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Destaques - Seleção Brasileira - Tóquio-2020 - Vaivém - 14 de outubro de 2020

Sheilla: “Agora é focar no físico. O vôlei vem naturalmente”


Em entrevista na tarde desta quarta-feira (14), pela plataforma virtual Zoom, com o CEO e co-fundador da Athletes Unlimited Volleybal League – a primeira Liga Americana de Voleibol – Jon Patricof, e jornalistas do Brasil e dos EUA – e com a participação do Web Vôlei – a oposta Sheilla falou sobre a sua participação no torneio norte-americano, os planos para o futuro e reforçou que está, sim, na briga por um lugar entre as 12 jogadoras que estarão na Olimpíada de Tóquio no ano que vem. A Liga americana acontecerá entre os dias 26 de fevereiro e 4 de abril do ano que vemna cidade de Nashville, no estado do Tennessee.

Falando em português e em inglês, Sheilla contou como foi o processo antes de aceitar participar da Liga Americana, em agosto.

– Eu pensei em várias cosias antes de aceitar. Fiz algumas ligações para eles (da Liga). No início, não tinha a intenção. Queria me preparar para a Olimpíada no Minas. Nem abri negociação para outros clubes. Mas, quando conheci a Liga e vi como era, num país que respira vôlei, vi a organização e que poderia ser um projeto que iria perdurar. Durante a pandemia eu comecei a questionar muito a questão da qualidade de vida para as minhas filhas. Elas estavam muito acostumadas a sair, a ir para o Minas todos os dias, e quando a gente precisou se trancar no apartamento, elas sentiram muito. Foi uma loucura. Eu aluguei um sítio para elas verem mais verde, para terem mais vida ao ar livre e comecei a repensar muita coisa. E preferi então jogar uma liga mais curta, em que eu pudesse focar no meu físico, porque sei que isso é o que importa agora, para eu poder jogar: o meu físico. Se eu optasse por jogar uma liga longa ou duas curtas, tipo a chinesa e a americana, seria uma correria, igual foi no ano passado. Então, esse ano eu vou conseguir aliar qualidade de vida para as minhas filhas e focar no meu físico. Fazer essa preparação que já estou fazendo há dois, três meses, para poder chegar bem, porque o voleibol vem naturalmente – disse a bicampeã olímpica.

Sheilla falou sobre o formato da competição:

– O fato de ser curto não é novidade. China e Japão são assim. Mas essa nova forma é que é interessante. Eu, sinceramente, não sei o que esperar, mas estou empolgada. Depende do seu bom rendimento o tempo inteiro. Você não depende de um time só. É um desafio novo e você tem de estar 100 por cento o tempo todo – disse.

Jon Patricof elogiou a contratação da brasileira para a Liga e disse que as expectativas da participação de Sheilla na primeira competição profissional do país são altíssimas – até agora os EUA têm apenas competições universitárias, a NCAA.

– Estamos muito orgulhosos de ter conseguido finalmente organizar nossa primeira liga profissional. E poder contar com uma atleta bicampeã olímpica eleva muito o nível da competição – disse o co-fundador do torneio.

– Sheilla não precisa de apresentação. Ela é bicampeã olímpica, tem credibilidade e vai somar ao lado de atletas como Larson (Jordan Larson, duas vezes medalhista olímpica, prata em Londres-2012 e bronze no Rio-2016), Lowe (Karsta Lowe, bronze nos Jogos do Rio-2016) e outras. Estamos completamente comprometidos em fazer esse evento um sucesso de mídia não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. Sheilla vai ser uma líder para as nossas atletas. Hoje temos mais jovens mulheres jogando voleibol nas escolas do que jogando basquete. Estamos animados para mostrar a ela a cultura, a música e a comida de Nashville – disse Patricof.

Jornalistas norte-americanos compararam a participação de Sheilla à Athletes Unlimited Volleybal League à de Pelé no clube Cosmos, de Los Angeles, nos anos de 1970 e 1980, quando ele aceitou jogar pela embrionária liga de futebol dos EUA para dar visibilidade ao esporte e foi um sucesso.

– Eu era um garoto de Nova York na época e me lembro bem da contratação do Pelé. Foi bem impactante. E acho que Sheilla tem potencial para fazer o mesmo com o voleibol – disse Patricof, adiantando que haverá outras “estrelas” de outros países na liga, mas nenhuma brasileira prevista.

– Vamos dar todo o suporte necessário e toda a oportunidade para que ela se prepare bem para competir pelo Brasil na Olimpíada de 2021. Ela vai atuar ao lado de outras jogadoras que também estrão em Tóquio – completou o dirigente.

Sheilla se disse empolgada em participar da primeira liga profissional do país:

– Estou muito feliz e orgulhosa. Tenho certeza que vou ter uma ótima preparação para a Olimpíada, que vou crescer com essa liga e que a liga vai crescer também. Espero contribuir ao máximo para isso.

Aos 37 anos, ela falou que sobre a inspiração em tentar sua quarta olimpíada na carreira:

– A chance de disputar mais uma olimpíada e brigar por mais um ouro, por si só, é motivadora. E, claro, a chance de as minhas filhas  poderem me ver jogando é uma inspiração a mais. Mas eu quero brigar por mais um ouro. Não era para terminar daquele  jeito em 2016.

Sheilla revelou que conversou com o técnico da Seleção Brasileira José Roberto Guimarães antes de tomar a decisão e que vem treinando no Centro de Treinamento Sportville, em Barueri, de propriedade do treinador, para manter a forma física e técnica.

– Falei com o Zé, sempre falo com o Zé. Ele acha que vai ser uma grande experiência e que depende só de mim. E se eu estiver bem, se eu jogar bem, se eu estiver fisicamente forte… Eu estou treinando bem. Estou morando no litoral norte de São  Paulo, estou a duas horas e meia do CT e tenho treinado supervisionada por ele – contou.

Questionada sobre a possibilidade de seguir o caminho de Paula Pequeno e Mari e migrar para o vôlei de praia depois de Tóquio, Sheilla disse que ainda não pensa no assunto.

– Não tenho planos para pós-Tóquio. Pensei em jogar na praia no ano passado, depois que ganhei as minhas meninas, mas depois mudei. Prefiro pensar no momento, no agora, e deixar acontecer.