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Coluna - Destaques - 8 de janeiro de 2021

Peso desigual do voto das federações marca eleição da CBV


A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) fará neste domingo uma eleição presidencial com inédita disputa em mais de 40 anos de sucessivos processos de aclamação de quem estava no poder. De um lado, Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca, 87 anos, tenta se manter no cargo, tendo Radamés Lattari, CEO da entidade até dois meses atrás, como vice. De outro, a chapa de oposição encabeçada por Marco Túlio Teixeira, 60, vice-presidente da Confederação Sul-Americana e da Federação Mineira, ao lado do bicampeão olímpico Serginho Escadinha.

Existir a possibilidade de um duelo já é algo a ser comemorado no pleito, uma vez que a aclamação de uma chapa única acontece desde 1975 na CBV.  O processo democrático agradece. O segundo ponto que poderia ser muito festejado é a presença de atletas, clubes e medalhistas olímpicos no colégio eleitoral. Um avanço, sem dúvida, mas até a página 2. As atuais regras do estatuto da entidade privilegiam a força das federações estaduais.

Na eleição do vôlei nacional, os votos têm pesos diferentes. Cada voto das 27 federações estadual vale por seis. É o mesmo peso dos quatro atletas das Comissões Nacionais (dois de vôlei de quadra e dois de vôlei de praia). Já os 54 atletas das Comissões Estaduais (dois por unidade federativa), os oito medalhistas olímpicos eleitos, que passaram a ter direito a voto, além de mais nove clubes, têm peso 1.

Ou seja, a partir de um conta simples. Os votos de 22 federações são suficientes para fazer o vencedor da eleição, mesmo que todos os demais 80 votantes escolham o outro candidato. Neste cenário, o placar por peso, o que vale na contagem final para definir o eleito, seria 132 a 125.

A chapa da situação declarou, em novembro, ao fazer a inscrição para a eleição, ter o apoio de 18 federações, com amplo domínio nas entidades estaduais das regiões Norte e Nordeste. Desde então, a oposição, que apresentou a carta de apoio de duas federações, somou novos apoiadores, sendo quatro estados. Nos últimos dias, a chapa também divulgou ter recebido apoio maciço dos atletas, por intermédio de uma pesquisa e depoimentos de campeões olímpicos, como Tandara, Fabiana, Gustavo, Dante, entre outros.

Além da briga por votos nos bastidores, existe um disputa judicial. A chapa de oposição contesta a candidatura da situação, com a alegação de que Toroca busca a reeleição pela segunda vez. O argumento é uma decisão da Secretaria Especial do Esporte, com orientação da Advocacia Geral da União, dizendo “não serão certificadas entidades esportivas as quais um mesmo dirigente seja reeleito para um terceiro mandato”. Neste caso, o vôlei deixaria de receber verbas federais.

Segundo o parecer da AGU, “presidentes ou dirigentes máximos que já se encontravam eleitos em abril de 2014 logicamente exercem mandato e devem, portanto, ser o mesmo considerado para a contagem da limitação de apenas uma única recondução”. O argumento da CBV é de que o primeiro mandato de Toroca como presidente não deve ser contado, uma vez que ele substituiu Ary Graça entre 2013 e 2016 como “tampão”. Tal ponto serviu para a Comissão Eleitoral da entidade indeferir o pedido de impugnação da chapa da situação, semanas atrás.

Independentemente de quem vencer domingo, é preciso modernizar o processo eleitoral. Me parece óbvio que as regras atuais da CBV, semelhantes a diversas outras entidades esportivas do país, estão longe de atingir um grau de maturidade e até de justiça.

Por Daniel Bortoletto