
Velasco dá conselho sobre o Brasil: “Preciso tempo e paciência”
Em 1990, no Maracanãzinho, a Itália comandada por Julio Velasco conquistou pela primeira vez um Campeonato Mundial masculino de vôlei, com uma geração fantástica e multivencedora naquela década. 35 anos depois, o treinador voltou ao ginásio, no Rio de Janeiro, com status de atual campeão olímpico com a seleção italiana feminina. Com um currículo vitorioso e muita história na modalidade, este argentino de 73 anos, de fala mansa, também dá conselhos.
Na recente passagem pelo Rio de Janeiro pela abertura da Liga das Nações (VNL), Velasco viu a Itália, líder do ranking mundial, vencer seus quatro jogos. O último deles sobre o Brasil, por 3 a 0, frustrando quase 11 mil torcedores no Maracanãzinho. Para o vôleifã chateado com o resultado, o técnico, em entrevista exclusiva ao Web Vôlei, deu um recado que pode parecer simples, mas é muito válido para uma Seleção Brasileira em início de processo de renovação para o ciclo Los Angeles-2028.
– O Brasil precisa ter tempo para trabalhar, ter paciência, não há outra maneira. José Roberto é um treinador excepcional, com muita experiência. Esse time vai melhorar aos poucos. Espero um Brasil muito mais difícil de ser enfrentado no Campeonato Mundial (em agosto). As jogadoras jovens precisam de tempo, trabalho, experiência em partidas como esta diante da Itália. Ainda tem muito tempo até o Mundial e partidas difíceis vão ajudar esse novo Brasil a se desenvolver – disse.
No primeiro encontro contra o Brasil em 2025, Velasco não teve Gabi e Carol, estrelas do último Campeonato Italiano, como rivais. A bicampeã olímpica Thaisa já se aposentou da Seleção, além de baixas por lesão, como Rosamaria. Sem elas, o treinador da Azzurra não titubeia para apontar quem se credencia para assumir o protagonismo na Seleção:
– Ana Cristina é uma jogadora excepcional, um talento enorme, uma das melhores do mundo sem dúvida.
O FUTURO ITALIANO
No confronto do último domingo, Velasco tinha no seu time titular seis campeãs olímpicas em Paris, no ano passado, optando por iniciar 2025 com força máxima. Ele sabe que o peso de ter conquistado a VNL e o ouro na Olimpíada é enorme, colocando nas costas da Itália o favoritismo. Como permanecer no topo, professor?
– Uma preocupação que eu tenho é que no ano passado nós jogamos demasiadamente bem, sem sofrer muito. E neste ano eu sei que vamos sofrer. A lógica é sofrer. Tenho falado muito com as jogadoras que temos de saber sofrer. Quando uma não joga ao máximo, quando o time oscilar, outras precisam aparecer. Na cabeça de todos, nós temos de ser como em 2024. Mas isso é impossível. O ano passado foi uma exceção, não é a regra – analisou.
Questionado se o trabalho psicológico ganha uma importância maior neste cenário, Velasco prefere não desvinculá-lo do que será feito em quadra.
– Para mim o trabalho mental está muito vínculo à parte técnica e física. O ser humano é um só, não dá para separá-lo em camadas. Como se treina a parte mental? Basicamente com a bola. Manter o foco, a concentração, não pensar no erro. O que está feito está feito. O importante é o próximo passo, o próximo lance. Por isso deixo o Brasil feliz e satisfeito, pois vejo o time assim, com a determinação de jogar uma bola por vez. E com um pouco de sorte. No esporte, a sorte é um elemento importante e nós a tivemos em alguns momentos – disse ele, lembrando de um ace de Ekaterina Antropova, com a ajuda da fita, para ter o match point contra o Brasil.
E assim, com sorte e trabalho, Velasco inicia um novo ciclo olímpico como o técnico do time a ser batido no vôlei feminino.