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Destaques - Seleção Brasileira - Superliga - 17 de outubro de 2023

Alê Marinho fala sobre os desafios da preparação física do Gerdau Minas na temporada

O Minas cedeu cinco jogadoras para a temporada de seleções e ainda recupera Gattaz e Kudiess


O calendário do vôlei pede socorro. E já há algum tempo. O curto espaço de recuperação entre as temporadas de Seleção e de Clubes e também entre as próprias competições – VNL, Sul-Americano, Pré-Olímpico e Pan-Americano num espaço de cinco meses com viagens, treinos e deslocamentos – tornou-se o maior desafio de técnicos, preparadores físicos, equipe médica e, claro dos atletas, os protagonistas do show. O Web Vôlei bateu um papo com o preparador físico do Gerdau Minas, Alexandre Marinho, para saber como uma equipe de alto rendimento e que historicamente cede muitas jogadoras para a seleção, como o Minas, consegue administrar essas atletas fisicamente.

Esse ano, o clube mineiro cedeu 5 jogadoras para o Brasil/República Dominicana: Thaisa, Kisy, Nyeme, Pri Daroit e Peña. Na temporada passada foram seis. Carol Gattaz e Julia Kudiess estiveram no Mundial ao lado de Pri, Kisy, Nyeme e Peña. Em 2021, Macris chegou machucada da Olimpíada e o Minas também precisou administrar sua escalação ao longo das semanas seguintes.

Na semana passada, Minas e Osasco optaram por não liberar quatro atletas para a disputa do Pan-Americano do Chile, que começa na próxima sexta-feira. Por se tratar de um torneio de menor importância no sarrafo mundial e, historicamente o Brasil enviar equipes com jogadoras mais jovens, os clubes pediram as dispensas de Kisy, Julia Kudiess (Minas) e Kenya e Maira (Osasco) para dar ênfase à preparação da Superliga, que começa em novembro.

Mineiro de Belo Horizonte, Alexandre Marinho, 44 anos, está há oito anos no Minas e é preparador físico não só do time adulto, mas de todas as categorias de vôlei feminino do tradicional clube de BH. São quase 100 atletas, do sub-14 ao adulto. Com o Gerdau Minas, ele já disputou 287 jogos com 223 vitórias em 37 competições adultas. Foram 32 pódios, sendo 16 títulos, entre os eles 3 Superligas, 3 Copa Brasil e 4 Sul-Americanos. Além de preparador físico, é louco por estatísticas, análise de mercado e recrutamento. “Consumo voleibol o ano inteiro”, resume Alexandre.

Confira abaixo a entrevista que Alexandre concedeu à jornalista Patrícia Bortoletto:

Web VôleiO Minas é o time que mais cedeu atletas para as seleções esse ano. E ainda precisou recuperar fisicamente as centrais Carol Gattaz e Julia Kudiess. Como você começa o trabalho diante de um quadro como esse, com sete jogadoras precisando de trabalhos diferentes do restante do grupo? O Campeonato Mineiro já começa na próxima semana. 

Alexandre Marinho – Ao iniciar os trabalhos no clube, todas as atletas são submetidas a uma anamnese para serem classificadas e alocadas sob alguns critérios. São eles: Lesão Crônica/Intertemporada/Idade/Composição Corporal. No próximo passo são realizados alguns testes de competências específicas para a modalidade. A partir daí é determinado meu plano de ação individualizado. A Thaisa, por exemplo, merece uma atenção especial. Nesta temporada enquadra-se em Lesão Crônica, não fez intertemporada, tem a idade e chegou após duas semanas de inatividade. Sendo assim, alguns ajustes são feitos no treinamento inicialmente: redução no volume dos saltos, ênfase no treinamento da força, monitoramento dos parâmetros nutricionais, de recuperação, esforço, bem estar, desempenho em saltos, etc..

Web VôleiO quanto isso impacta na performance e na preparação?

Alexandre Marinho – Essa adaptação por si só já altera o planejamento. Uma vez que as atletas vão para a temporada de Seleções, não fazem a intertemporada proposta. No caso do Minas, começamos em Agosto com uma parte do grupo. As que chegaram da Seleção Brasileira terão apenas 20 dias de treinamento para início das competições oficiais. No mês de novembro já temos 10 jogos arrochados em 29 dias e dezembro o Mundial de Clubes, que é muito importante para o clube. São 6 competições para Minas e Praia Clube há algum tempo. Assim é a gestão, temos um preço a se pagar no começo. Faz parte e historicamente, temos este entendimento.

