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Entrevista - 7 de abril de 2019

Um papo com Macris sobre a ótima fase, Seleção, veganismo, ranking, futuro…


Pergunte para os fãs do vôlei sobre o principal destaque da atual Superliga Cimed feminina. Poderiam ser estrangeiras renomadas, destaques da Seleção Brasileira… Mas o nome que será mais lembrado é o da levantadora Macris, do Itambé/Minas.

Aos 30 anos completados no mês de março, a jogadora vive o melhor momento da carreira, apesar de já ter se habituado a ganhar o prêmio de destaque da posição no país ao fim de cada temporada nesta década. Transformou-se em peça-chave na engrenagem de Stefano Lavarini na equipe mineira, campeã estadual, da Copa Brasil e do Sul-Americano na atual temporada. Falta agora a conquista da Superliga, algo que o tradicional clube não alcança desde 2002.

Nesta entrevista ao Web Vôlei, Macris não fica em cima do muro ao contestar o novo ranking para a temporada 2019/2020. Ela foi uma das jogadoras a ganhar o status de “7 pontos”, impossibilitando a manutenção ao lado de Gabi e Natália no próximo ano, já que cada clube só pode ter duas atletas “top” no elenco.

Neste papo com Macris, ela ainda fala sobre Seleção Brasileira, do entrosamento perfeito com Carol Gattaz, do trabalho com Lavarini, dos planos para o futuro e também sobre os benefícios para a carreira ao ser tornar vegana.

Em qual jogadora você se inspira na posição?

Tenho grande admiração pela Fofão e toda a trajetória dela, uma craque de bola. Admiração também pelo estilo de jogo da Fernanda Venturini, que foi um gênio na posição, dentre outras que conheci. Na atualidade, a Nootsara Tomkom, da Tailândia, e Maja Ognjenovic, da Sérvia, que possuem velocidade e ousadia nas jogadas.

Qual você acha ser o tempero especial do Itambé/Minas nesta temporada?

Acho que o tempero especial é a força do conjunto, onde cada um contribui de alguma forma. Atletas e comissão técnica sempre buscando os mesmos objetivos de crescimento, e se unindo dentro e fora de quadra, especialmente nos momentos mais difíceis.

Levantadora em ação pelo Itambé/Minas (Orlando Bento/MTC)

O que você faz no seu tempo livre, quando não está viajando, jogando ou treinando?

Gosto de ficar tranquila em casa com os gatos (adotei 3), ler um livro ou ver algum filme, às vezes vou ao cinema, teatro ou busco maior proximidade da natureza quando possível.

Você apoia o ranking na Superliga Feminina?

Não. Ele pode ter tido seu papel ao longo da história, mas cada vez mais se mostra ineficiente naquilo que se propõe, de trazer um suposto equilíbrio, já que há anos o ranking existia e mesmo assim as equipes finalistas e campeãs eram praticamente as mesmas sempre. Sem contar o impacto causado nas atletas de 7 pontos, que se veem limitadas em suas escolhas, para atuar aqui no Brasil, muitas vezes causando uma necessidade de saída para atuar no exterior. O foco poderia ser muito mais em expandir possibilidades, aumentar investimentos e estruturas nos times para atrair positivamente as jogadoras, do que impor uma situação que as obrigue a ficar em um determinado time por falta de escolhas. Dessa forma, quem sai perdendo é o voleibol brasileiro.

Como recebeu a notícia de que tinha virado jogadora 7 pontos?

Fiquei extremamente surpresa, sem entender o que estava acontecendo, afinal, eu pensava que haviam critérios para alcançar tal pontuação, os quais eu não possuo, como ser campeã olímpica, ou no mínimo ter participado de alguma Olimpíada, ou Campeonato Mundial ou pelo menos ter jogado algum jogo de titular na Seleção principal em algum campeonato internacional, ou ter ido para alguma final de campeonato nacional, coisas que eu nunca fiz até então.

Qual o segredo da “china” com a Carol Gattaz?

Acredito que ter uma atacante com a capacidade e habilidade que ela tem, faz toda a diferença. É uma jogada que exige sintonia fina entre atacante e levantadora, e ela me passa muita confiança para executar essa jogada.

Bola de segurança com Carol Gattaz (Orlando Bento/MTC)

Qual foi o melhor e o pior jogo do Minas na temporada?

Não sei se é possível precisar qual foi o melhor ou o pior jogo de um modo geral. Se formos pelos resultados dos jogos apenas, alguma vitória importante, como a nossa semifinal do Mundial de Clubes, ou final do Sul-Americano, ficam entre os melhores, assim como uma derrota no turno para a equipe do Barueri no campeonato nacional, poderia ser uma das nossas piores atuações, porém, nem sempre os resultados expressam tudo, então fica difícil precisar.

O time não é campeão da Superliga desde 2002? Vocês sentem essa pressão?

