos títulos, com diversos selecionáveis no elenco e um dos maiores orçamentos do país. Entra uma equipe formada por 11 atletas entre 18 e 20 anos e um único remanescente (Murilo).
Como encarar essa nova realidade do Sesi? Ao olhar o copo meio vazio, você verá uma queda substancial de investimento após uma década de projeto e, consequentemente, um candidato a menos para encarar Sada Cruzeiro e EMS/Taubaté no topo da tabela. Não é fácil perder de uma tacada só jogadores do nível de William, Alan, Eder, Lucas Lóh, Sidão, todos selecionáveis, com as principais conquistas internacionais com a Seleção Brasileira no currículo. Com o fim do projeto do Sesc, no Rio, o conhecido G4 perde 50% dos seus integrantes, uma sacudida enorme no balanço de forças do vôlei nacional. Não dá para esconder o nítido enfraquecimento da Superliga 2020/2021 e o consequente êxodo de atletas para o exterior, uma vez que o mercado local, muito abalado financeiramente pelo coronavírus, não absorveu os recém-saídos.
Agora, o viés do copo meio cheio apresenta uma oportunidade rara para jovens talentos em competições de alto nível como a Superliga. Ainda mais em um momento de entressafra na formação de atletas na modalidade no país, com o sinal amarelo de alerta aceso sobre o futuro.
Dos 12 jogadores anunciados pelo Sesi, 11 deles nasceram entre 2000 e 2002. O oposto Darlan, irmão de Alan, uma das baixas da última temporada, é o mais badalado deles. Nesta quarta-feira, completará apenas 18 anos. É uma boa referência para o novo momento do projeto paulista. Apostar em destaques da Seleção Brasileira juvenil e mirar um amadurecimento mais rápido para quem demoraria para ganhar espaço no adulto.
E aí vale usar Murilo como parâmetro para comparação. Em 2002, quando parte do novo elenco do Sesi nascia, Murilo, então com 21 anos, via o irmão Gustavo ser campeão mundial na Argentina. Era o início de uma hegemonia brasileira no cenário internacional. Em 2006, ambos estavam juntos, no Japão, na conquista de outro Mundial. Já em 2010, Murilo conquistava o mundo mais uma vez, ganhando o prêmio de MVP. Talento à parte, ele conseguiu as primeiras convocações de Bernardinho, como na Liga Mundial de 2003, por ter espaço no projeto do Banespa, um dos maiores formadores de atletas que o vôlei brasileiro já teve.
Quem sabe o novo Sesi não ajude a construir histórias de sucesso de outros Murilos.
Por Daniel Bortoletto