Como Evandro “entrou na cabeça” dos adversários
Oposto teve atuação decisiva para desestabilizar rivais
Poucas vezes vi, em um ginásio, um jogador influenciar tanto o psicológico dos rivais como fez Evandro contra o Obras San Juan.
Com maior frequência a partir do terceiro set, o oposto passou a usar todas as artimanhas possíveis para tentar desestabilizar um adversário que vencia por 2 sets a 0 e tinha quatro pontos de vantagem para fechar a partida.
O cubano Herrera, canhoto com muito explosão no ataque do time argentino, era o principal alvo. A cada ponto feito, uma encarada. Depois de o Sada levar um ace do rival, Evandro, que não participa da linha de passe, ergueu os braços, praticamente pedindo: “Saque em mim”. Herrera sacou na direção do oposto brasileiro e mandou a bola para hora.
Mas o cubano não era o único alvo. Evandro, em várias ocasiões, parava em frente à rede, enquanto algum companheiro se preparava para sacar, e olhava fixamente para vários adversários. Procurava que algum deles devolvesse a encarada. E entrasse na batalha psicológica.
O Sada/Cruzeiro virou o terceiro set após salvar um match point. Fechou o quarto também pela diferença mínima. O camisa 8 levou um cartão amarelo da arbitragem (olha que ficou até barato). Mas seguiu com seu jogo no tie-break. Após atacar uma bola pelo fundo e pontuar, fez um gesto de “não” com a cabeça, como se dissesse: “Vocês não vão me parar!”. Depois cravou uma bola quase na linha dos três e alguns jogadores de San Juan pediram fora. Com os ombros, ele respondeu em tom irônico. Também chegou a fazer um gesto com as mãos mostrando a baixa estatura do ótimo levantador Matias Sanchez, que mede apenas 1,65m. Evandro tem 2,10m,
Ele também incentivou companheiros entre os pontos. E me permitam as reticências no lugar dos palavrões para reproduzir os gritos: “Vamos, c…, p…”
No livro “Degrau por Degrau”, a biografia do Serginho Escadinha, me recordo de uma passagem contada pelo Giba, durante um Brasil x Argentina. A Seleção perdia até que ele e o líbero resolveram provocar os adversários e tentar, assim, contagiar o restante do grupo, segundo o ex-camisa 7, apático até então. E de quebra pilhar os rivais. “Vai para cima de um e eu parto para cima do outro”, foi a combinação entre eles. Deu certo, e o Brasil venceu.
No fim do tie-break (13 a 10), Evandro teve câimbras nas panturrilhas e precisou ser substituído ao som de “Evandro guerreiro”, gritado das arquibancadas. E olha que alguns torcedores chegaram a xingá-lo no terceiro set, cobrança raça. Os mais exaltados foram encarados do mesmo jeito dos rivais. Um ponto depois de ter saído, após erro do substituto Luan, Marcelo Mendez promoveu a volta de Evandro. E foi peça-chave na virada histórica.
Ele também foi o primeiro da fila do Sada no cumprimento aos adversários na rede. E conversou com os dois cubanos. Na sequência, Herrera precisou ser contido por companheiros na saída da quadra para não brigar com um torcedor que o xingou. Evandro, ao ver a cena, deixou uma entrevista e chegou para conversar com o cubano. Outros jogadores do Obras San Juan logo o cercaram. Creio que imaginavam que o brasileiro estava provocando Herrera novamente. E ali, se fosse isso, o pau iria quebrar.
– Eu só dizer que era melhor ele sair da quadra. Os dois cubanos são muito bons, falei isso para ambos. Eu precisava fazer algo diferente para tentar desestabilizá-los – revelou o oposto ao Web Vôlei.
Herrera marcou 25 pontos. Evandro fez 23. E mais alguns vários outros com a tática de “entrar” na cabeça dos rivais.
Daniel Bortoletto, em Belo Horizonte
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