Uzelac revela assaltos, um deles com arma na cabeça, e sofre com crises de pânico
A ponteira sérvia admite ir embora do Brasil antes do fim da temporada
A ponteira Aleksandra Uzelac, um dos maiores destaques da Superliga 2023/2024, revelou estar traumatizada e com crises de pânico após dois casos de violência sofridos no Rio de Janeiro. As declarações dela foram dadas ao site sérvio Mozzart, nesta sexta-feira.
De acordo com o relato da jovem atleta, ela foi assaltadas duas vezes em fevereiro. E ambas com violência, com criminosos usando faca na primeira vez e com uma arma de fogo na segunda.
Neste fim de semana, Uzelac veste a camisa do Flu nas semifinais da Copa Brasil, em São José (SC), contra o Gerdau Minas. E ela admite que a competição pode marcar sua despedida após os eventos traumáticos no último mês. Em contato com o Web Vôlei, o Fluminense diz “dar apoio total à jogadora em qualquer situação e a todo momento e seguirá assim”.
Confira o relato de Uzelac na íntegra:
PRIMEIRA AÇÃO VIOLENTA
– Eu estava voltando do jantar com uma amiga, estávamos pedalando no caminho que é destinado para isso. Ao lado fica a calçada para pedestres, depois a parte onde estão plantadas as árvores – tem raízes e pedras ao redor, e depois a rua por onde passam os carros – que é mais baixa, não está no mesmo nível. Basicamente, é impossível sair da trilha com uma bicicleta. Eu ia primeiro, ela estava atrás de mim. Dois correram em minha direção, levantaram as camisas e tiraram facas. Eles eram literalmente facões, facas realmente enormes. Eu nem sei como elas cabiam sob suas camisas. Comecei a gritar e não sabia o que fazer. Entrei naquela rua… Posso dizer que Deus me salvou porque nem caí da bicicleta e corri para a rua onde há carros e motos. Eu poderia ter sido atropelado. Minha amiga não conseguiu atravessar, ela caiu. Passei por cima daquelas raízes como nunca antes na minha vida. Um me seguiu e o outro foi até ela. Parei, joguei a bicicleta fora, esperei por ela e parei um carro. Não pude fazer mais nada. Um táxi parou, de alguma forma entramos e fomos juntas à polícia. Eles não fizeram nada lá, apenas nos levaram para casa mais tarde. Tudo aconteceu muito perto da delegacia. Fiquei muito traumatizada, foi muito assustador e não consigo tirar essa imagem da minha cabeça – quando eles estão vindo até nós com facas. Ninguém veio ajudar nós porque as pessoas não sabem o que esses criminosos podem pensar e para o que estão preparados
SEGUNDO CRIME
– Eu estava voltando do clube para o meu apartamento, estava jantando com minha amiga. Antes assistimos a um jogo de futebol do Fluminense, estava tudo ótimo. Paramos o Uber, entramos no carro. Mandei uma mensagem para meu namorado Danilo dizendo que estava tudo bem e que chegaria em casa em 30 segundos, já que moro a 100 metros do clube. Eu estava olhando para o telefone, e minha amiga pegou minha mão e começou a gritar: “Uzi, Uzi, Uzi…”. Eu olho , quando estão parados na nossa frente dois carros, atrás também, ao lado de duas motos. Homens saem com pistolas. Dois pararam na frente do carro, e os outros bateram em todas as portas com uma pistola. Eles gritavam para darmos tudo o que tínhamos. Abriram a porta e apontaram a arma em direção à nossa cabeça. Estávamos gritando, quatro armas, inclusive aquela com silenciadores. Eles nos revistaram e um deles começou a entrar no carro, mas de alguma forma conseguimos pular e começar a correr. Não passava nada pelas nossas cabeça.
REFLEXÕES
– Nós, na Sérvia, só vimos algo assim em filme. Só quando algo assim realmente acontece com você é que você vê como isso é terrível
CRISE DE PÂNICO APÓS O SEGUNDO ASSALTO
– Cheguei no meu apartamento com minha amiga, ela estava lá comigo, não dormi nada. E depois de tudo comecei a ter ataques de pânico. Uma noite foi muito assustador, Danilo também se assustou, e Não me lembro de nada. Só acordei no meio da noite e comecei a gritar, gritar, pensei que alguém estava me perseguindo. Liguei para minha mãe e disse que queriam me matar no apartamento. Achei que alguém estava me ligando. O trauma é grande. Esse mesmo motorista, que não é carioca, nos contou que já viu situações parecidas e que pessoas foram mortas. Para eles, é como um bom dia.
– Logo depois viajamos para um jogo, então eu não estava no Rio. Estou com muita dificuldade para dormir, agora estou tomando remédio por causa daqueles pesadelos. Fico bem durante o dia, mas é difícil à noite. Ainda estou cansada porque durante alguns dias não dormi nada. Só agora estou conseguindo fechar um pouco os olhos. Estou tentando me concentrar no vôlei, porque quero lidar com isso e seguir em frente. Não quero que isso me perturbe tanto.
TRAUMA
– No momento é mais importante para é me sentir segura, manter a cabeça no lugar, porque me aguardam competições importantes com a seleção nacional. Quero estar pronta para a Liga das Nações e para os Jogos Olímpicos. Tenho medo que tudo isso possa me perturbar muito, por mais que eu queira continuar forte. Você nem imagina o quão terrível é até vivenciar isso.
REAÇÕES DA FAMÍLIA E FUTURO
– Mamãe e papai queriam vir imediatamente para voltarmos para casa juntos. É claro que eles não têm certeza se devo ficar aqui. Quem teria certeza se algo assim acontecesse com seu filho? Eu acordo no meio da noite e ligo para minha mãe. Eu grito no telefone. Você entende o trauma que isso é para ela também? Eles se preocupam todos os dias e com certeza não querem que eu fique. Estou tentando de alguma forma esquecer, felizmente Danilo está aqui, então não estou sozinha. Acho que vou conseguir aguentar, ficarei aliviado quando tudo isso acabar e quando eu for embora. Me diverti muito, adorei o clube e tudo mais, gostei, e aí acontece uma coisa assim e estraga tudo.
CHANCE DE FICAR NO BRASIL ANTES DOS ASSALTOS
– Houve negociações, não havia nada certo se continuaria ou não na próxima temporada. Mas depois de tudo isso, nem tenho certeza se terminarei esta temporada no Fluminense. É bem possível que me dedique nos próximos dois meses e me prepare para a seleção. Se eu pedir ajuda de um psicólogo com certeza será na Sérvia, não aqui. Eles me apoiam no clube, estão lá para tudo, mas tenho que ver o que é melhor para mim. É difícil quando sua vida está em perigo.