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Destaques - Entrevista - Seleção Brasileira - 19 de julho de 2020

Agora “sessentão”, Renan passa a carreira a limpo

Confira a entrevista com o técnico da Seleção


Renan Dal Zotto completou 60 anos neste domingo. Em entrevista à CBV, ele passou a carreira a limpo. O início ainda como levantador, a mudança para a ponta, sendo eleito o jogador mais espetacular do planeta, em 1985, as competições marcantes com a Seleção, o famoso jogo com a União Soviética, no Maracanã, entre outros temas.

Confira a entrevista do atual técnico da Seleção Brasileira masculina:

O INÍCIO

– Quando eu comecei a jogar, em 72, era paixão pura, imaginando o orgulho de um dia vestir a camisa da seleção brasileira. Com 16 anos, em 76, fui convocado pela primeira vez. Em 77 acho que começou a nascer um sonho. Foi a primeira vez que tivemos um treinamento centralizado. Para o Mundial juvenil, no Rio de Janeiro, nós tivemos uma seleção quase permanente. Ficamos treinando sete meses no Rio e teve período que tínhamos três sessões de treinamentos. Nós tínhamos um sonho. Éramos um bando de malucos que queria jogar e colocar o Brasil entre os melhores do mundo.

MUDANÇA DE POSIÇÃO

– Em 78 eu fiz meu primeiro Mundial ainda como levantador, em Roma, ficamos em quinto lugar, e em 79 eu comecei a ser só atacante. Para mim foi muito bom ter tido esse aprendizado no início da carreira. Me tornou um atleta mais completo, mais dedicado em todos os fundamentos e sabendo valorizar a importância de cada um deles.

A CONSTRUÇÃO DA GERAÇÃO DE PRATA

– Em 82 acho que foi a grande virada. Muita gente acha que foi em 84, nos Jogos de Los Angeles, com a medalha de prata, mas eu acredito que em 82 foi a grande explosão do voleibol. Tenho matérias dessa época mostrando parques lotados de redes de vôlei e isso foi muito bacana. E teve um fato muito interessante em 82 que, para mim, Renan, aquele momento eu entendi a força que o voleibol estava chegando. Nós fomos campeões do Mundialito e vice mundiais neste ano e eu morava junto com outros atletas como Roese, Leonídio, Marcus Vinícius, e a minha cama era ao lado da janela. Acordei num domingo de manhã com barulho de bola. Até que consegui ouvir ´sacou Montanaro, passou Renan, William levantou, ponto do Xandó, ponto do Brasil´. Eles estavam falando nosso nome, o que até então era algo inimaginável. Aqueles garotos de 16, 17 anos estavam jogando vôlei e não futebol. Aquilo foi muito marcante e o momento em que eu percebi que o voleibol veio para ficar.

SAQUE VIAGEM

– Quando viajávamos, ficávamos meses fora. Em uma dessas, aproximadamente em 78, na China, tinha um chinês fazendo um saque lateral tirando o pé do chão. Aquilo me fez pensar. Porque não tirar os dois pés? Na Sogipa, em Porto Alegre, comecei a brincar de dar esse saque. Na final do Campeonato Gaúcho, em 79, estávamos perdendo, perguntei ao técnico se podia dar aquele saque e acabei fazendo uns 12 pontos. Ganhamos o jogo, o campeonato e comecei a brincar na seleção também. Rapidamente William e Montanaro também começaram e acho que a primeira vez que fizemos esse saque foi em 82, no Mundial, na Argentina. Hoje percebemos que é o saque utilizado por quase todos os atletas. A única diferença é que na época nosso saque chegava a 90, 100 por hora e hoje vemos saques a 120, 130 por hora. Antes o saque era a primeira ação do jogo. Hoje pode ser considerado o primeiro ataque.

JOGO NO MARACANÃ

– Em 83 fizemos um jogo inesquecível no Maracanã, contra a União Soviética. Foi uma ousadia monstra naquele momento programar um jogo no Maracanã. Foi denominado ´O Grande Desafio´. Eles tinham o melhor time na atualidade e não perdiam um jogo há muitos anos até que nós vencemos no Mundialito. O jogo estava marcado para o dia 19 de julho, dia do meu aniversário, mas choveu muito e foi remarcado para o dia 26 de julho. Nós ligávamos para todo mundo para chamar e tentar encher o estádio. O Maracanã cabia mais de 100 mil pessoas e só pensávamos que seria um mico colocar 15 mil ali, que era o que cabia num ginásio. Estávamos todos muito ansiosos com aquilo. Lembro que no vestiário a gente ficava se perguntando se tinha gente. Na hora de entrar em quadra, quando eu vi aquilo lotado, a perna tremia. Foi uma festa maravilhosa, com 100 mil pessoas, e acho que o momento mais importante da história do voleibol aqui no Brasil. Vencemos por 3 a 1, mas isso foi o que menos importou. O mais importante foi entregar aquele jogo, apesar da chuva, a todas aquelas pessoas que estavam ali.

LOS ANGELES-84

– Em 84 conquistamos a prata em Los Angeles. Para mim foi muito difícil. Eu tive uma lesão grave no pé em um amistoso 15 duas antes dos Jogos Olímpicos. Fiz um tratamento intenso, recorri a tudo que foi possível. Estava praticamente fora dos Jogos, mas, como o regulamento não permitia trocas, o Bebeto perguntou se eu queria ir. Eu não tinha condição de jogo, mas quis ir e pensei em fazer de tudo para ajudar em algum momento. Fiz uma cirurgia espírita, muita fisioterapia, e o fato é que eu fui para os Jogos e consegui jogar da metade para frente. Não na minha melhor condição, mas dei minha contribuição. Acabamos perdendo a grande final e a sensação na hora que acaba o jogo é de que perdemos a medalha de ouro. Mas, depois vimos que ganhamos a prata. Uma medalha que se tornou parte da história.

O MELHOR MOMENTO

– Totalmente recuperado, em 85 eu vivi o meu melhor momento. Na Copa do Mundo, no Japão, fui eleito o jogador mais espetacular, o melhor atacante do mundo e foi muito legal pessoalmente, mas, por outro lado, fiquei triste porque queria ter feito tudo aquilo um ano antes, nos Jogos Olímpicos, e não consegui. Mas, faz parte da história e nós estamos falando de uma parte dela, já que o melhor ainda estava por vir, em 92, e dali em diante.