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Destaques - Entrevista - 1 de fevereiro de 2019

Entrevista com Muserskiy, o gigante russo que frustrou o Brasil em 2012

Campeão olímpico em Londres, Muserskiy falou com o Web Vôlei durante a Liga Japonesa


Você, fã do vôlei, deve ter soltado vários palavrões durante a final olímpica masculina de 2012, em Londres. E alguns direcionados para um jogador especificamente. Brasil e Rússia duelavam pelo ouro. A Seleção, com Giba, Serginho, Dante e outros craques, abriu 2 a 0 e parecia caminhar para mais uma grande conquista. Até que Muserskiy, o central de 2,18m, foi deslocado para a saída de rede. Uma mudança tática quase desesperada do técnico Vladimir Alekno. Infelizmente, para nós, brasileiros, a modificação surtiu efeito. Muserskiy marcou 31 pontos e foi o grande responsável por uma quase improvável virada russa.

Nesta entrevista exclusiva para o Web Vôlei, Muserskiy relembra aquela fantástica atuação e admite saber que é odiado por muitos torcedores brasileiros por conta dela. E deixa até alguns questionamentos para os fãs sobre aquele inesquecível dia para ele e para nós também.

Atualmente atuando no Suntory, do Japão, time treinado pelo brasileiro Leonardo Carvalho, o russo fala também sobre os motivos da transferência para o vôlei asiático, a experiência de atuar no país-sede das próximas Olimpíadas e também do momento da seleção russa. O treinador brazuca, inclusive, chegou a falar da relação com o russo ao Web Vôlei no ano passado.

Um Muserskiy bem diferente do que aquele frio e calculista jogador da Rússia.

1 – Como está sendo a experiência profissional de jogar em uma liga como a japonesa?
Estou feliz por jogar aqui. Especialmente no Suntory. Eu gosto do trabalho com a equipe, dos jogos. Não existem times fracos na Liga Japonesa. Você tem que jogar sempre focado e concentrado. Isso é muito bacana e interessante. Para mime está sendo um bom desafio. Sinto que estou evoluindo como jogador e como pessoa aqui. Estou realmente curtindo o momento.

2 – E a experiência pessoal em um país tão rico culturalmente como o Japão?
Eu estive aqui muitos vezes antes. E eu sabia que tipo de país é o Japão. E obviamente eu gosto dele. Quando eu decidi trocar de clube, perguntei para o meu empresário procurar somente no Japão. Eu queria entender se realmente era ou não um lugar tão bom para morar e para jogar. E agora eu estou pronto para dizer: “Sim, ele é”. Eu gosto do relacionamento entre as pessoas. Eu gosto do relacionamento entre os atletas. Eu gosto da organização de tudo aqui. Para essas pessoas, qualidade de qualquer coisa é o quesito número um. Até para a comida. Eu experimentei vários tipos de comida local e não apenas sobrevivi, mas adorei. É uma mentalidade diferente. E eu gosto dela.

3 – Qual a maior dificuldade que teve para adaptação? Já a superou?
A língua é diferente. Eu nunca consegui entender os nomes das lojas e do meu ponto de ônibus. Mas agora tudo está OK. Nosso tradutor e a equipe de apoio me ajudam muito com questões de adaptação e eu estou tentando aprender o idioma. Também é difícil para o meu filho se adaptar com pessoas que não falam russo. Mas agora ele está numa pré-escola internacional, tentando falar inglês e japonês. Tenho certeza que é uma boa experiência para ele.

4 – Você costuma fazer planos a longo prazo para carreira? O que planeja para os próximos anos? Muitos torcedores adorariam vê-lo atuando na Superliga brasileira.
Eu tenho vários planos a longo para minha carreira, sim. Mas eu prefiro deixá-los comigo, sem que sejam públicos.

