Quênia colhe frutos dos “ensinamentos brasileiros”
Seleção africana confirma desenvolvimento e planeja mais com apoio da FIVB
Desde 2021, a seleção feminina do Quênia passou a fazer parte do “Programa de Empoderamento” da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), com investimento para preparação. Luizomar de Moura passou a treinar a equipe africana e o Brasil virou “escola”.
Antes do último Campeonato Mundial, o Quênia passou quase três meses treinando no Brasil. Osasco foi a base, já que Luizomar tem apoio da comissão técnica da equipe feminina no projeto com a seleção africana. Foram apresentados às atletas métodos de treinos físicos, táticos, abordagens profissionais e uma rotina intensa de jogos-treinos com equipes brasileiras e Seleções de base.
No Mundial, o Quênia ficou em 19º lugar entre os 24 participantes, tendo vencido Camarões, seu arquirrival, por 3 a 0. Individualmente, três jogadoras passaram a atuar no mercado internacional: a oposto Sharon Chepchumba, ou apenas Chumba, defende o time grego Aris Thessanoliki, enquanto Veronica Adhiambo está no Tarsus, da segunda divisão turca, e Noel Murambi defende o Lemesos, do Chipre.
– Eu sempre quis jogar vôlei profissional, então esse é um sonho realizado. Antes, eu tive oportunidades, mas não aconteceu por uma série de razões – disse Murambi. – Alguns dias antes de viajar, torci o tornozelo em um treino e ele ficou inchado. No entanto, uma vez que o inchaço diminuiu, pude retomar o treinamento rapidamente. Esses são alguns dos benefícios do programa que tivemos no Brasil, especificamente o treinamento de força que nos ajudou a evitar lesões graves e administrá-las bem quando elas ocorrem. Se isso fosse no passado, eu teria sido descartada por meses.
Nova mentalidade
Chumba, maior pontuadora do Quênia no Mundial e também destaque nos Jogos Olímpicos de Tóquio, disse que o programa mudou sua mentalidade.
– Antigamente, eu pensava que força natural bastava para jogar vôlei, mas quando fui ao Brasil e vi jogadoras mais talentosas trabalhando duro na academia para ganhar força, foi um alerta. Meu jogo melhorou tremendamente desde que o aceitei e os resultados estão aí para ver. – A profissionalização também me ajudou a entender que o vôlei é um grande negócio fora das quadras. Comecei a me apresentar como modelo e marca para encorajar a geração futura e obter apoio de grandes empresas no futuro.
Paul Bitok, que treina o Quênia desde 2019, disse que o programa da FIVB já trouxe uma mudança de paradigma ao vôlei queniano, acrescentando que um foco mais nítido nas jovens representará resultados ainda melhores.
– Ao interagir com as melhores jogadores do Brasil, nossas jogadoras perceberam que podem mudar a vida por meio do vôlei. Algumas delas se profissionalizaram e isso vai motivar a geração futura a trabalhar mais. O programa é uma boa ideia e se pudermos reproduzi-lo nas categorias de base dos 18 aos 23 anos, isso mudará completamente o voleibol queniano. Se esse grupo conseguir treinamento e instalações semelhantes às que tivemos no Brasil, isso mudará o jogo – disse Bitok.