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Coluna - Superliga - 21 de junho de 2020

Pandemia não pode fragilizar o Fair Play financeiro no Brasil

Opinião de Daniel Bortoletto sobre a situação


Julho está chegando e ele será decisivo para o vôlei brasileiro. E não apenas para a temporada 2020/2021. O mês marca o fim do prazo para os participantes da última Superliga entregarem a documentação referente ao Fair Play Financeiro.

Pelas regras da principal competição nacional do país, os clubes precisam comprovar a quitação dos salários de atletas e comissões técnicas. Em tese, todos devem assinar um documento para que seja válido e o time se mantenha apto para disputar a temporada seguinte.

E, desta vez, com o impacto da pandemia do coronavírus, o Fair Play Financeiro será colocado em prova.

Vários times tiveram as parcelas de patrocínio de março, abril e maio reduzidas ou canceladas, já que a Superliga deixou de ser disputada na reta final e parte das entregas aos patrocinadores não aconteceram. Sem fluxo de caixa, diversos times renegociaram o salário, com reduções nos vencimentos aceitas pelos funcionários. Foi o “modo de sobrevivência” ativado. Quem obteve êxito, não deverá ter problemas para entregar o Fair Play Financeiro assinado por todo(a)s. Mas não é a realidade geral.

A última Superliga foi marcada do início ao fim por problemas financeiros de vários times. Denk Maringá, América, Caramuru e até o EMS/Taubaté sofreram com atrasos salariais – alguns somam até sete meses de pendências. Dois deles (América e Caramuru), inclusive, usaram brechas no regulamento do Fair Play para garantir a participação em 2019/2020, apelando para medidas judiciais por problemas não resolvidos do passado. Pode-se dizer que entraram pela porta dos fundos.

E agora, no momento da verdade, o que acontecerá? Em encontros recentes entre clubes e CBV, o assunto foi discutido. Alguns bateram o pé e se posicionaram perante a entidade: não aceitam uma flexibilização tendo a pandemia como desculpas. Acreditam que isso beneficiará quem não cumpre as regras.

Uma das possibilidades é colocar os próprios clubes numa votação das pendências dos casos especiais. Por exemplo: o time A não conseguiu duas assinaturas? Ele deve ser liberado para se inscrever na próxima Superliga? Ele precisará de seis votos dos “adversários” para se garantir.

Sempre achei o Fair Play Financeiro um avanço no Brasil – desde que ele não consiga ser burlado por manobras pouco republicanas. Foram inúmeros casos de calotes, brigas judiciais e dívidas não equacionadas num passado recente. Hoje, se a Superliga tiver 10 clubes saudáveis, acho mais viável do que repetir 12 e voltar a ter problemas. O coronavírus não pode virar desculpa para beneficiar os maus pagadores.

Por Daniel Bortoletto