Web VôleiComo são as etapas de preparação para uma competição longa e importante como a Superliga, sendo que temos aí outros torneios que merecem atenção e que a torcida cobra títulos, como Sul-Americano, Copa Brasil e o Estadual?

Alexandre Marinho – Nosso planejamento é elaborado quando termina a temporada anterior. Já temos ideia das seis competições e do calendário. A partir daí traçamos as metas para a próxima temporada. A busca deste ápice depende dos objetivos de cada equipe. Se uma equipe almeja não ser rebaixada, em tese, deve começar a temporada já no ritmo forte. Se o objetivo for o título, este ápice da preparação será em abril. De maneira simplificada, ocorre sim, este carregamento, com progressão sucessiva e contínua das cargas até o que chamamos de polimento. Ao longo da temporada elas trabalham Resistência de Força Geral, um pouco de Hipertrofia, Força Máxima até a cereja do bolo que é a Força Explosiva Específica.

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Web VôleiComo tem sido a adaptação das norte-americanas? Elas costumavam ter treinos como os do Brasil?

Alexandre Marinho – Considero o Minas como uma mini Vila Olímpica. São várias modalidades, muitos atletas além de todas as opções de cultura e lazer. Isto facilita o engajamento das meninas. Foram super bem recebidas por todos nós. Extremamente profissionais e em ótima condições atléticas. Os treinos que faziam na França e Turquia diferem um pouco em volume, intensidade e a própria seleção de exercícios. Meu papel é manter as capacidades já bem desenvolvidas nos treinos europeus com as especificidades do meu trabalho e do calendário (Que é bem diferente!). Vão sofrer um pouco no começo mas vai dar tudo certo! (risos).

Web VôleiVocê publicou um post interessante na semana passada nas suas redes sociais sobre a relação entre força e potência. As pessoas falam muito sobre a Kisy. Falta mesmo potência?

Alexandre Marinho – Kisy é uma jogadora que monitorávamos desde São Caetano, passando pelos tempos na reserva do Barueri. Tivemos toda uma preocupação e planejamento para ela. Sobre potência, de fato, não é como Tijana Boskovic, Isabelle Haak. Mas por outro lado, tem uma velocidade incrível. No modelo da atual campeã olímpica Drews, por exemplo. E, tecnicamente, como é essa potência que andam falando? É raro alguém que jogue rápido e é explosivo como a condição de quem joga mais lento.

É difícil vincular as duas coisas. Kisy tem muita potência nos membros inferiores e atrelado a isso temos os aspectos técnicos/coordenativos que as pessoas confundem. Não é fácil ter alguém que jogue rápido e que seja extremamente potente. Uma coisa não é convergente com a outra sobretudo quando comparada a alguém. Exigir de Kisy, atacar uma bola muito rápida com a mesma potência que uma Tandara ataca numa bola extremamente alta é desconhecer os conceitos…

Quem é do ramo e acompanha números, sabe o que eu estou dizendo. Não a toa, está no grupo principal da seleção Brasileira. Kisy é nosso diamante. Atacante da Posição 2 como ela , brasileira, não temos muitas. Eu, particularmente tenho muito orgulho da sua evolução. Da menina tímida que nos foi entregue a aspirante ao grupo de Paris’24.

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Ao lado da Kisy (Minas/Divulgação)

Web VôleiO preparador físico precisa estar em sintonia com outros profissionais do clube, como fisioterapeuta, médicos, nutricionistas e a comissão técnica. Não é a toa que você é um dos braços direitos do Nicola Negro no dia a dia. Como funciona esse trabalho multidisciplinar e qual a importância dele?

Alexandre Marinho – No Minas, utilizamos um modelo bem diferente da esmagadora maioria dos clubes, onde temos 9 profissionais mais uma Coordenação Técnica que juntos conseguimos compartilhar boas práticas, estabelecer críticas construtivas e manter o Minas na vanguarda tecnológica, no sentido do conhecimento aplicado ao treinamento e a realidade das atletas de alto rendimento. Observo que alguns núcleos se concentram numa tendência a polarização. São demasiadamente acadêmicos e não conseguem inserir isso na realidade do atleta ou extremamente práticos e não consideram questões fundamentais da ciência, que vem evoluindo e nos mostrando alguns caminhos.