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Coluna - Seleção Brasileira - 20 de abril de 2019

Reflexão sobre o momento da Seleção é necessária


O sonho de todo atleta é defender a seleção nacional do seu país, certo? Talvez tenha sido, mas não é mais o que parece. Pelo menos neste momento da Seleção Brasileira feminina de vôlei.

É alarmante a quantidade de pedidos de dispensa. Ainda mais em um importante ano pré-olímpico. Na quinta-feira à noite, José Roberto Guimarães anunciou uma lista com 13 nomes para iniciar os trabalhos em 2019. Em 24 horas, duas jogadoras usaram as redes sociais para dizer que não aceitariam a convocação: as líberos Camila Brait e Tássia. Antes delas, as centrais Thaisa e Adenízia já haviam avisado ao treinador que também não fariam parte da Seleção e por isso não foram incluídas entre as 13. E talvez este número não pare por aí!

Os motivos são os mais variados: problemas de saúde na família, desejo de poupar o físico para estender a carreira, ter mais tempo com a filha. Todos eles legítimos, na minha ótica. Mostram com clareza quais são as prioridades de cada uma, deixando nítido que a Seleção está em segundo plano.

Boicote? Essa foi a palavra que passei a ler na maioria dos comentários sobre o assunto. Eu não a utilizaria, apesar de o significado da palavra “recusa coletiva de trabalho” já ser uma interpretação possível para o cenário. Vejo sim uma discordância de algumas delas sobre decisões de Zé Roberto nos últimos anos, como é claro no caso de Brait, cortada às vésperas das duas últimas Olimpíadas. Podem não concordar também com métodos de treino, contestar um nome ou outro numa convocação, algo que faz parte do sistema democrático.

Existe também um desgaste natural de Zé, um tricampeão olímpico com 15 anos no cargo. Existe ainda um sério problema com a renovação, uma escassez de novos talentos surgindo na base. E uma importante questão geracional, como citado logo abaixo por um dos ícones do momento mais glorioso do vôlei nacional.

Adenízia foi a primeira a comunicar o pedido (Divulgação FIVB)

A bicampeã olímpica Sheilla, numa entrevista que publiquei no Web Vôlei no início da semana, antes da convocação e das dispensas, disse o seguinte ao ser questionada sobre os resultados abaixo do esperado do Brasil neste ciclo: “Essa geração mais nova, isso não estou falando no vôlei apenas, estou falando na vida, não tem os objetivos muito claros na cabeça, como tinha a nossa geração sempre teve. E não é só no vôlei. Se está bem na profissão, se não está, se vai sair, procurar outros caminhos… Não tem muita paciência, não tem muita resiliência para persistir e continuar. Acho que é isso que tem acontecido. A impressão que eu tenho, estando de fora em 2017 e 2018, acho que falta comprometimento da geração mais nova. Podem achar ruim de eu estar falando isso, mas é verdade. Geração que veio meio avoada. Acho que isso tem de mudar. Tudo o que faz tem de fazer com muito amor e dar muito valor para o lugar que está. E está faltando isso”.

É uma declaração forte e merece sim uma reflexão. Como todo o momento vivido pela Seleção também. Não dá para tratar tudo isso como algo normal ou corriqueiro.

Por Daniel Bortoletto, publicado inicialmente no LANCE!

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