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Destaques - Entrevista - 9 de abril de 2020

Uma entrevista “ridícula” com Everaldo Marques


Você não precisa ser fã apenas de vôlei para gostar do trabalho de Everaldo Marques. Um dos narradores mais versáteis do país, o paulistano do bairro da Mooca acumula, em 15 anos nesta função, 63 modalidades diferentes narradas.

A carreira começou em 1996 na Rádio Jovem Pan. Foi produtor, apresentador e repórter em oito anos no veículo. Neste período, rodou o mundo ao cobrir três temporadas da Fórmula 1.

Em 2005, surgiu a primeira oportunidade como narrador, na TV Cultura. Ele agarrou. Naquele mesmo ano, passou a fazer parte do time da ESPN Brasil e viu a carreira mudar de patamar.

Profissional, muito estudioso, bem humorado na medida certa e criador de bordões. Em 2015, durante as finais da NBA, soltou um “Stephen Curry, você é ridículo!”, após uma jogada antológica do jogador do Golden State Warriors. Virou uma das marcas registradas, mesmo em alguns momentos tendo enfrentado fãs raivosos, nas redes sociais, imaginando ter ouvido um xingamento do narrador.

Evê, como é tratado na intimidade, se transformou uma das vozes mais marcantes da ESPN. Os fãs dos esportes americanos que o digam!

Everaldo permaneceu na emissora até o último mês de fevereiro, quando foi anunciado pelo Grupo Globo. Uma daquelas notícias bombásticas do vaivém do mercado. Chegou a “estrear” pelo SporTV na Superliga feminina de vôlei no duelo entre Sesc e Itambé/Minas, antes da paralisação por conta da pandemia do coronavírus.

Nesta entrevista para o Web Vôlei, o “ridículo” Everaldo relembra a carreira, aponta grandes momentos, eventos que gostaria de ter narrado e também revela uma relação íntima com o vôlei.

A repercussão da sua estreia no vôlei, pelo SporTV, foi muito bacana entre os fãs da modalidade. Teve um frio na barriga diferente por voltar a narrar vôlei?
O vôlei é um dos esportes que mais gosto de narrar e foi o que tentei jogar. Era o esporte que eu jogava menos pior na adolescência. Foi no vôlei até hoje a minha única narração de medalha de ouro olímpica do Brasil, em Londres-2012, então tem um espaço muito especial no meu coração. Não narrava vôlei há algum tempo e foi bem legal voltar e fazer uma partida tão relevante da Superliga, entre dois times tão fortes.

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Com Zé Roberto após o título olímpico em Londres (Arquivo Pessoal)

Recorda-se quando havia sido a narração anterior na modalidade?
Lembro sim. Fiz no ano passado alguns jogos do campeonato europeu de seleções, tanto na competição masculina quanto na feminina.

Você é conhecido pela versatilidade ao ter narrado uma gama enorme de esportes (são 63, certo?). Existe algum aspecto técnico na narração de um jogo de vôlei que necessite uma atenção especial por parte do narrador? Qual foi o mais difícil de narrar?
O jogo de vôlei é muito dinâmico, então a velocidade que as coisas acontecem é muito grande. É preciso ficar ligado sempre, porque acontece muita coisa em um espaço de tempo muito curto. A identificação dos jogadores, todas as ações da partida e alguns momentos que são mais difíceis, como uma irregularidade, daquelas que interrompe um ponto… Você muitas vezes ouve o apito do árbitro e tem uma fração de segundo para identificar o que aconteceu, se foi uma invasão ou um toque na rede, então tem alguns desafios bem interessantes na parte técnica para quem vai narrar o jogo.

Foi especial ter a Fabi, uma bicampeã olímpica, ao seu lado naquele jogo de estreia na Superliga?
Foi muito especial ter a Fabi ao lado na estreia, porque nos tornamos amigos antes mesmo de ir trabalhar no Esporte da Globo. Eu sempre gostei de vôlei e a Fabi acompanha a NBA de perto. Então, durante as finais, há alguns anos atrás, ela me mandou uma mensagem nas redes sociais, a gente começou a conversar e criamos uma relação bacana desde 2014. Nos falamos desde essa época. E aí logo na segunda semana de trabalho, pintou a chance de fazer um jogo junto com ela e foi bem legal.