Acredito que não. Sabemos que uma história é construída a cada passo, e estamos focando nos passos que podemos dar hoje na história desse clube tão tradicional no voleibol brasileiro. Seja o passado de vitórias ou não, temos que focar na oportunidade e no trabalho a ser feito no presente.

Como é trabalhar com o Lavarini? Qual o diferencial dele? Como ele influencia o seu jogo?

É uma experiência incrível poder trabalhar com o Stefano e ter a possibilidade de contato com essa filosofia italiana, sem eu ter que sair do país para isso. Vejo que ele influenciou meu jogo de forma muito positiva, onde aprendi a desconstruir algumas limitações, trazendo possibilidades de enxergar o jogo de forma diferente. Somando com os aprendizados que tive na escola brasileira, isso é ótimo para o meu crescimento. Ele influencia positivamente o meu jogo, potencializando o que posso oferecer de melhor dentro da minha característica como levantadora, como a velocidade de jogo, além de trazer sempre novos desafios para eu buscar minha evolução como atleta.

Acha que já é hora de jogar no exterior?

Por enquanto prefiro optar por permanecer no país, mas sempre avalio as possibilidades que poderão contribuir para meu crescimento e desenvolvimento.

No duelo com Osasco por vaga na final (Guilherme Cirino/Divulgação)

Acha que chegou sua vez de ser protagonista na Seleção Brasileira?

Independentemente de ser protagonista ou não, minha vontade é ver o voleibol brasileiro crescendo e se fortalecendo. Meu foco é buscar evolução a cada dia e estar preparada para contribuir da melhor maneira possível, sempre que as oportunidades aparecerem.

O que o Minas ainda precisa trabalhar ou melhorar nessa reta final de Superliga?

Talvez nesse curto tempo de reta final, não tenha espaço para inúmeras modificações ou grandes evoluções físicas, técnicas ou táticas. O foco maior talvez seja colocar em prática tudo o que trabalhamos ao longo da temporada, ter lucidez nos momentos difíceis, focar na nossa identidade como equipe e no que podemos oferecer de melhor.

Resuma o atual time do Minas em uma palavra.

Conjunto.

Você já disse em entrevistas que acha que o seu jogo melhorou depois que se tornou vegana. Por que?

De fato, depois do meu despertar para o veganismo, que é um estilo de vida que visa excluir, na medida do possível e do praticável, todo tipo de exploração e crueldade animal, tanto na alimentação (não consumindo seus corpos ou derivados), como na utilização de cosméticos, produtos de limpeza (não utilizando produtos que tenham sido testados em animais e não contenham substâncias de origem animal), também no vestuário, entretenimento e etc, eu realmente tive uma grande melhora em todos os sentidos, fisicamente, mentalmente e espiritualmente.

Tem dificuldade em encontrar alimentos para manter um cardápio variado ou o mercado já supre bem as necessidades dos veganos?

Não tenho dificuldades, afinal, um cardápio variado para mim, é o que já está ao alcance da maioria das pessoas. Cereais, leguminosas, legumes, folhas, vegetais, raízes, tubérculos, castanhas, sementes, frutas e etc.. No reino vegetal, há uma infinidade de opções e possibilidades de combinações para ter todo o aporte nutricional de forma variada e saudável. E quando surge a vontade de algo fora da rotina, encontro facilmente locais que oferecem deliciosas opções veganas de pizza, bolo, hambúrguer, hotdog, brownie, chocolate, sorvete e por aí vai.. A dificuldade mesmo, é saber controlar o apetite com tantas opções saborosas (rs).

Chegou a sentir tontura ou cansaço por conta da opção alimentar?

Não, nunca tive nenhum problema. Pelo contrário, só obtive benefícios. Me sinto muito mais leve após as refeições. Meu intestino que era preso, trabalha maravilhosamente agora. Minha sensação de fadiga nos treinamentos intensos é bem menor. Sinto que minha recuperação após treinos pesados é mais rápida. Minhas dores articulares e inflamações praticamente sumiram. Me sinto mais alegre e disposta de um modo geral. Enfim, só conheci benefícios. Sigo as orientações gerais indicada para todos os indivíduos, ou seja, busco uma alimentação saudável, orientação nutricional com profissionais da área e faço periodicamente exames de rotina.

Macris com um dos vários VivaVôleis do ano (Orlando Bento/MTC)

Quais são as outras jogadoras veganas no vôlei que você conhece?

No Brasil, sei de várias jogadoras atuando hoje que estão buscando diminuir o consumo das coisas de origem animal na alimentação, focando numa dieta mais baseada em vegetais, que inclusive conversam bastante comigo sobre, mas acredito que prefiram não se expôr tanto. Uma jogadora que já está praticando uma alimentação vegetariana estrita, ou seja, sem nada de origem animal, é a Carol, central do Praia Clube. Fora do Brasil já soube de muitas outras jogadoras de vôlei veganas, mas como não conheço pessoalmente, prefiro não citar nomes.

Por Patrícia Trindade

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