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Entrevista - Seleção Brasileira - Tóquio-2020 - 20 de janeiro de 2023

Zé sobre grupo de Tóquio: “O que vi e aprendi me fez renovar”

José Roberto falou sobre o atual ciclo olímpico. Em 2023, o técnico completará 20 anos de Seleção


José Roberto Guimarães completa, em 2023, duas décadas consecutivas à frente da Seleção Brasileira feminina de vôlei. Os dois ouros olímpicos conquistados no período são inesquecíveis, mas a prata em Tóquio também foi marcante. Zé contou, em entrevista ao Estado de S. Paulo, que o grupo vice-campeão em na Olimpíada de 2021 o cativou de uma forma tão especial que a renovação até Paris-2024 foi uma consequência.

– O que eu vi e aprendi com esse grupo de Tóquio me fez renovar. Essa Seleção me mostrou que, apesar de todas as dificuldades que nós enfrentamos, a energia do grupo, a química, a vontade de aprender e de estar junto, tudo isso foi muito legal. Quando você tem um grupo dessa maneira, você vê que elas têm um objetivo claro e você vê que elas estão se cuidando, te faz querer seguir. Além de Tóquio, elas me mostraram mais uma vez isso em 2022, na Liga das Nações e no Mundial. Isso tudo me deu força para continuar. Eu vi isso tudo que eu falei nessa nova geração que chegou na Seleção. Não só nas mais novas, mas também nas mais experientes que chegaram ao grupo agora e estão representando o Brasil pela primeira vez. Essa vontade grande de querer realizar tudo. Dessa forma eu me senti bem e isso me fez querer continuar. É difícil descrever o que nós vivemos nessa última temporada, mas posso dizer que foi apaixonante estar ali. A gente conseguiu construir um ambiente muito gostoso. Muito leve para se viver e trocar experiências, isso foi legal – disse Zé Roberto.

No ano passado, o Brasil chegou ao vice-campeonato mundial e também ao segundo lugar na VNL. Bateu na trave em relação aos títulos. Para o treinador, a presença constante entre os tops aponta um caminho animador.

– A gente tem que seguir com essa construção e essa chama acesa. Apesar da medalha de prata, eu tenho muito orgulho de ter conquistado com todos do grupo, é isso. Penso que se o time do Brasil estiver chegando sempre no pódio está ótimo, significa que estamos no caminho. Precisamos nos acostumar a chegar na zona de medalha sempre.

Zé Roberto
Brasil após a final da VNL de 2022, antes de receber a medalha de prata (FIVB Divulgação)

Em 2023, o maior desafio será a classificação para a Olimpíada de Paris. A Federação Internacional de Vôlei ainda não revelou o calendário e os grupos, já que a forma de disputa foi alterada em relação aos ciclos anteriores. Mas isso não impede a preocupação antecipada de Zé Roberto.

– Estava conversando com a minha esposa (Alcione) nesta semana. Será um ano muito difícil se tratando de Pré-Olímpico. Serão três chaves de oito seleções e duas de cada chave irão se classificar. Vai ser um desafio enorme. A gente vai ter que montar a melhor seleção que a gente possa e vamos ter que aproveitar a Liga das Nações como jogos preparatórios para setembro, que é quando vai ser o Pré-Olímpico. A vaga em Paris será o nosso grande objetivo no ano e, como eu disse, nós temos que estar lá com o nosso melhor.

BARUERI

Neste momento, o foco de Zé Roberto está no Barueri. O projeto idealizado, gerido e muitos vezes bancado pelo técnico disputa a Superliga com a equipe adulta, além de colecionar conquistar com as categorias de base. Apesar da constante dificuldade para conseguir patrocínio, a família Guimarães já planeja aumentar a abrangência do projeto.

– O grande problema do projeto é essa situação de estarmos sempre perdendo as jogadoras para os outros times. A gente não consegue manter elas aqui por mais de um ano. Temos buscado patrocínios todos os dias, com todas as pessoas. O que tem nos ajudado muito são os projetos de incentivos, tanto na base como no adulto. O ano de 2022 foi excepcional para os nossos times de base. Das cinco categorias do Campeonato Paulista nós vencemos quatro e fomos terceiro lugar na outra. Foi um ano excepcional. Em 2023 vamos aumentar em mais duas categorias, colocando equipes a partir do sub-12, e isso quer dizer mais atleta e mais gente conosco. Os técnicos estão entusiasmados, todo mundo ajudando no que pode e a gente buscando patrocínio. Hoje Barueri é uma das melhores escolas de vôlei do país, haja vista o que acontece no nosso time adulto. Atualmente metade do elenco do nosso adulto é composto por atletas da nossa própria base. Isso é motivo de muito orgulho para todos nós. Isso nos faz querer continuar. Precisamos seguir buscando empresas que estão dispostas a nos ajudar nessa empreitada. Temos o apoio da prefeitura de Barueri, que é importante, mas a gente precisa encontrar patrocinadores diretos – comentou Zé Roberto, falando com orgulho do projeto.

– O projeto está caminhando, está com uma qualidade legal tudo que a gente tem construído. Aqui nós não nos preocupamos apenas com as jogadoras de vôlei, mas com as cidadãs. Pensamos e buscamos que elas se tornem cidadãs do bem, que tenham oportunidades. Conseguimos convênio com o Colégio Campos Sales e a escola Amorim, de Barueri, para as jogadoras que vêm de fora terem onde estudar. Falta a ajuda financeira para que tudo seja ainda melhor e seja possível dar oportunidade para elas. A gente não gostaria de perder essas atletas tão precocemente como está acontecendo. O nosso orgulho é que da última convocação da seleção brasileira 11 jogadoras da lista nasceram ou passaram pelo time de Barueri. Isso é motivo de muito orgulho para nós como escola de voleibol. Isso é uma amostra de que estamos fazendo um trabalho muito bom para as meninas, para a comunidade como um todo e para o Brasil.