Análise: Sérvia não empolga. Bom para o Brasil em Tóquio
Daniel Bortoletto vê caminho aberto para a primeira fase ideal da Seleção feminina
Atual campeã europeia, medalhista de prata na última Olimpíada, com uma das melhores atacantes do mundo no seu elenco. A Sérvia, de Tijana Boskovic, tem credenciais de sobra para impor respeito no cenário feminino do vôlei. Tanto que é apontada como a principal adversária do Brasil na primeira fase da Olimpíada de Tóquio, numa importante disputa pela liderança do grupo, além logicamente de ser candidata ao pódio. O momento das sérvias, porém, permite fazer uma projeção bem otimista pelo viés brasileiro em Tóquio.
Nos dois amistosos realizados contra a Itália, nesta semana, a Sérvia venceu, é verdade. Mas não convenceu. E a falha mais evidente é a linha de passe. Ela demonstrou ser frágil e pouco confiável, incluindo ponteiras e líbero. A ponto de a oposto Boskovic participar da recepção em momentos de instabilidade do fundamento nos jogos. Um convite para que os rivais deitarem e rolarem em Tóquio.
Zoran Terzic optou por esconder o jogo durante a Liga das Nações, enviando um time C para Rimini. Os principais nomes ficaram treinando no país, bem longe dos olhos atentos dos rivais. Ao convocar as 12 para a Olimpíada, o técnico não abriu espaço para a equipe da VNL. Optou pelas mais experientes e conhecidas, mesmo que em momento pior do que algumas preteridas. Lazovic, por exemplo, poderia ter ocupado a vaga de Milenkovic ou Busa. Ainda mais com as condições físicas de Mihajlovic, com um problema nas costas, sendo incertas.
Com um passe instável, a levantadora Ongjenovic, que já não vem de uma temporada dos sonhos, perde o jogo com as centrais e tem Boskovic como a opção “do seja o que Deus quiser”. É bola para canhota até a exaustão. Me parece bem pouco para sonhar alto na Olimpíada.
Tudo isso, é claro, é animador para o Brasil. Vencer a Sérvia será um passo enorme para a equipe de José Roberto Guimarães garantir a liderança do grupo. E, em tese, garantir o confronto menos complicado das quartas de final com o quarto colocado da outra chave. Em um exercício de “futurologia lógica” (se é que isso existe), China e Estados Unidos brigarão pela ponta. Vejo a Itália com mais possibilidade de sair em terceiro e até complicar a vida de chinesas e americanas, fazendo do confronto Turquia x Rússia, em tese, a definição da quarta colocação e do eliminado.
E, cá entre nós, turcas e russas são rivais bem “acessíveis”, no termo politicamente correto, para a disputa com o Brasil por um lugar na semifinal. As duas seleções estiveram com força máxima na VNL. Possuem, com certeza, atletas com capacidade de desequilibrar (Goncharova e Karakurt). Mas as duas não têm elencos com tantas possibilidades como a Seleção Brasileira demonstrou possuir, além de um estilo sem muitas variações ofensivas e com recepções instáveis.
Para se garantir entre as quatro na disputa por medalhas, o Brasil tem neste cenário o seu mundo ideal.
Por Daniel Bortoletto