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Destaques - Entrevista - Internacional - Seleção Brasileira - 27 de dezembro de 2019

Bruninho: “Eu nunca quis substituir ninguém”

O levantador Bruninho fala sobre a carreira, momento no Civitanova e os Jogos Olímpicos de Tóquio


Em entrevista ao LANCE!, o levantador Bruninho, fez um balanço da vitoriosa temporada com o Civitanova, com os títulos do Campeonato Italiano, da Champions League e do Mundial de Clubes, o último que faltava na carreira. O capitão da Seleção Brasileira ainda projeta a Olimpíada de Tóquio, considerada por ele a mais difícil dos últimos tempos.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista de Bruninho:

SUCESSO DO CIVITANOVA
Foi um ano realmente especial. Conquistamos tanto a Champions League quanto o Campeonato Italiano, e começamos esta temporada com o pé direito, após o título do Mundial de Clubes. Estamos no caminho certo. Poucas peças do time mudaram, o que ajuda a manter o entrosamento. Também já conhecemos melhor o nosso técnico (Ferdinando De Giorgi), pois já é a segunda temporada com ele. Acredito que precisamos continuar o trabalho, apesar de todos esses sucessos. Hoje, somos o time a ser batido na Itália. Todos querem tirar um pedacinho do atual campeão.

AS PASSAGENS DE BRUNINHO PELA ITÁLIA
Na primeira (Modena 2011), era tudo uma surpresa para mim. Eu era um menino que queria desbravar a Itália e encarar a aventura de ir para o exterior. Foi muito bacana. Apesar de não ter conquistado o título, pude entender como funcionava a paixão, principalmente em Modena, das pessoas pelos clubes. É algo diferente do Brasil. Entre 2014 e 2016, foi uma volta um pouco inesperada, por causa dos problemas financeiros do RJX. Mas já havia um projeto sendo montado para Modena voltar a vencer. Foi muito legal participar dessa volta da equipe. Conquistamos a Copa Itália, em 2015, e o triplete em 2016, que inclui Supercopa, Copa Itália e Campeonato Italiano. Foi uma passagem especial. Aprendi muito com o técnico na época. Realmente cresci não só como atleta, o que me ajudou na preparação para a Olimpíada do Rio, mas como capitão. Já a última temporada foi como um atleta mais maduro, tendo de me adaptar a certas situações. Foi importante vir para o Civitanova.

MOMENTO
Na última temporada, mudei a característica do meu jogo para me adaptar ao time, para desfrutar melhor dos jogadores que tenho ao meu lado, para fazê-los jogar o seu melhor. De certa forma, foi uma maneira de eu me reinventar. Com a idade, após os 30 anos, e com todos os times me conhecendo, tive de mudar algo no meu jogo para continuar fazendo a equipe andar. Mas muito mais maduro e sabendo lidar com as situações de dificuldade. Também é uma passagem importante, pelo fato de eu conseguir conquistar todos os títulos que eu sonhava: a Champions League e o Campeonato Mundial de Clubes.

Bruninho
Bruninho e Juantorena no Mundial (FIVB Divulgação)

CENÁRIO DO VÔLEI MUNDIAL
É um cenário internacional muito equilibrado. Tem pelo menos seis times que aparecem com chances de medalha de ouro: Rússia, Brasil, Polônia, Estados Unidos, Itália e Sérvia ou França, dependendo de quem levar a vaga no qualificatório europeu, em janeiro. Em uma competição rápida como essa, de duas semanas, tudo depende de como cada um chega, na parte física e mental. Sem dúvida, será a Olimpíada mais equilibradas de todos os tempos no vôlei.

FUTURO
Eu procuro viver um dia de cada vez. É difícil eu fazer grandes planejamentos para o futuro. Quero jogar o máximo de tempo possível na Seleção. Hoje, estou muito focado em chegar bem aos Jogos de Tóquio-2020.

PÓS-CARREIRA
Ainda não penso muito. Ainda preciso terminar minha faculdade e continuar estudando. Já tenho alguns investimentos, em restaurante e academia. Já estou me preparando um pouco para o futuro, mas não sei exatamente o que fazer. Gostaria de trabalhar no esporte, no vôlei, sem dúvida. Mas ainda estou pensando no agora.

A CONDIÇÃO DE ÍDOLO
Nunca foi uma responsabilidade. Eu nunca quis substituir ninguém. Tento me comportar como qualquer atleta que, quando tem sucesso junto com seus companheiros, se torna referência. Para mim, é um prazer ver que muita gente me vê como ídolo, mas nunca busquei isso. Sou apenas grato ao que acontece. Tento ser um bom exemplo para os mais jovens e agradeço por toda força que me dão.

Bruninho
Bruninho recebe o carinho da torcida no Taquaral (Daniel Bortoletto/Webvôlei)

A SUPERLIGA
Temos muito a melhorar. Em nível técnico, existe uma diferença bastante grande entre os principais times e os menores, sobretudo em relação ao orçamento. É algo que, aqui na Itália, é mais equilibrado. Lógico que há quatro times investindo mais, mas os menores conseguem fazer bons elencos, com um investimento justo. Isso gera um equilíbrio e desperta um interesse maior do público, afinal temos jogos disputados em todos os finais de semana. No Brasil, sentimos falta disso. Vemos equipes com muitos problemas financeiros, que deixam a Superliga na última hora, como este ano, ou que se inscrevem na última hora, ou que chegam com apenas oito atletas para uma partida. Ainda pecamos por esse amadorismo. Acredito que a CBV esteja pensando na melhoria da competição. Eles estão tentando. Temos de agir, não brigando, mas incentivando a entidade a melhorar isso. Passamos por um momento de dificuldade no país inteiro. É difícil querermos investimento só para o vôlei. Há tanto a melhorar, que às vezes falta apoio para o esporte. Faz parte da crise do país. Mas a questão organizacional dos clubes é fundamental. Eles têm de ser mais profissionais, como vejo aqui. Estamos bem atrás.