Seleção Brasileira, medalhas, ensinamentos e dúvidas
Daniel Bortoletto, em Paris, escreve sobre o fim da campanha brasileira no voleibol feminino
O ciclo Paris-24 da Seleção Brasileira feminina de vôlei terminou com medalha olímpica. Assim como havia terminado o de Tóquio-21. Um bronze e uma prata. Cores diferentes, sensações bem distintas na partida decisiva quando o seu degrau no pódio é sacramentado.
Vocês queriam dois ouros? Eu queria. As jogadoras também, assim como Zé Roberto e sua comissão queriam. Admito que vou embora de Paris com a convicção de que o primeiro lugar aqui na França era mais acessível do que o disputado no Japão, três anos atrás.
Tinha a sensação de ver um time pronto para a glória. Com lideranças internas consolidadas, com a ala das jovens mais pronta para assumir a responsabilidade e um grupo mais calejado por ter batido na trave durante outros torneios relevantes do ciclo, ciente de que era passada a hora de um grand-finale.
Mas a bola, outra vez, bateu na trave e não entrou. Existem falhas do nosso lado? Claro. A lucidez para um ataque sem encarar o bloqueio rival, a precisão para um levantamento, o capricho para um passe, a decisão de fazer uma mudança no time… Uma das opções separadamente ou a soma de todas elas poderia ter mudado o destino da Seleção Brasileira feminina em Paris. Mas existem ainda muitos mérito do rival, neste caso, o mesmo: os Estados Unidos.
Costumamos querer eleger apenas as vilãs e os vilões quando perdemos. Nada e ninguém prestam. As redes sociais estão aí para provar o show de horrores, os xingamentos, as baixarias e o desejo imediato de fazer uma caça às bruxas. Admito que refleti demais sobre as palavras de Ana Patrícia neste fim de semana. Hoje campeã olímpica. Em 2021, vítima dos mesmos crimes virtuais. Aos 23 anos, ela não prestava. Viu e leu tanto sobre isso, que chegou a duvidar das próprias capacidades. Precisou aceitar ajuda de especialistas para o psicológico não sucumbir e assim seguir no esporte. Ela não desistiu e hoje vai carregar a bandeira brasileira na Cerimônia de Encerramento dos Jogos de Paris como campeã olímpica ao lado de Duda.
Não sei se todas da geração de prata e bronze nos Jogos (Gabi, Carol, Rosamaria, Roberta, Macris…) vão ter uma nova chance em Los Angeles-28 para tentar sentir o mesmo do que Ana Patrícia. Quem delas fica para fazer companhia para Ana Cristina, Julia Bergmann e Diana? Outras que já buscam um lugar ao sol (Julia Kudiess, Helena, Luzia) chegam para protagonizar em quatro anos? Quem vai estar no banco?
Essas perguntas ainda não podem ser respondidas. Mas tenho uma certeza: não existe terra arrasada pelo ouro ter escapado da Seleção Brasileira feminina.
Por Daniel Bortoletto, em Paris