
Tifanny faz história na Superliga e pede respeito às pessoas trans
Primeira mulher trans a jogar a decisão do torneio, atacante é um dos símbolos do Osasco
A vaga do Osasco São Cristóvão/Saúde na final da Superliga Feminina 2024/2025 é uma conquista especial para Tifanny. Aos 40 anos, ela comemora não só sua primeira vez na decisão da maior competição do vôlei nacional, mas também o fato de ser a primeira mulher trans a conseguir o feito. O time de Luizomar de Moura enfrenta o Sesi Bauru nesta quinta-feira (1/5), às 15h45, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (SP).
A vitória de Tifanny representa um marco para a comunidade LGBTIQAPN+, que vê a atleta como inspiração por sua coragem de lutar e realizar um sonho. Depois de completar a transição de gênero, em um processo iniciado em 2012, a atacante recebeu o aval da Federação Internacional de Vôlei em 2017 para atuar em times femininos. Desde então, segue todos os parâmetros determinados pela Confederação Brasileira para entrar em quadra.
Após quatro temporadas no rival da decisão desta semana, Tifanny foi contratada pelo Osasco em 2021. Já está em seu quarto ano no time e completamente identificada com o projeto. Acolhida por atletas, dirigentes, comissão técnica e torcedores, comandou o elenco em momentos emblemáticos da atual temporada, com destaque para o segundo duelo da semifinal, contra o Gerdau Minas. O Ginásio José Liberatti vibrou com uma virada espetacular das donas da casa e com os 27 pontos da oposta.
A notoriedade da jogadora intensificou os debates sobre a inclusão de transexuais no esporte, e o Comitê Olímpico Internacional (COI) tem discutido regras e parâmetros sobre o assunto. Sempre tranquila ao tratar do tema, Tifanny se orgulha de sua representatividade e costuma se posicionar contra a transfobia. Ao se sagrar campeã da última Copa Brasil, ela comemorou diante das câmeras do Sportv, para depois desabafar:
“Vai ter mulher trans campeã, sim! Estamos vivendo muita transfobia do esporte. São muitas leis contra as mulheres trans. Então eu tenho que lutar diariamente para jogar. Tenho que lutar fora de quadra, tenho que lutar dentro de quadra. Mas é por isso aqui, por esses momentos que eu estou lutando”, disse Tifanny, citando na sequência a rotina de violência sofridas por trans no Brasil.
“Minha classe é que mais sofre. É a classe que mais morre no Brasil. A nossa média de idade (de mulheres trans) é 35 anos. Eu estou com 40, sou uma sobrevivente. Mas eu não vou deixar lutar pela minha classe. Nós merecemos respeito”, completou.
DESEMPENHO NA SUPERLIGA
Agora, Tifanny quer escrever uma nova história. Ela tentará liderar o Osasco em busca da recuperação do protagonismo do início do século, quando polarizava com o Rio de Janeiro. O último título das paulistas foi na temporada 2011/2012.
A campanha do Osasco começou irretocável, com seis vitórias seguidas. Depois, o time oscilou, mas contou com o talento da ponteira/oposta para terminar a primeira fase em terceiro lugar, com 47 pontos e 15 vitórias em 22 partidas.
Nas quartas de final, a equipe passou pelo Sesc RJ Flamengo em duas partidas. Nas semifinais, o Osasco virou a série diante do Gerdau Minas. O time paulista perdeu o jogo 1 por 3 sets a 0, mas avançou após vencer por 3 a 2, em casa, e 3 a 0, em plena Arena UniBH. Com 418 pontos, Tifanny é a quarta maior pontuadora da Superliga 24/25.