5 – Fiz uma entrevista semanas atrás com o Leonardo Carvalho e ele elogiou demais você, não apenas como atleta, mas sua simplicidade, simpatia. Como está sendo essa relação técnico-jogador com ele?
Eu não separou as pessoas por nacionalidade, raça ou religião. O planeta é a minha casa. Eu sei que a Rússia jogou muitos vezes contra o Brasil em finais de competições internacionais e muitos fãs não entendem a possibilidade de trabalhar junto com seu principal rival. Mas eu aprendi muitas coisas com eles eu gosto de trabalhar com o Léo e com o Daniel Lima, nosso intérprete.

6 – A Rússia surpreendeu muita gente na última Liga das Nações (VNL), com vários jovens despontando e uma mescla com atletas mais experientes. Para vocês também foi uma surpresa conquistar o título, vencendo Brasil e França com muita facilidade nas finais?
Não foi surpresa. Nós fizemos uma boa preparação e passamos um bom tempo juntos. Nós gostamos de jogar todas as competições, sabemos que o nosso time é um dos com mais alto nível de facilidade para jogar contra qualquer rival a qualquer momento.

7 – Você já sente aí no Japão a expectativa aumentar para a Olimpíada de Tóquio, em 2020? Conquistar mais uma medalha a sua grande meta para este ciclo olímpico?

Eu sinto que as pessoas no Japão estão se preparando para os Jogos Olímpicos. Eu tenho certeza de que será uma bela competição, muito bem organizada para os atletas e para os fãs. Como eu disse, a qualidade é item número 1 para os japoneses. Certamente eu ficaria muito feliz em ganhar mais uma medalha aqui.

8 – Falando em Brasil, é impossível não tocar no assunto Londres-2012. Quando você para para pensar naquele jogo, qual a primeira imagem que se recorda?
Superação. Nunca desistir.

9 – Individualmente foi a melhor atuação da sua carreira?
Não, não foi. Eu tive performances mais belas na minha vida. Mas era o momento certo, na hora certa. Todo o mundo estava assistindo ao jogo. É por isso que este jogo com o Brasil é tão popular e emocionante. E é também um bom exemplo para muitos esportistas de como jogar até o último ponto e nunca desistir. Eu sei que muitos fãs brasileiros me odeiam por causa deste jogo, mas eu gostaria de fazer uma pergunta: “Tente fechar os seus olhos e esqueça que você torça para um dos países. A partida foi um bom espetáculo? O jogo mostrou um bom nível de vôlei? Você curtiu vê-lo? Quantas recordações você tem daquela partida? Quantas emoções?” Eu respeito todos os torcedores e jogadores brasileiros. Naquela final da Olimpíada de Londres eu entendi que se eu quisesse ganhar teria de jogar acima de 200% das minhas possibilidades, pois o time brasileiro era muito, muito, muito forte naquele momento.

10 – Você teve algum ídolo no esporte? Quem você aponta como o jogador adversário que mais teve prazer de enfrentar?
Eu não tenho. Costuma ver alguns detalhes de muitos jogadores e tento pegá-los, combiná-los e usá-los na minha performance durante os jogos. Cada jogador pode ensinar algo para você. Você nunca pode se esquecer disso. Eu sempre jogo contra eu mesmo. É o melhor adversário.

11 – Uma parte pouco conhecida da sua carreira, para nós, brasileiros, é a sua mudança da Ucrânia para a Rússia. Pode me contar um pouco sobre isso, as dificuldades?
Ela não foi tão difícil. Eu era muito novo e não tinha jogado pela seleção ucraniana. Eu somente troquei minha nacionalidade pois meu sonho de infância era atuar pela Rússia. Foi um processo muito rápido.

12 – Para finalizar, queria que você resumisse sua carreira em uma única palavra.
Arte

Quem é ele

Nome: Dmitriy Muserskiy

Apelido: Dima

Data de nascimento: 29/10/1988

Altura: 2,18m

Impulsão: Ataca a 3,75m

Posição: Central/oposto

Clube atual: Suntory (JAP)

Principais conquistas com a seleção: ouro olímpico em Londres-2012, Liga Mundial em 2011 e 2013, Liga das Nações em 2018, Campeonato Europeu em 2013, Copa do Mundo em 2011.

Por Daniel Bortoletto

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