Conte um pouco da sua rotina de preparação para uma transmissão.
A preparação inclui pesquisar bastante sobre os times e a história dos jogadores. Pesquiso também sobre curiosidades, fico atento aos números mais importantes, porque eles são um bom termômetro para saber quem está bem na competição. Foram quase quatro horas de preparação para a transmissão da estreia na Superliga e é mais ou menos esse tempo que eu levo para me preparar para as transmissões não só de vôlei, mas também de outros esportes.

Você tem vários bordões que caíram no gosto popular. Como funciona o processo de criação deles?
Os bordões acontecem naturalmente. Às vezes eu vejo o que estão comentando nas redes sociais e puxo. Já criei até um bordão a partir de uma sugestão que me mandaram. Não existe uma receita de bolo para criar um bordão e nem é a coisa mais importante. O mais importante é seguir a bola, transmitir emoção, identificar corretamente os jogadores e os bordões aparecem com a cereja do bolo.

Falando sobre o seu acerto com o SporTV. O quanto pesou estar numa emissora com direito de transmissão da próxima Olimpíada?
Estar em uma emissora que tem os direitos de transmissão da próxima edição dos Jogos Olímpicos é legal demais. Como narrador, dependo de eventos para narrar e a Globo tem um portfólio rico de eventos. Não só no vôlei, mas nos esportes olímpicos de uma maneira geral. Fazer parte deste grupo e ter a oportunidade de desfrutar desta gama de eventos vai ser legal demais.

Se você pudesse eleger as cinco transmissões inesquecíveis de sua carreira quais seriam?
Vou colocar duas de vôlei na lista: as quartas de final feminina dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, entre Brasil e Rússia, e a disputa também feminina pelo ouro, entre Brasil e Estados Unidos. Pela NBA, o jogo 6 das finais de 2013 entre Miami Heat e San Antonio Spurs, quando Ray Allen fez uma sexta no finalzinho, levando o jogo para a prorrogação. No futebol, Corinthians x Vasco, que eu fiz no rádio, pelas quartas de final da Taça Libertadores de 2012. De NFL, o último Super Bowl entre Kansas City Chiefs e San Francisco 49ers foi bem legal e achei que fui bem tecnicamente neste jogo.

Quais os sonhos ainda não realizados na profissão?
Não tem nada que eu coloque como um objetivo. Quero continuar narrando e realizando todos os dias o meu sonho de infância da melhor maneira possível, com informação correta, acrescentando algo às pessoas, com emoção e respeito pelas modalidades. Se isso me levar a coberturas de Jogos Olímpicos e Copas do Mundo, melhor ainda.

Qual evento esportivo marcante da sua infância gostaria de ter narrado?
São muitos, mas vou ficar com dois de automobilismo. A vitória de Emerson Fittipaldi, nas 500 Milhas de Indianápolis, em 1989, ou a vitória de Ayrton Senna no Grande Prêmio do Brasil, em 1991, a primeira vitória dele em Interlagos. Se tivesse a chance de voltar no tempo e escolher narrar um evento da minha infância, com certeza seria uma destas duas corridas.

Para quem sonha em ser narrador, quais dicas você daria?
Comecei narrando os jogos dos meus amigos, sem perceber que aquilo era um laboratório para mim. Sempre assisti muito às transmissões, então na hora de narrar modalidades que não tinha narrado ainda, buscava minhas referências. Comecei narrando futebol e a segunda modalidade foi o vôlei. Me lembrei muito das narrações do Marco Antônio e do Luciano do Valle, narradores que eu via na infância. A partir dali eu busquei referências para moldar o meu estilo. Quem quer narrar precisa estudar, se dedicar e se informar. As informações estão disponíveis para quem quiser se preparar bem para uma transmissão.

Para encerrar, quais são os cinco maiores “ridículos” do esporte mundial atualmente na sua opinião?
Sem uma ordem: Messi, Cristiano Ronaldo, Lewis Hamilton, Lebron James e Roger Federer.

Por Daniel Bortoletto